Clarissa Tamie Hiwatashi Fujiwara Deveza é nutricionista pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (F...
iA couve-de-bruxelas pertence à família das brássicas. Esta família engloba mais de 4 mil espécies distintas a qual também pertence o brócolis, couve-flor, repolho, couve, nabo, mostarda, agrião e rabanete. A couve-de-bruxelas consiste num vegetal de composição nutricional particular, apresentando compostos bioativos que se destacam quanto à proteção das células contra algumas doenças, como o câncer.
Trata-se de um alimento rico nas vitaminas K e C, ácido fólico, além de ser uma boa fonte de outros nutrientes, incluindo o manganês, vitamina B6, colina, cobre, fósforo e fibras alimentares.
Apresenta em menor proporção ômega-3, na forma de ácido alfa-linonênico. Além de carotenóides, substância que o organismo pode converter em vitamina A, que protege os olhos contra a catarata e degeneração macular. A clorofila, responsável pela pigmentação verde das folhas da couve-de-bruxelas, consiste num adjuvante frente à toxicidade das aflatoxinas, compostos produzidos por fungos.
A vitamina K regula o processo de calcificação dos tecidos, atuando junto a outros nutrientes como o cálcio para manter a boa saúde óssea, enquanto a Vitamina C atua como potente antioxidante e garante um sistema imunológico saudável e processo de cicatrização de tecidos. O ácido fólico (ou vitamina B9) é necessário para a formação dos glóbulos vermelhos e sua deficiência pode causar alguns tipos de anemia e, na saúde feminina, é essencial na gestação para a formação e desenvolvimento do feto.
Além destes nutrientes, a couve de Bruxelas contém numerosos compostos positivos à saúde, dando-se destaque, como alvo de pesquisas, substâncias denominadas glicosinolatos e subprodutos da sua quebra como o isotiocianato. No campo de pesquisa focada nos benefícios das crucíferas, quase a metade dos estudos envolvendo este vegetal versam sobre o potencial efeito em relação ao câncer. Estudos mostraram que o sulforafano, um isotiocianato, que em parte confere as características de sabor e aroma peculiares às brássicas e são potentes agentes anticancerígenos.
O sulforafano está relacionado à redução do risco de certos tipos de câncer, como câncer de mama e fígado em estudos com animais e, com pesquisas in vitro pode influenciar em estágios do desenvolvimento do câncer. Esses efeitos são atribuídos, em parte, pelo fato dos isotiocianatos inibirem e suprimirem a geração de espécies reativas de oxigênio que provocam danos às células. Exercendo uma ação antioxidante, a cascata de resposta ao dano oxidativo pode ser inibida bem como a proliferação das células cancerígenas. Isso se torna especialmente importante, considerando que o estresse oxidativo e danos cumulativos em tecidos é um fator de risco para o desenvolvimento da maioria dos tipos câncer.
Há evidências de que o sulforafano, assim como outros isotiocianatos, como indol-3-carbinol possam operar na resposta inflamatória e proteger o organismo atuando no processo de detoxificação hepático, pela modulação de enzimas de desintoxicação de fase I, dependentes de citocromo P450, quanto de fase II.
A vitamina K pode apresentar um efeito adicional anti-inflamatório, pois atua diretamente na regulação das respostas inflamatórias, o que pode ser interessante para evitar o estado de inflamação.
Surpreendentemente, embora abaixo de algumas reconhecidas fonte como a linhaça, a couve-de-bruxelas apresenta ácidos graxos ômega-3, na forma de ácido alfa-linonênico, presente em vegetais. O ômega-3 figura como uma das substâncias mais bem estabelecidas com ação anti-inflamatória.
A natureza dos isotiocianatos e demais componentes anti-inflamatórios presentes na couve-de-bruxelas, apresenta potencial campo de pesquisa no que tange a condições associadas ao estado de inflamação crônica, como a obesidade e síndrome metabólica, bem como doenças inflamatórias intestinais.
As fibras alimentares presentes na couve-de-bruxelas podem ser adjuvantes para a saúde cardiovascular. Isso ocorre considerando que o consumo de fibras pode auxiliar no controle do colesterol, especificamente o LDL-colesterol, através da ligação e posterior excreção dos ácidos biliares produzidos no fígado que em última instância exige mobilização e redução do colesterol no organismo.
Quantidade diária recomendada de couve-de-bruxelas
Como orientação geral para adultos, recomenda-se incluir uma porção de aproximadamente 1 xícara (chá) de vegetais crucíferos no mínimo 2 a 3 vezes por semana. Para os indivíduos que já almejam esta quantidade, a frequência e a porção podem ser aumentadas e, a couve-de- bruxelas pode ser inclusa variando com os demais vegetais do grupo, brócolis, couve-flor, couve-manteiga e repolho, por exemplo, para 4 a 5 vezes na semana, com tamanho da porção de até 2 xícaras (chá).
Ressalta-se que a necessidade diária de ingestão deve ser avaliada individualmente por um profissional da saúde uma vez que variam dependendo da idade, gênero, nível de atividade física e outros fatores.
Problemas do consumo em excesso de couve-de-bruxelas
Por ser fonte de vitamina K, é importante que indivíduos sob uso de medicamentos que podem interagir com esta vitamina atentem ao consumo da couve-de-bruxelas. Um destes medicamentos consiste na varfarina, que inibe certos fatores de coagulação dependentes de vitamina K. Para evitar influência sobre os mecanismos de coagulação do sangue estes pacientes devem controlar a ingestão de alimentos que contenham vitamina K.
Apesar de não muito bem elucidado o potencial efeito de interferência, alguns estudos sugerem que a presença de glucosinolatos, os mesmos componentes que provêm uma série de benefícios ao organismo, podem interferir na função tireoidiana, atuando como agente goitrogênico pela presença das substâncias tiocianato e goitrina que podem alterar a capacidade da tireóide em absorver o iodo e de sintetizar seus hormônios. Essa preocupação pode ser importante especialmente para indivíduos que consomem não somente a couve de Bruxelas, porém outros alimentos goitrogênicos em grande quantidade nas refeições diariamente e a longo prazo. Para evitar este efeito adverso, alguns pesquisadores indicam o consumo da couve-de-bruxelas cozida em virtude do fato de uma enzima, chamada mirosinase, ter sua atividade interrompida pela exposição ao calor. A enzima mirosinase é que converte o glucosinolato em seus subprodutos e, dessa forma, os agentes goitrogênicos não estariam presentes. A recomendação geral para indivíduos saudáveis, no entanto, é não excluir a couve-de-bruxelas do cardápio frente a seus inúmeros benefícios bem estabelecidos.
Como consumir a couve-de-bruxelas
Na hora da compra, é importante selecionar as couves-de-bruxelas que apresentem textura firme e compacta, bem como folhas de coloração verde vívida. Após a compra, devem ser mantidas sob refrigeração.
Versátil, a couve-de-bruxelas pode ser servida para complementar uma salada atrativa ou mesmo figurar como acompanhamento. Para o preparo das couves-de-bruxelas, orienta-se que sejam bem lavadas em água corrente para remover resíduos que possam estar presentes nas folhas internas. Para cozinhá-la de forma mais uniforme e rápida, recomenda-se cortá-las em pedaços menores e, com o objetivo de melhor preservar as propriedades nutricionais, orienta-se a cocção a vapor de forma a manter a textura crocante.