Acácia Lima é empresária de marketing e comunicação, jornalista e blogueira. Editora de portal de beleza, ama tecnologia...
iComemoramos o dia das crianças há pouco tempo e, pela primeira vez, vi um sentimento genérico abraçar todo mundo, uma saudade de ver fotos, falar das brincadeiras. Não foi dos filhos, nem dos sobrinhos ou netos que falamos. Falamos da nossa própria criança, do nosso passado.
Claro que essa nuvem nostálgica me pôs a pensar. Lembrei daquela história que diz que precisamos de testemunhas que acompanhem nosso caminho, que nos certifiquem da verdade de nossas recordações e nos ajudem a validá-las. Dizem, também, que as melhores testemunhas são nossos irmãos e, depois, o amor que encontramos.
As perguntas que me fiz foram: quanto mudei nesses anos todos, que alegrias senti? Que alegrias causei? Por quê? Como fazer para repetir, garantir, eternizar?
Muita gente diz que o homem muda pelo amor ou pela dor. Eu discordo: o amor nos torna mais doces enquanto ele vive em nós. É fácil ser "bonzinho" enquanto se está feliz, quero ver alguém desiludido ser gentil ou compreensivo. E quanto à dor, bom, essa é bem egoísta. Quem sofre só enxerga o próprio umbigo. Na melhor das hipóteses, quando a dor passa, a gente fica um pouco mais solidário, entende melhor quando o outro chora, mas é só. Se a dor for esquecida, então... tudo volta ao que era antes.
Na minha modestíssima opinião, a única fonte de transformação efetiva e profunda é a consciência. Por isso, acho que tanto faz a fase em que vivemos: a ficha pode cair sempre que houver o desejo consciente de enxergar, processar, compreender, mergulhar e, sim, mudar para ser feliz.
São 5 as fases que todo mundo passa depois de um sofrimento: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Das 5, a que mais me impressiona é a barganha. Sempre pensamos que "talvez se eu agir desse ou daquele jeito, seja possível reverter a situação". O famoso "jeitinho". É difícil mesmo dar-se a oportunidade de sair do lugar, procurar a realização agindo diferente, mas é preciso tentar, tentar sem parar até conseguir.
Com o fim da infância e à medida que os anos passam, vamos percebendo que a vida se torna menos tolerante com nossos erros e nos dá cada vez menos tempo para corrigi-los. Quanto mais a gente insiste em bater a cabeça, mais difícil fica disfarçar. Bom. Bom mesmo. Caso contrário, ficaríamos eternamente mulambando por aí.
Mas, voltando ao dia das crianças, é saudável e preciosa a viagem às nossas lembranças. O Budismo chama isso de "retornar ao ponto primordial", o lugar onde encontramos os porquês, as motivações, os desejos genuínos. Essa memória é a única inocência que carregamos na vida, o ponto de arranque.
Ninguém programa tornar-se um adulto chato e sem frescor. Por isso, resgatar sempre a menina, ou o menino, que viu o mundo ficar menor, às vezes maior, diferente e assustador, mas sempre vivo e divertido, é o antídoto mais eficaz contra a chatice da monotonia. A vida era sempre tão alegre, não é? Tão instigante... Perdemos no esconde-esconde? Corre-corre até encontrá-la de novo: 1, 2, 3, já!