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Atualmente, o número de crianças acima do peso causa apreensão: um terço das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos já apresentam sobrepeso ou obesidade, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O que acontece é que muitos pais não percebem quando esse problema começa. "Existem também aqueles que percebem, mas não tomam atitudes para impedir que o sobrepeso se converta em obesidade infantil", considera o endocrinopediatra Felipe Moni Lora, do Hospital Infantil Sabará (SP).
Mas é preciso agir. A obesidade infantil pode levar a diversas consequências de saúde sérias, como o desenvolvimento de doenças de adulto já na infância. Entre elas, diabetes tipo 2, hipertensão, colesterol e triglicérides altos.
"É importante lembrar que essa é a fase de formação do tecido adiposo, então essas crianças já começaram a vida com um desenvolvimento errado do acúmulo de gordura", ressalta a endocrinologista Cristina Blankenburg, do Hospital Santa Luzia (DF).
A especialista também ressalta que a criança fica com essa memória metabólica de excesso de peso, o que faz com que a perda de peso seja ainda mais difícil. Não é à toa que a cada cinco crianças com obesidade infantil, quatro continuarão assim na idade adulta.
Mas detectar os sinais precoces pode evitar tudo isso. Por isso, especialistas enumeraram o que os pais devem observar para entender se a criança pode desenvolver obesidade infantil:
1 - Acúmulo de gordura localizada
Dependendo da fase de crescimento, é normal a criança ter uma barriguinha mais saliente, que será perdida durante o estirão. No entanto, se o pequeno está com muita gordura localizada no abdômen, queixo e outras partes do corpo, vale a pena conversar com o pediatra.
"O médico será capaz de analisar a relação entre peso e altura do seu filho, já que o IMC infantil é calculado de forma diferente do que o dos adultos", explica o endocrinologista Renato Zilli, do Hospital Moriah (SP).
No entanto, saiba que a forma como o corpo acumula gordura é algo particular e varia de família para família. Muitas pessoas têm tendência em ter mais tecido adiposo na barriga, que é uma gordura mais perigosa para a saúde.
2 - Criança bem maior que os amiguinhos
Crianças que são muito mais gordinhas que seus amiguinhos da mesma idade também podem estar acima do peso. Por mais que cada criança seja diferente da outra, elas crescem e ganham peso em um padrão bastante semelhante. Portanto, se seu filho é bem maior do que as outras crianças de sua idade, vale conversar com o pediatra.
"Outra forma de verificar isso é ver se a criança usa roupas muito maiores do que o indicado para sua idade. Se ele tem quatro anos e já está usando o P adulto, por exemplo, é sinal de que pode ter algo errado", considera a educadora física Vera Perino, especialista em obesidade infantil e presidente do Instituto Movere.
3 - Hábitos alimentares errados
Hoje, a maior parte dos casos de obesidade infantil ocorre devido a hábitos de alimentação ruins. "É raro você ver uma criança obesa devido a fatores hormonais, apesar de essa ser uma causa possível", pondera Felipe Lora.
Normalmente, as crianças com obesidade infantil tendem a ter uma alimentação hipercalórica: preferem doces, salgadinhos e refrigerantes, e os pais não limitam esse consumo.
"Isso acontece, principalmente, quando os pequenos entram em contato com esses alimentos na primeira infância", considera o endocrinopediatra Felipe Moni Lora.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, conduzida pelo IBGE, 60,8% das crianças com menos de 2 anos de idade comiam biscoitos, bolachas ou bolo, e 32,3% tomavam refrigerante ou suco artificial.
Saiba mais: A relação entre desnutrição e obesidade infantil
Outro comportamento alimentar que pode chamar atenção é a criança não conseguir esperar o horário das refeições para comer. "Isso pode indicar que a alimentação é composta de alimentos muito calóricos e pobres em fibras, por isso não trazem saciedade", considera Lora.
Além disso, a criança pode estar com uma tendência a "beliscar" muitos alimentos por habito e não por fome, uma atitude que também pode levar à obesidade.
4 - Menor condicionamento físico
Crianças que se cansam de brincar e correr muito rapidamente podem estar demonstrando mais um sinal de alerta para os pais. "De modo geral, criança não se cansa fácil. Isso pode indicar que ela está com peso em excesso, o que dificulta seus movimentos", considera Vera.
Mesmo crianças que ainda não estão com obesidade infantil podem ter esse condicionamento físico menor, o que indica sedentarismo.
"Hoje, as crianças se exercitam cada vez menos, e isso pode ocorrer tanto pela oferta de jogos online, quanto pelo medo dos pais em deixar as crianças brincarem na rua", explica Vera Perino, que trabalha no projeto Núcleo de Atenção Contra Violência em Crianças e Adolescentes Obesos.
No entanto, crianças sedentárias podem ser adultos obesos no futuro, já que elas não estão acostumadas a fazer exercícios e podem acumular gordura quando o metabolismo for menos ativo.
A endocrinologista Cristina ressalta ainda que o problema de falta de resistência física pode ser decorrente da alimentação. "Crianças bem nutridas têm mais energia. O excesso de alimentos ricos em carboidratos, como pães e doces, não é uma nutrição adequada e pode trazer cansaço", explica.
5 - Isolamento social
Por fim, tudo isso pode levar a criança com obesidade a um isolamento social. Afinal, ela não é chamada para compor os times na educação física e, muitas vezes, por ter um tamanho diferente dos demais, pode ser alvo de piadas.
"Nessas situações, a criança começa a se isolar e não quer brincar com os amiguinhos ou ir à escola devido às chacotas e agressões verbais", considera Vera.
Além de ser necessária uma intervenção na escola para que essas brincadeiras cessem, é importante procurar um pediatra e verificar se o sobrepeso da criança não está próximo da obesidade e seguir as orientações do profissional para deixar seu filho mais saudável.