Reumatologista pela Faculdade de Medicina de Itajubá com especialização em reumatologia pelo Hospital do Servidor Públic...
iDe acordo com um estudo apresentado por Paul Emery, professor de Reumatologia da Universidade de Leeds, no Reino Unido, durante o Congresso Anual da Liga Européia Contra o Reumatismo, cerca de 72% das mulheres diagnosticadas com artrite reumatoide sofrem com dores diárias, apesar do fato de 75% delas receberem medicamentos para alívio da dor. Os dados coletados por Emery abrangem mulheres de sete países: Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Estados Unidos e Canadá.
Durante a pesquisa, 27.459 mulheres com idades entre 25 e 65 anos (média de 46 anos) foram recrutadas através de um painel de pesquisas online, dos quais 1.958 foram escolhidas para análise do questionário preenchido, entre 30 de julho e 31 de agosto de 2009. Dentro desta amostragem, 75% tinham sido diagnosticadas com artrite reumatóide há mais de um ano.
A pesquisa evidenciou também o impacto emocional, social e físico da artrite reumatoide na vida destas mulheres. As participantes do estudo relataram que sofrem muito com a doença. Além das dores físicas, foram relatados sentimentos de distanciamento e isolamento. A doença afeta também as relações íntimas: 40% das mulheres solteiras afirmaram que é mais difícil encontrar um parceiro; 22% das entrevistadas divorciadas ou separadas afirmaram que de alguma forma, a artrite reumatóide teve um papel na sua decisão em separar-se de seu parceiro; 68% das mulheres com artrite reumatóide relatou esconder sua dor dos mais próximos e; 67% disseram que estão constantemente à procura de novos tratamentos para amenizar ou acabar com a dor que sentem.
Dados confirmam que a dor física é questão primordial para as mulheres com artrite reumatoide, porém a doença as atinge mais profundamente, afetando seu bem-estar físico, social e emocional. O trabalho destaca a complexidade do tratamento destas pacientes. É um processo que vai além do controle dos sintomas ou do alívio da dor.
A adoção de estratégias de tratamento para reduzir a dor, restabelecer a produtividade no trabalho e para gestão do impacto social da artrite reumatoide é de grande importância no manejo clínico desses pacientes. O estudo aprofundado sobre o impacto negativo da doença e da dor sobre a produtividade laboral das entrevistadas revelou que 71% delas se consideravam menos produtivas por causa da artrite reumatoide. Além disso, em longo prazo, a pesquisa revelou os impactos da artrite reumatóide sobre a vida profissional destas mulheres: 23% das entrevistadas pararam de trabalhar e 17% informaram uma redução na jornada de trabalho.
Família e amigos também sofrem
Outro estudo apresentado, durante o Eular 2010, por Julie Taylor, da Universidade de Qest England, em Bristol, Reino Unido, destacou o sofrimento psíquico de familiares e amigos de pacientes com artrite reumatóide. Taylor e sua equipe de pesquisadores entrevistaram familiares de pacientes com a doença, visando avaliar seus sentimentos no momento em que seus familiares foram diagnosticados, bem como a forma como eles conviveram com o diagnóstico, com o passar do tempo. Após a análise dos dados, os pesquisadores relataram que os familiares de pacientes com artrite reumatóide relataram os seguintes problemas:
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Emocionais: de uma maneira geral, os familiares expressaram uma tristeza imensa e uma perda de significado "no conceito de futuro", tanto em relação a si mesmos, quanto em relação ao familiar doente;
De adaptação: vários entrevistados disseram esperar uma cura para a doença. Mas, após um tempo maior de diagnóstico da doença, os familiares reconheceram que a pessoa afetada, e atém mesmo eles, aceitaram conviver com a artrite, durante toda a vida do paciente;
De enfrentamento: os familiares relataram sentimentos de rejeição, desamparo e ocultação, tanto da condição de saúde do familiar doente, quanto dos impactos que a doença provocou ao relacionamento familiar;
De falta de apoio e informação: a maioria dos entrevistados revelou-se relutante em participar de um grupo de apoio específico sobre a doença, apesar de reconhecerem sua importância.
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Os resultados desta outra pesquisa servem de alerta para os profissionais de saúde. Apenas uma equipe multidisciplinar de atendimento é capaz de suprir todas as necessidades do paciente com artrite reumatoide e sua família.
O diagnóstico das doenças reumáticas pode ter um impacto muito negativo na vida familiar. Muitas associações que lidam com o tema, como a inglesa Arthritis Care (www.arthritiscare.org.uk) e a portuguesa ANDAR (www.andar-reuma.pt) realizam estudos com os familiares onde são relatados comumente sentimentos de desesperança e de descrédito no futuro.
Geralmente, após o diagnóstico da doença, a família não só tem de aprender novas habilidades para prestar cuidados físicos ao paciente, mas também se vê obrigada a ajustar atitudes, emoções, estilo de vida e rotina.
Essas associações e grupo de apoios têm papel relevante no tratamento da artrite reumatoide, pois oferecer apoio e suporte à família do doente crônico é tão importante quanto tratar este paciente. Esta atenção à família também é uma das vertentes do tratamento. Um ambiente familiar mais harmonioso favorece muito o tratamento e o controle da doença crônica.
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