Sou Graduado pela Escola Paulista de Medicina em 1985 e como bacharel em Microbiologia pela Universidade de Kansas nos E...
iVocê sabia que cartilagem não dói? Você não pode sentir dor na cartilagem, pois não possui nervos. Se você tem dor em alguma articulação, é possível que ela seja decorrente de um defeito mais profundo. As dores articulares geralmente acontecem quando este defeito ou falha atinge o osso que sustenta a cartilagem, chamado de osso sub-condral (nome complicado que quer dizer "osso abaixo da cartilagem"). Esse osso tem muitos nervos e dói muito, quem sofreu uma fratura ou mesmo quem já tratou o canal do dente que o diga! Outras estruturas da articulação podem estar afetadas e causar dores, como os ligamentos.
O que se poder fazer para tratar lesões da cartilagem?
O tratamento das lesões de cartilagem é um grande desafio para o ortopedista. As lesões da cartilagem nas articulações podem ser decorrentes de traumatismos, sobrecarga, luxações, alterações anatômicas das articulações ou desequilíbrios musculares. O tratamento inicial das lesões de cartilagem, ou tratamento conservador, na maioria dos casos, tenta reequilibrar as forças musculares que agem na articulação comprometida. Geralmente o tratamento é iniciado com fisioterapia e depois progredido para exercícios de fortalecimento em academia.
Existem inúmeras medicações que podem auxiliar na fase inicial do tratamento, as quais serão decididas pelo médico em sua consulta inicial. Abaixo estão algumas das medicações utilizadas:
- Anti-inflamatórios não-hormonais (AINH): medicações utilizadas em fase inicial para diminuição do processo inflamatório e alívio da dor.- Analgésicos: Geralmente utilizados em conjunto com os AINH para aumentar a potência da medicação na diminuição da dor.
- Diacereína: Produto de origem natural, a diacereína é uma droga de ação lenta para o tratamento das lesões de cartilagem articular. A eficácia da droga é observada entre a 2ª e 4ª semanas de uso, dependendo da severidade da doença. O ciclo de tratamento varia de três a seis meses. Estudos experimentais provaram que a diacereína possui propriedades anti-osteoartrósicas e, moderadamente, atividades analgésicas, antiinflamatórias e antipiréticas. Além disso, estudos recentes indicaram que a diacereína estimula a produção de componentes para produzir e recuperar a cartilagem (colágeno e proteoglicanos).
- Glicosamina e Condroitina: Estas substâncias têm um papel na formação das superfícies articulares, tendões, ligamentos, tecido sinovial, pele, ossos, unhas, válvulas cardíacas e secreção da mucosa do aparelho digestivo, aparelho respiratório e trato urinário. Nos processos de artrose degenerativos devido à ação das enzimas líticas observa-se uma perda do poder de reter água, uma degeneração progressiva da cartilagem e uma deterioração do funcionamento articular. A administração de condroitina produz um restabelecimento do equilíbrio das cartilagens articulares, com a melhora ou desaparecimento das dores. A glicosamina também deve ser administrada, pois, com o comprometimento da permeabilidade, a articulação não consegue absorver as quantidades de glicosamina necessárias para o reestabelecimento das superfícies articulares.
É possível estimular o crescimento de cartilagem sem cirurgia?
Sim, mas geralmente o tratamento com estas medicações deve ser realizado por períodos longos. Quando o tratamento conservador não estabelece a melhora dos sintomas do paciente pode-se optar pelo tratamento cirúrgico da lesão. O único tratamento não cirúrgico que estimula a cartilagem é a terapia PST, que é um tratamento com ondas magnéticas pulsáteis (PST = Pulsed Signal Therapy). O PST é uma forma não invasiva para tratar disfunções como osteoartrose, osteoporose, lesões dos tendões, hérnias de disco, fraturas de stress, e tudo que envolva problemas nos músculos ou articulações. Ele determina o estímulo para as reações de regeneração e estimulação, ou seja, da manutenção e reparo dos tecidos.
Existe tratamento cirúrgico para lesões de cartilagem?
Sim, segue abaixo alguns métodos de tratamento cirúrgico das lesões na cartilagem do joelho:
Desbridamento: desbridar é o ato de remover da ferida o tecido desvitalizado e/ou material estranho do organismo. Essa técnica tenta reestabelecer um leito ósseo sangrante, para que se forme um tecido cicatrizante para reparar a lesão. Na maioria das vezes o tecido formado é uma fibro-cartilagem, que possui uma resistência menor que a cartilagem normal, chamada hialina.
Microfraturas: técnica cirúrgica em que se realiza o desbridamento da lesão condral, porém associado a perfurações do osso subcondral - aquele que fica abaixo da cartilagem -, tentando reestabelecer um leito ósseo sangrante com uma eficiência maior que a do desbridamento somente. Forma-se um tecido que cicatriza e repara a lesão, sendo, na maioria das vezes, formada a fibro-cartilagem.
Transplante Autólogo de Condrócitos: técnica cirúrgica complexa e pouco usada. Porém, quando se opta por essa, ela é realizada em dois tempos, ou em duas cirurgias. No primeiro tempo, coleta-se a cartilagem hialina do joelho, em pequena quantidade. Essa cartilagem será cultivada em laboratório para que os condrócitos se proliferem. Após seis semanas da coleta, realiza-se o segundo procedimento cirúrgico com desbridamento da lesão e abertura da bolsa que envolve os ossos ao redor dessa, formando uma cavidade onde serão injetados os condrócitos cultivados. Após as cirurgias deve-se usar um aparelho motorizado de flexo-extensão do joelho, durante 4 a 6 semanas, 8 horas por dia, para que se estimule a remodelação da lesão. O tecido proliferado é um tecido muito semelhante à cartilagem hialina.
Transplante Autólogo Osteocondral: essa técnica também conhecida como mosaicoplastia ou OATS, e consiste na retirada de cilindros osteocondrais de 15 mm de profundidade de áreas anatômicas do joelho chamadas tróclea ou intercôndilo, sendo transplantadas para o local da lesão cartilaginosa. É uma excelente técnica, onde se consegue o preenchimento da lesão com a própria cartilagem hialina. Esse tratamento não pode ser usado com lesões grandes.
Transplante Osteocondral a Fresco: Técnica experimental no Brasil, já realizada nos Estados Unidos a mais de 30 anos, onde realiza-se transplante de osso e cartilagem de um cadáver humano para o paciente. A técnica é semelhante ao transplante autólogo osteocondral, porém o tecido é retirado do cadáver, não tendo limitação de tamanho para utilização e não tendo morbidade de área doadora. O tecido é coletado do doador e é transplantado em até 4 semanas. Para o transplante é necessário compatibilidade anatômica da área doadora e receptora.
Artroplastia: em casos extremos onde não há como salvar a cartilagem, podemos colocar uma articulação artificial.