Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, tem título de especialista e...
iUma boa noite de sono não é cura apenas para os problemas do dia a dia - não dormir bem pode causar doenças graves e importante alteração no convívio social. Começando do começo: não é o quanto você dorme, mas como você dorme. O sono, independente da duração, deve ser reparador, e a pessoa deve acordar plenamente recuperada do cansaço do dia anterior. Seja essa noite com cinco ou dez horas de sono. Algumas doenças podem causar irregularidade do sono, se manifestando como despertares frequentes ou pesadelos. Hipoglicemia noturna, comum em pacientes que usam remédios para diabetes ou insulina à noite, pode causar pesadelos e agitação no sono. Distúrbios da tireoide, abuso de medicações para indução ou supressão de sono (estas últimas componentes comuns em medicações para redução de peso) também podem alterar o ciclo do sono.
O custo da noite mal dormida não é limitado ao cansaço, perda de libido, irritabilidade e falta de concentração do dia seguinte. Essas consequências são mais conhecidas - inclusive, estudos feitos com médicos residentes no dia após o plantão sugerem que a concentração e os reflexos após uma noite sem dormir ou mal dormida são equiparáveis aos de uma pessoa alcoolizada. Entretanto, após privação de sono reparador por um período maior, outras doenças associadas começam a surgir, como hipertensão arterial, obesidade, arritmias cardíacas e diabetes.
A hipertensão arterial pode ser causada e piorada pelo desenvolvimento de apneia do sono. Isso porque o organismo libera adrenalina como reação de defesa por causa da pouca oxigenação causada pela apneia, contraindo os vasos sanguíneos e obrigando o sangue a correr em uma velocidade maior, levando ao aumento da pressão arterial. Outro problema que está ligado à apneia do sono é a morte súbita cardíaca e não cardíaca. O tratamento da apneia pode curar a hipertensão arterial, e esta está intimamente relacionada à gravidade da apeia (medida pelo numero de episódios de falta de oxigênio no sangue durante a noite).
Arritmias cardíacas, como fibrilação atrial, podem até mesmo desaparecer quando a apneia é tratada. Do contrário, pacientes com apneia e fibrilação atrial precisam de mais remédios para controlar, tem menos sucesso nas ablações por cateter (uma forma de "cauterizar" a região que causa as arritmias) e têm mais sintomas.
Pessoas com obesidade têm mais ronco e mais apneia, e não sabemos qual é causa ou consequência. Obesos tem circunferência do pescoço maior, e a gordura depositada em pontos estratégicos pode dificultar a passagem do ar durante o sono e relaxamento da musculatura da orofaringe. Sendo a obesidade e apneia do sono fatores de risco para doenças cardíacas, a atenção deve ser redobrada nesse grupo.
O diagnóstico da maioria dos distúrbios do sono pode ser feito através da observação de uma noite de sono em laboratório especializado (polissonografia). Hoje existem várias modalidades de tratamento disponíveis, como ventilação não invasiva, exercícios e até cirurgias. O ronco pode causar falta de ar e matar se não for tratado.
Saiba mais: Como controlar a apneia
Também é importante chamar a atenção que a maioria destes problemas reverte com o tratamento. Como uma tentativa inicial, sugerem-se medidas como manter uma regularidade de hora de dormir e despertar, não ficar na cama fora da hora de dormir (para "acostumar" o corpo com a percepção de que cama é igual a dormir, facilitando a chegada do sono), evitar refeições até uma hora antes de dormir e procurar dormir em ambiente silencioso e escuro, com o mínimo de interrupções possível.