Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1991), residência e especial...
iSaúde masculina é como cabeça de bacalhau: todo mundo sabe que existe, mas ninguém nunca viu pois, como os elefantes, homem só se mexe quando sente a morte espreitando. Até então, dar banho no gato é mais importante que ir ao médico. Isso te parece irracional? Pode ser, mas alguns homens são assim, especialistas em negar sintomas até o limite da paciência das parceiras/mães. Só buscam assistência quando obrigados ou quando algo realmente compromete sua vida ou produtividade, sendo os sintomas mais frequentes: irritação, cansaço, insônia noturna e sonolência diurna, desânimo, dificuldade de concentração, queda de libido e ansiedade. Essas queixas geralmente resultam em exames físico e laboratorial normais, o que induz o médico a taxar o problema de "psicológico". Mas o que isso quer dizer? Que o paciente mente? Como compreender essa situação?
Na medicina, poucos mistérios resistem a uma boa entrevista com o paciente e em casos assim, perguntas tipo: "como é seu dia típico? Você gosta do que faz? Está tudo bem na família? Como vai seu casamento?", frequentemente revelam que inconscientemente (ou não), o paciente se sente encurralado numa situação pessoal e/ou profissional insuportável e insolúvel a seus olhos. Essa é a receita perfeita para deflagrar a reação fisiológica que chamamos de estresse, que junto com "virose", compõem 95% dos diagnósticos médicos. Mas não nos enganemos, tanto a virose quanto o estresse são reais e consequentes. Esse artigo visa analisar melhor essa reação tão comum e aconselhar como lidar com ela.
Desvendando o estresse
Já te aconteceu que após tomar um susto, você sente o coração bater forte, a respiração rápida, os músculos tensionados, o raciocínio acelerado? Estresse é isso, uma reação normal de nosso corpo ativada pela sensação de perigo, cujo objetivo é canalizar toda a sua energia para fugir ou lutar até o retorno à segurança, após o que você provavelmente desabará exausto(a), sonolento(a) e mole. Estresse deste tipo, com começo, meio e fim, não causa problemas em pessoas saudáveis. O estresse perigoso é aquele que perdura e isto é possível por que não diferenciamos entre realidade e imaginação. Por exemplo: você já se exaltou ao se imaginar discutindo com alguém? Ou acordou completamente encharcado de um pesadelo? Do mesmo modo, para seu corpo, insegurança profissional difere de um ataque de canibais apenas no fato que dos canibais é mais fácil fugir.
Corpo alterado
Ao mudar seu funcionamento do modo "rotina" para o modo "combate", o estresse altera toda a fisiologia do seu corpo. Mudam as prioridades, o balanço hormonal, a bioquímica. A maior parte de sua energia é canalizada para músculos e cérebro, em detrimento dos sistemas de vigilância, controle e manutenção rotineiros que passam a segundo plano. É por isso que nestas situações é comum observarmos a recidiva do herpes, a descompensação do diabetes e a exacerbação das doenças autoimunes, inflamações e alergias.
Pessoas saudáveis suportam este regime por algum tempo, mas eventualmente começam a apresentar desgaste na forma dos sintomas já mencionados, ou pior, na forma de infarto, AVC, crises hipertensivas ou outros problemas sérios. Mas, se como mencionamos, o paciente frequentemente não tem consciência do estresse, como desarmá-lo?
Controlando o estresse
Durante a consulta, quando o paciente compreende a participação do estreses em seus sintomas, ele se revolta: "E daí? O que faço com isso? Largo meu trabalho? Mato meu chefe? Peço o divórcio? Assalto um banco?". Claro que não. Parafraseando o filósofo: "todo o problema tem uma solução rápida, fácil e... errada" e estes são excelentes exemplos do que não se deve fazer: tomar atitudes afoitas que no médio prazo, apenas exacerbarão o problema. Ademais, se você soubesse a solução, você não estaria estressado(a), correto?
O primeiro passo no manejo do estresse é aceitar que ele existe e te afeta. O segundo é entender sua origem, e isso nem sempre é um processo fácil ou um que o médico seja o mais qualificado a conduzir. Médicos são treinados para encontrar e desarmar problemas e tendem a medicalizar tudo. Talvez aqui esta não seja a perspectiva ideal. Possivelmente será mais eficiente e exitoso delegar para profissionais paramédicos, como psicólogos.
Mas qual o objetivo da busca? Minha perspectiva só te fará sentido se você responder à seguinte pergunta: qual o contrário de estresse? Em meus vários anos de prática, só ouvi duas respostas: "não sei" e "relaxar", ambas hesitantes. Na minha opinião, relaxar não é antônimo de estresse. Várias pessoas estressam exatamente quando impedidas de realizar suas atividades. Eu acredito que o antônimo de estresse é "controle". O estresse é deflagrado quando você é confrontado com uma situação a qual você sente não poder combater ou fugir. Se você sentir que está no controle da situação e não sendo arrastado em sua rabeira, não haverá mais estresse. Na verdade, na minha prática, o simples movimento de começar a buscar a origem do problema com a intenção de conflagrá-la já alivia muito os sintomas. A metáfora comumente utilizada pelos pacientes é "parece que me tiraram 500 quilos das costas". E realmente tiraram.
Por que o tópico principal da coluna de saúde masculina é estresse?
Mas você (e você muito provavelmente é uma mulher), deve estar se perguntando: "se estresse pega tanto homens como mulheres, por que uma coluna dedicada à saúde masculina foca nisto?". É uma pergunta válida.
Ocorre que apesar do estresse acometer ambos os sexos, seu impacto em homens e mulheres não poderia ser mais distinto. Mulheres fazem da prevenção uma rotina, tem mais propensão a seguir orientações médicas e, quando necessário, buscar auxílio. Por isso, conseguem melhores resultados em termos do desarme de situações deletérias com bons reflexos na saúde no médio/longo prazo.
Já homens (com exceções, é claro), primeiro ignoram e/ou negam todos os sinais de que algo não vai bem. Depois, quando já estão comprando passagem para a barca de Caronte, mesmo indo ao médico, tendem a ser mais refratários às orientações oferecidas e apresentam menor aderência.
Assim sendo, a abordagem direta ao homem nem sempre parece ser o método mais eficaz para melhorar suas perspectivas de atingir uma velhice longa e graciosa, mas sim, a educação daquelas que não apenas ouvirão, mas se farão ouvir e obedecer (mesmo que não pareça, eles ouvem).
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É por isso que este foi o tema escolhido. Mal ou bem, é um dos poucos temas que traz os homens ao consultório, é algo que podemos identificar, trabalhar e melhorar antes que os tão bem conhecidos fatores de morbidade e mortalidade masculina como doenças cardiovasculares e afins marquem sua presença de modo fatídico e irreversível.
Aos homens (e falo como membro da seita) cabe lembrar que, como diz a lenda, esconder a cabeça na areia quando ameaçado em nada protege o avestruz.