Não acontece de uma hora para outra. Aos poucos, a pessoa começa a notar que a raiz do dente está visível. E a condição vai progredindo, milímetro a milímetro. O que está acontecendo é um problema bucal conhecido como retração gengival.
"O diagnóstico da retração gengival é feito a partir do aparecimento da raiz do dente à visão. Ela pode começar por vários motivos, entre eles a escovação inadequada, o uso de aparelho ortodôntico de maneira incorreta e fator esquelético, que é quando o maxilar tem um tamanho normal, mas os dentes são tão grandes que não cabem corretamente na boca", explica o professor de periodontia José Eduardo Cezar Sampaio (SP-CD-23964), do Departamento de Diagnóstico e Cirurgia da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), de Araraquara.
A retração gengival também pode ser ocasionada por doença periodontal. A gengivite (inflamação da gengiva) é o estágio inicial da doença. Se não for tratada, pode evoluir para uma doença mais grave, a periodontite. Nesse ponto, o paciente pode observar sangramentos da gengiva e, em casos mais graves, perda do osso que suporta o dente.
Além das doenças periodontais, a escovação incorreta é apontada como fator comum para o aparecimento da retração gengival. Movimentos muito fortes, cerdas duras e excesso de escovação fazem parte do conjunto de práticas prejudiciais à saúde bucal.
"Escovar demais os dentes é um fator que não encorajamos. Defendemos que a pessoa escove os dentes de 3 a 4 vezes por dia", conta José Eduardo, explicando que a higiene bucal dessa forma já fica garantida.
Mestre e doutora em clínica odontológica, a cirurgiã dentista Cristiane Franco Pinto Casamassa (SP-CD-83604) acrescenta que outros fatores favorecem o aparecimento da retração gengival. "Além da escovação inadequada, restaurações desadaptadas e até o apertamento ou ranger dos dentes, o chamado bruxismo, podem causar a retração gengival".
Cristiane destaca ainda a idade como um fator importante. "O problema atinge diversas faixas etárias, mas sua extensão e prevalência aumentam com a idade, pois a gengiva tende a deslocar. Além disso, estudos mostram que mulheres de 20 a 40 anos podem ser mais afetadas", afirma.
Sensibilidade nos dentes
As consequências da retração gengival são significativas, e vão desde um grande incômodo estético até o favorecimento de cáries, a dificuldade de higienização do local e a sensibilidade dentária. "A sensibilidade dental é muito comum em casos de retração gengival e dói bastante", explica José Eduardo.
E para eliminar o problema é preciso consultar um dentista para que ele possa orientar o paciente a não só eliminar hábitos e problemas que podem estar causando a retração, como também avaliar o tratamento mais adequado.
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"Temos procedimentos mais conservadores, como aplicação de produtos dessensibilizantes ou a laserterapia. Mas procedimentos cirúrgicos também podem ser necessários para o recobrimento dessa exposição. Em alguns casos, indicamos restaurações estéticas", comenta Cristiane.
O professor de periodontia José Eduardo comenta que a cirurgia, atualmente, é o procedimento de correção mais comum para o problema da retração gengival. "Técnicas especializadas, através de enxertos, por exemplo, são realizadas com frequência. O procedimento é feito no consultório mesmo".
Ele lembra ainda que, quando a retração gengival é detectada no início, pode não precisar de intervenção em consultório. "Fazendo as técnicas de escovação corretas e corrigindo alguns hábitos equivocados é possível prevenir a piora da situação e o problema estabilizar. Cada caso deve ser analisado de forma individual", ressalta José Eduardo.