A maioria das pessoas que correm já ouviu falar sobre a pisada pronada e que ela pode se tornar um fator de risco para lesões. Porém, um novo estudo mostra que essa crença pode estar errada, já que a pronação é um movimento que ocorre naturalmente durante a corrida.
Neste estudo recentemente publicado online pelo The British Journal of Sports Medicine, os pesquisadores da Aarhus University, na Dinamarca, recrutaram 927 homens e mulheres saudáveis, com faixa etária de 18 a 65 anos, que não corriam, mas tinham intenção de começar. Esta pesquisa difere-se das demais, que foram realizadas com corredores experientes e que já possuem histórico de lesões, o que pode sobrepor uma lesão à outra, dificultando a determinação do fator de risco primário.
Foram utilizados métodos de avaliação elaborados e escalas visuais para determinar o perfil da pisada de cada voluntário e o quanto o mesmo pronava. Em seguida, classificaram os mesmos e os dividiram em grupos: pronação neutra, super pronação, severa super pronação, pouca pronação, muito pouca pronação. Depois deram a todos os voluntários um mesmo modelo de tênis leve e com pisada neutra, um relógio com GPS para marcar a quilometragem percorrida e instruções para relatarem qualquer lesão, que podia ser diagnosticada pelo seu médico pessoal.
Após um ano de corrida e vários quilômetros percorridos na velocidade escolhida pelo voluntário, foram diagnosticadas mais de 300 lesões. Dentre estas, aqueles que super pronaram ou pouco pronaram não foram significativamente mais propensos a se machucarem do que os corredores com pisada neutra.
Entre os voluntários que percorreram mais de 960 quilômetros durante o ano, as taxas de lesões foram um pouco maiores entre os corredores com pisada neutra do que entre os que super pronaram.
Esse estudo sugere que alguns graus de pronação podem, na prática, não ser anormais e não contribuir para lesões. O achado coincide com vários estudos feitos anteriormente que mostram que, quando os corredores escolhem seu tênis baseado no tipo de pé (por exemplo, os que super pronam e utilizam um tênis para diminuir a pronação), eles mantêm ou aumentam a taxa de lesão em relação aos que escolhem o calçado de forma aleatória.
Portanto, os atletas que estão iniciando não precisam se preocupar tanto com a escolha do tênis. Para prevenir lesões é melhor se preocupar com o peso corporal, tipo de treinamento, comportamento, idade e lesões prévias.
Outros pesquisadores concordam, segundo Bryan Heiderscheit,da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, a pronação não é um fator de risco tão relevante e a correção da pronação com tênis é desaconselhável. "Vários atletas que se dizem com pisada super pronada e fazem uso de calçado para corrigi-la, acabam se lesionando do mesmo jeito", nos conta. "Para se escolher um calçado adequado, deve-se levar em consideração o conforto".
*Com a colaboração da fisioterapeuta Evelise Achete