Médica ginecologista especialista em Endoscopia Ginecológica titulada pela FEBRASGO, também professora de Yoga...
iEis uma dúvida que apavora as futuras mamães na reta final da gravidez. Quantas mulheres já tiveram calafrios só de ouvir o diagnóstico de que o bebê estava sentado ainda? A posição correta do feto no instante final da gravidez causa preocupação entre as grávidas, principalmente entre aquelas que querem o parto normal.
Ao nascer, o bebê precisa estar em apresentação cefálica, ou seja, de cabeça para baixo. Essa é a melhor forma, porque assim ele se adapta ao canal de parto, diminuindo os riscos para ele. Qualquer outra forma de apresentação do feto, como a pélvica (quando o bebê está sentado), é considerada uma anomalia e requer mais cuidados durante o pré-natal e na hora do parto.
Quais os riscos do bebê estar sentado?
Um das maiores preocupações é investigar se o feto adotou essa posição por causa de uma anormalidade dele próprio, alguma deformidade do útero, ou da localização da placenta, o que deve ser investigado.
Evitar danos maternos e fetais durante o parto é outro ponto preocupante. Quando o bebê ainda não virou e a data provável do parto se aproxima é preciso já ter conversado com os pais sobre o melhor tipo de parto e o porquê.
Se o feto não está em apresentação cefálica, o risco de danos durante o parto é maior, porque há compressão do cordão umbilical em maior grau. Sabemos que antes do bebê nascer, é através do cordão que ele recebe todo o oxigênio e nutrientes que precisa para se manter vivo. Só depois que nasce é que começa a respirar e se alimentar sozinho.
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Também há preocupação com o maior risco de problemas para a saída dos ombros e principalmente da cabeça do bebê em um parto vaginal. Deve-se evitar, a qualquer custo, a chamada cabeça derradeira, em que o restante do corpinho do bebê sai e a cabeça fica presa. Atualmente, é muito raro que isso aconteça devido ao parto cesárea.
O atraso na saída dos ombros ou da cabeça do bebê está associado à queda nos níveis de oxigênio do sangue do bebê por causa da compressão do cordão, o que pode causar danos irreversíveis a ele e até sua morte. Hoje o parto normal é indicado apenas quando a apresentação fetal é cefálica, o que realmente acontece na maioria dos casos. Já quando a apresentação é outra, deve-se realizar a cesárea.
Quando o bebê vira?
A frequência de apresentação pélvica diminui com o aumento da idade gestacional. É uma ocorrência comum no início da gravidez quando o feto é altamente móvel dentro de um volume relativamente grande de líquido amniótico.
Enquanto 20 a 25% dos fetos com menos de 28 semanas são pélvicos, apenas 7 a 16% são com 32 semanas, e apenas 3 a 4% permanecem pélvicos com nove meses. A versão espontânea (quando ele vira sozinho dentro do útero) pode ocorrer em qualquer momento antes do nascimento, mesmo depois de 40 semanas de gestação. Um estudo científico com exame de ultrassom relatou que a probabilidade de versão espontânea para apresentação cefálica após 36 semanas foi de 25%.
Características que reduzem a probabilidade de versão espontânea incluem pernas estendidas do feto, líquido amniótico diminuído, cordão umbilical curto ou com circulares ao redor do bebê, primeiras gestações e anomalias fetais ou uterinas. Um feto ativo, com volume normal de líquido amniótico adota a apresentação cefálica mais cedo na gestação, porque essa posição é o melhor quanto ao ajuste no espaço intrauterino. Se qualquer uma dessas variáveis é interrompida por condições maternas, fetais ou placentários, em seguida, a apresentação pélvica torna-se mais provável.
Além de parto prematuro, outros fatores parecem influenciar maior ocorrência de apresentação anômala: contorno de dentro do útero alterado por conta de anomalias uterinas (por exemplo, útero bicorno), lesões ocupando espaço (por exemplo, miomas), anomalias placentárias (por exemplo, placenta baixa). Deve-se investigar também anomalias fetais (por exemplo, anencefalia, hidrocefalia). É importante lembrar que quem teve um parto com apresentação pélvica anterior, tem mais chance de que o segundo também seja.
Nos Estados Unidos, o parto cesárea para apresentação pélvica passou de 12% em 1970 para 87% em 2001. Aumentos semelhantes foram relatados em todo o mundo. Esta mudança na prática clínica foi em grande parte devido a evidências de importantes estudos científicos, que mostravam que uma política de cesariana planejada para apresentação pélvica em gestações de termo foi associada a uma grande diminuição da mortalidade e outros problemas neonatais para os bebês, com apenas um modesto aumento nos problemas maternos relacionados a cirurgia, em comparação com uma política de parto vaginal.
Por fim, acredito que o mais importante é que a via de parto seja pauta frequente em todas as consultas de pré-natal, desde a primeira. Para que o casal, ao final, sinta segurança na escolha que muitas vezes a obstetra terá que fazer, em algumas situações, em caráter de emergência.