Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
iA diferença muitas vezes é vista como uma vilã causadora de conflitos, normalmente isso acontece quando há uma disputa entre as verdades, necessidades ou desejos, não deixando espaço para uma parceria de fato. Já, em outras vezes, a diferença pode ser vista como solução agregadora e complementar na vida, a famosa metade que faltava. Porém, na verdade, a diferença nada mais é do que a existência da individualidade.
Precisamos entender com mais naturalidade que as pessoas são, pensam e agem diferentes umas das outras, sejam casais, pais e filhos, ou amigos. Aprender a respeitar a existência particular de cada ser humano e seus desejos de vida, sem invadirmos o espaço do outro com nossas verdades é um grande desafio de vida. Pois, temos que admitir, não é nada fácil lidar ou conviver com todas as diferenças. Algumas delas até podem passar tranquilamente em nossas vidas, pois possuem pequeno peso (como gostar de cinema ou de esportes, de praia ou fazenda, doce ou salgado...), mas tanto essas menores quanto outras diferenças maiores, podem nos causar imensas angústias.
Para lidar com a diferença no relacionamento, é preciso ter compreensão, que é uma necessidade, incontestável, para conseguirmos integrar as particularidades de cada um e em qualquer relação. Porém, tenham atenção, é comum as pessoas confundirem compreensão com aceitação e este conflito de termos e uso pode gerar muita frustração.
A compreensão é a busca do entendimento, através do conhecimento e da empatia, podendo até mesmo ser um caminho para uma aceitação, mas não necessariamente, pois compreender não significa concordar ou passar a gostar da diferença do outro, mas conseguir entender para tentar conviver. Já a aceitação traz consigo o sim, o admitir, o consentir ou o se conformar. Aceitar é incluir na vida e optar por incluir uma ideia ou situação, sem antes compreender a si mesmo, o outro e as consequências, poderá estar abrindo a porta de uma grande angustia em sua vida.
Podemos analisar uns exemplos: quando alguém do casal propõe mudar de cidade, seja por questões profissionais ou familiares e o outro deverá abrir mão de sua vida no local. Ou quando um dos membros do casal quer filhos e o outro não quer.
Bom, primeiramente não existe resposta única ou certeira. Mudar ou não de cidade e ter ou não filhos, são questões particulares daquele casal. Antes de tudo, devemos entender cada um deles como indivíduo, com suas histórias, medos e desejos particulares. Lembrar que cresceram e aprenderam por meios diferenciados, logo nem sempre o que faz um feliz, irá fazer o outro, mesmo quando se amam e acreditam estarem fazendo o melhor.
Estas observações nos levam a compreensão e desta forma podem responder primeiramente para si mesmo: porque sim ou porque não e o que pretende fazer com a resposta final. Depois devem responder enquanto casal e seguir a mesma ideia: porque sim, porque não e o que será da vida em conjunto com essas respostas. Para ajudar, com a resposta final, talvez possam incluir um termômetro imaginário e medir consigo mesmo se a resposta é suportável e se ele ou ela se veem presentes naquela escolha. Esta observação pode facilitar na adaptação de vida e reconstrução e ideias.
Vivemos em uma sociedade onde estamos cercados por diversos tabus sociais, culturais e familiares como: "o dever" de casar, ter filhos, ter dinheiro, ter carro, ter o melhor, ser o melhor, porque deve ser assim, ou mesmo porque é por amor. Estes conceitos e pensamentos podem ser perigosos para a felicidade das pessoas, pois são pré-determinados e nos forçam a aceitar ou negar uma ideia sobrepondo ao nosso desejo próprio ou mesmo ao do parceiro.
Quando dizemos sim ou não, simplesmente, baseados em ideias já determinadas pelo outro ou pelo meio acabamos esmagando nosso próprio eu e nos ausentamos daquela relação. Deixamos de existir e de pertencer e passamos a viver como sombras, nos apoiando no movimento e na vida do outro. Normalmente são pessoas que se equilibram em ideias românticas, crendo que o amor será o suficiente para compensar a mudança ou a falta. Muitas vezes estas pessoas, estão perdidas dentro de si e, por isso, ausentes da relação.
Há também o inverso, aqueles que agem de forma egocêntrica, individualista e controladores para garantir que o resultado seja sempre o seu desejo (porque eu quero, ou porque não quero, ou porque eu sei mais, ou porque sei o que é melhor). Pessoas egocêntricas acreditam imensamente em suas verdades e que isso é o melhor para o outro. Assim, não conseguem abrir espaço para a existência e participação do outro, pois isso significaria perda de si, perda de um poder imaginado por ela mesma. Essas situações são muito comuns e causadoras de grandes angústias nas relações, a ausência de si ou do outro, torna a relação vazia e desestruturada.
Então devemos ficar atentos, pois aceitar uma diferença, sem primeiramente compreender a si mesmo e o outro pode abrir uma porta muito delicada e conflituosa. A tendência é que aquele que abriu mão de si cobre algum dia e de alguma forma sua infelicidade e seu sacrifício apontando como obrigação do outro e o responsabilizando por sua frustração. E esta conta pode ter um custo alto de angustias na relação.
Dizer sim ou não para opiniões divergentes, não é a parte mais difícil, mas administrar o impacto do sim ou do não e se manter bem e feliz com o resultado obtido é o ponto que merece atenção para qualquer casal que precisa resolver suas diferenças.
Não há como ter garantia de sucesso algum, aliás, a frustração será sempre inevitável para os casais, visto que também é para nós enquanto indivíduos. Porém, podemos repensar, e talvez até quebrar um tabu, se usarmos a compreensão de si mesmo e do outro para integrarmos as diferenças, as necessidades, os medos e o tempo de cada um.
Assim podemos replanejar os projetos de vida e conduzi-los, em parceria, para um bom resultado, dando a chance para que na verdade cada um no casal possa ficar com meio sim, em vez de um lado ficar sempre com o não.