Gustavo Cardoso Guimarães é cirurgião oncologista e diretor de Urologia do A.C.Camargo Cancer Center. Iniciou sua forma...
i O câncer da próstata representa um sério problema de saúde pública. No Brasil, a doença corresponde a primeira causa de câncer em homens com uma expectativa de 68 mil novos casos em 2014, superando o câncer de mama, o mais comum entre as mulheres. Dentre as formas de tratamento da doença estão a vigilância ativa para casos selecionados, a cirurgia radical (conhecida por prostatectomia radical), que pode ser realizada por via convencional, laparoscópica com ou sem auxilio da robótica ou ainda por via perineal; a radioterapia nas suas diversas formas (externa - IMRT ou conformacional 3D) e braquiterapia; além de terapias ablativas como o HIFU, que é um ultraossom focalizado de alta frequência ou mesmo a crioterapia. A indicação de cada modalidade terapêutica vai depender das condições de saúde dos pacientes, idade, preferências pessoais e deve ser discutido com o médico para escolher a que mais se adéqua ao paciente.
A prostatectomia radical está indicada para pacientes com doença localizada ou localmente avançada, que tenham uma perspectiva de vida maior que 10 a 15 anos e que esteja motivado.
Dentre as possíveis complicações da cirurgia estão a incontinência urinária e a impotência sexual. A incontinência urinária acontece em 3% a 5% dos casos operados, podendo ser maior em pacientes com manipulação prévia da próstata (tratamentos endoscópicos do crescimento benigno da próstata ? HPB), e diabéticos. Esta incontinência pode durar ate um ano, sendo que a maioria dos pacientes se recuperam em até seis meses. Com a introdução de técnicas minimamente invasivas, como a laparoscopia e a robótica, este tempo pode ser um pouco menor, porém sem interferir no índice global de incontinência a médio prazo.
No pós-operatório pode ser realizada a fisioterapia urinária, que auxilia na recuperação da continência urinária, além de encurtar o tempo desta. O uso de forros (fraldas) é necessário enquanto o paciente se recupera. Esta recuperação se dá de forma gradual e é necessário o envolvimento do paciente na realização de exercícios fisioterápicos para sua melhora. É importante que o médico se certifique que não há infecção urinária, pois esta pode retardar a recuperação da continência, bem como aumentar o risco estenose (estreitamento) da anastomose (costura da uretra na bexiga).
A incontinência persistente (maior que seis meses a um ano) vai demandar realização de exames de imagem e urodinâmica (exame funcional da bexiga) para avaliar a causa da incontinência, como insuficiência esfincteriana ou obstrutiva (estenose). Nestes casos, nos quais medidas fisioterápicas e comportamentais não são suficientes, pode ser necessário um novo procedimento cirúrgico para tratar a incontinência, que pode ir até a colocação de um esfíncter artificial implantável.
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