Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1980), onde realizou mestrado em M...
iConsiderada a segunda doença mais frequente na reumatologia, a fibromialgia está presente em cerca de 2% a 8% da população. Pode surgir em qualquer idade e ocorrer em diferentes países, culturas e grupos étnicos. Não existem dados que indiquem que sejam mais comuns em países e culturas mais industrializadas.
Talvez seja uma doença que traz mais sofrimento ao paciente. Dor generalizada é uma queixa principal, frequentemente acompanhada de cansaço, problemas de memória e alterações do sono . Nenhum destes sintomas tem uma "expressão visível" aos colegas de trabalho e familiares. Não existem surtos ou deformidades articulares que possam ser "vistas", os exames laboratoriais são normais. O paciente sofre e não há nada "mensurável" ou demonstrável em correspondência com este sofrimento. O diagnóstico é demorado, geralmente só ocorre após passagem por muitos médicos e realização dos mais diferentes exames, sempre normais.
A fibromialgia pode ser definida com um estado de dor crônica, ou seja, existe o relato de uma dor ou outra "desde sempre". Dor é uma manifestação central da doença, é o que define a doença. Muitos pacientes relatados apresentam dor ou outra durante toda a vida, por exemplo, dor de cabeça , dores e desconforto associados à menstruação e ovulação, dor na articulação tempo-mandibular ("dor ao mastigar" como a queixa mais comum), fadiga crônica, alterações gastrointestinais funcionais (como cólicas, hábitos intestinais irregulares, alternando períodos de obstipação e diarreia ), endometriose , dores nas costas e pescoço, etc.
Atualmente classificamos a fibromialgia como uma dor ou estado de dor de origem central, significando que o paciente desde jovem sofre com dor em diferentes pares do corpo em diferentes momentos da vida. Ou seja, existe um estímulo ou estímulos normais da vida diária que, no sistema nervoso central do paciente com fibromialgia, são amplificados e passam a ser percebidos como estímulos dolorosos. Podemos imaginar que nestes pacientes o limiar de dor ou o sensor que determina quando um estímulo passa a ser doloroso está regulado em um nível mais baixo; Eles apresentam um interruptor, um "on-off" para dormir mais baixo ou mais sensível que os demais. Pacientes com fibromialgia percebem como dor um estímulo de "toque" ou de "pressão", por exemplo, que seria extremamente desconfortável em outra pessoa.
Isto não pode ser controlado pelo paciente sem ajuda, sem tratamento adequado. É fundamental para o paciente e para quem o espera, a compreensão de que não se trata de vontade, de querer ou não, o paciente sofre e precisa de tratamento.
Diante deste estado de dor crônica, de "dolorimento" constante, pesquisas evoluíram para estudos funcionais do cérebro, demonstrando, por exemplo, padrões de ativação em áreas específicas de processamento de dor diante de um estímulo de pressão leve ou calor moderado em pacientes com fibromialgia . Estes e outros estudos descobriram uma base biológica para a fibromialgia e outras síndromes de amplificação da dor.
Compreendendo melhor a doença, entendemos e explicamos melhor os diferentes sintomas. Com isso, conseguimos um melhor tratamento.
A sensibilidade a dor é decorrente de componentes genéticos (vários genes) e ambientais, sendo diferente em cada pessoa (algo como ter ou não ter cócegas com um estímulo). Depende do balanço ou da atividade de diferentes mediadores do sistema nervoso, explicando porque certos medicamentos para o dor que atuam diretamente no sistema central podem ajudar na melhoria de diversos componentes da fibromialgia como dor, sono, humor, fadiga em um indivíduo e serem totalmente sem efeito em outro paciente.
Fatores do meio ambiente podem desencadear doenças, como infecções, traumas, estresse, ou piorar seus sintomas, como inatividade física e má qualidade do sono.
Embora o tratamento da fibromialgia deva ser individualizado, não há dúvida da importância da atividade física regular, do exercício para a melhora dos sintomas. Deve ser iniciado de forma gradual, respeitando os limites do paciente, mas é um elemento fundamental do tratamento (ainda que causa alguma dor/desconforto nos primeiros dias), associado ou não ao tratamento medicamentoso.
Todos os pacientes precisam ser educados com respeito à natureza da fibromialgia, o fato de que não é uma doença progressiva, de que seu tratamento depende da participação ativa do paciente "descobrindo" em parceria com o médico a melhor maneira de reduzir o estresse, de melhorar a qualidade do sono e dos exercícios práticos. O tratamento medicamentoso também deve ser amplamente planejado e as decisões compartilhadas.
A fibromialgia pode, portanto, ser considerada um diagnóstico ou um conjunto de sintomas característicos por um mecanismo de amplificação de origem central com fadiga, alterações de memória, do sono e do humor.
O dia 12 de maio é o Dia Mundial da Fibromialgia , e tem como objetivo despertar a atenção para esta doença de fisiopatologia complexa, diagnóstico e tratamento às vezes tão difícil. É importante conscientizar e esclarecer os pacientes, seus familiares e também a classe médica.
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Referências
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Valim, Valéria et al. Efeitos do exercício físico sobre os níveis séricos de serotonina e seu metabolismo na fibromialgia: um estudo piloto escolhido . Rev. Brás. Reumatol., Dez 2013, vol.53, no.6, p.538-541. ISSN0482-5004