Clínico geral e nutrólogo, diretor da clínica Dr. Roberto Navarro. Formado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz...
iQuem já não escutou que se sua pele está descamando pode ser por causa do ácido úrico? Embora isto possa acontecer em pacientes que tem suas articulações inflamadas pelo excesso desta substância, as consequências do excesso de ácido úrico no nosso organismo são bem mais abrangentes e severas.
Considerado um produto final do metabolismo das purinas (substância encontrada em proteínas animais e vegetais que ingerimos na alimentação), o ácido úrico não nos traz nenhum problema se circular pelo nosso sangue em níveis adequados, até 5,7 mg/dl em mulheres e até 7 mg/dl em homens. Até porque cumprem também determinadas funções específicas.
O problema começa quando seus níveis sanguíneos se elevam exageradamente, condição chamada de hiperuricemia, podendo se acumular em determinadas articulações sendo as mais frequentes as do hálux (dedão do pé), tornozelo, calcanhar e joelho, levando a um quadro inflamatório local bastante doloroso, ficando a região muito inchada, vermelha e com aumento da temperatura da pele da região afetada.
Chamamos esta situação de gota, mais frequente em homens do que em mulheres.
Por que os níveis de ácido úrico podem se elevar no sangue?
Normalmente a quantidade de ácido úrico que circula no sangue é o resultado final do total que foi produzido dentro do corpo (gerado pelo metabolismo das proteínas que ingerimos) menos a quantidade que foi excretada pelos rins.
Isto mesmo, boa parte do ácido úrico que produzimos é jogada fora pela urina e graças à este mecanismo que ele não se acumula dentro do corpo, nos protegendo dos danos causados pelo seu excesso.
Algumas pessoas geneticamente predispostas não conseguem cumprir com eficiência este passo de excretar o ácido úrico pela urina, sendo chamados pela medicina de hipoexcretores.
Já outras pessoas produzem o próprio ácido úrico de maneira exagerada dentro do organismo, sendo classificados como hiperprodutores.
Para completar o problema alguns fatores extras podem atuar nas duas pontas, ou seja, aumentar a produção e diminuir a excreção do ácido úrico, como é o caso da ingestão de bebidas alcoólicas e deficiência de algumas enzimas específicas envolvidas na sua produção e metabolismo.
Qualquer que seja o mecanismo envolvido citado acima, a consequência final será o acúmulo excessivo de ácido úrico em nosso organismo, principalmente nas articulações e no próprio rim, aumentando também a chance de formar cálculos nos rins.
Como corrigir a hiperuricemia?
A princípio, exames laboratoriais específicos devem ser solicitados pelo médico para diagnosticar corretamente esta condição clínica.
Os exames também ajudam a diferenciar se o paciente faz parte do grupo dos hiperprodutores ou do grupo dos hipoexcretores, já que para cada caso existem medicamentos adequados para ajudar a controlar o excesso do ácido úrico no sangue.
Sabe-se também que vários fatores paralelos podem contribuir e muito para a elevação do ácido úrico, como obesidade, hipertensão arterial, síndrome metabólica, consumo excessivo de álcool, doenças renais crônicas e uso de diuréticos, tiazídicos, e salicilatos em baixas doses. Todos estes fatores contribuintes devem ser corrigidos com os tratamentos.
Dieta para prevenir a hiperuricemia
O cuidado na alimentação das pessoas com hiperuricemia deve ser uma prioridade, já que vários alimentos são fontes de purinas que entram na formação do ácido úrico. Os mais contraindicados são:
- Condimentos como caldos de galinha ou carne
- Vísceras como: coração de galinha, rim, fígado, moelas, miolo
- Alimentos embutidos: salsicha, presunto, mortadela, linguiça
- Ovas de peixe e molhos à base de carne
- Peixes: sardinha, anchova, cavala, arenque, manjuba
- Mexilhão- Bebidas alcoólicas: principalmente a cerveja.
Alguns alimentos devem ter seu consumo diminuídos, mas não necessariamente eliminados, como: carnes, peixes, aves, mariscos.
Embora alguns alimentos fontes de proteínas vegetais sempre foram excluídos do cardápio das pessoas com excesso de ácido úrico, estudos recentes concluíram que não são desencadeadores do quadro de Gota, sendo eles: espinafre, couve-flor, cogumelos comestíveis, lentilha, feijões e ervilhas. Ou seja, não precisa eliminá-los do cardápio, mas seu exagero não é prudente.
Outros vilões na alimentação também parecem contribuir para o risco do desenvolvimento da Gota, segundo estudos atuais: a frutose, utilizada pela indústria alimentícia nas bebidas açucaradas como refrigerantes e sucos artificiais.
A gordura saturada em excesso (banha de porco, cortes gordurosos de carne vermelha e de porco, manteiga, bacon, queijos amarelos) e o exagero nos carboidratos refinados (açúcar, pão branco, bolos, bolachas, massas, arroz branco, etc) parecem contribuir para o risco da gota.
Existem alimentos e nutrientes que parecem conferir uma certa proteção contra o desencadeamento da gota e deveriam fazer parte da estratégia alimentar dos pacientes com maior risco:
- Vegetais (legumes e verduras)
- Proteína láctea, do leite
- Vitamina C (sem excesso pelo risco de cálculo renal em altas doses)
- Café e chá (sem exageros pelos riscos do excesso da cafeína)
Como resumo vale ressaltar que os cuidados na alimentação são cruciais para a prevenção ou para o melhor controle da gota, doença ainda muito incidente em nosso meio e bastante debilitante.