Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
iO ser humano tem em sua essência uma busca contínua por prazeres na vida. Estes prazeres envolvem as mais diversas experiências, intensidades e frequências. Fazemos isso ao comer, beber, ler, dançar, namorar e em tantas outras atividades, assim como o sexo. A sexualidade possui uma grande responsabilidade dentro da ideia de ser a fonte de prazer de um individuo, mas é válido recordar que o sexo é somente um dos pontos de busca de prazer que uma pessoa possui e saber separar os prazeres da vida é um ponto fundamental para ter uma vida sexual saudável. E apesar de tantas técnicas existentes, tabus e dicas envolvendo este assunto (sendo muitas delas bem válidas e necessárias), a relação que cada um terá com a atividade sexual em sua vida vai depender de cada pessoa e sua historia.
Fazer sexo é um ato instintivo e natural dos seres humanos e nem sempre estará necessariamente ligado a um relacionamento amoroso. Por isso é importante sempre que este assunto entrar em questão, considerarmos o enfoque abordado. Além dos movimentos e estímulos instintivos que possuímos, o sexo também recebe complemento cultural, social e pessoal e por isso pode ser visto e vivido das mais diferentes formas.
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Assim, falar de sexo nem sempre irá envolver uma relação afetiva amorosa e este ponto normalmente é mais bem aceito ou entendido quando abordado pela via masculina. A diferença hormonal e estrutural do organismo masculino deixa bem claro que o desejo sexual, assim como o ato, não precisa estar relacionado ao amor, por isso é comum ouvirmos um homem diferenciando o sexo por sexo do sexo por amor. Com a mulher, apesar das grandes mudanças nos conceitos sobre igualdades, este ponto ainda é rodeado e fortemente influenciado por tabus românticos e afetivos e no nosso caso, além da diferença de organismo, as mulheres recebem estímulos culturais desde muito cedo redirecionando sua busca de prazer para outras vias, dentre elas um amor fortemente romântico.
Entendendo que a base de nossas primeiras relações surge das experiências que tivemos na infância (desde a fase mais primitiva, enquanto bebês, a todas experiências vivenciadas com mãe, pai, irmão, parentes, amigos, escola...), podemos perceber que as condições do ambiente que nascemos e crescemos, são muitas vezes a base explicativa para maior entendimento de nossa estrutura psíquica e portanto sobre nossos desejos expostos ou reprimidos. E é neste ponto que podemos explicar e muito sobre a sexualidade de cada pessoa: desde sempre o sexo de cada um é algo íntimo e muito pessoal e cada um irá escolher (consciente ou inconscientemente) se irá expor ou reprimir, se irá oferecer a varias pessoas ou a uma só, se será pacato ou ousado...
Normalmente quando falamos de sexo, falamos de desejo e o desejo é uma expressão vital muito importante na vida de qualquer ser humano, sendo base para uma vida construtiva e de bem-estar. Se repararmos bem, um dos motivos que nos leva a nos envolvermos com alguém, sair, namorar, casar é o desejo que temos por aquela pessoa e pelos diversos atributos que ela nos oferece (bom papo, animação, companheirismo, carinho, oportunidades...), assim como também a troca que recebemos em ser desejados.
Então, podemos pensar que uma vida sexual ativa e prazerosa é fundamental para a saúde e construção contínua de uma relação amorosa, pois faz parte da gama de desejos (desejar e ser desejado) que um ser humano precisa para viver bem.
Quando o sexo não está envolvido
Existem sim relações sem desejo sexual, onde suprimos outras necessidades, mas estas são relações de bons companheiros, amigos, onde a intimidade sexual possui limites. Quando falamos de amigos parece tudo certo, mas quando falamos de um casal devemos refletir se esta relação não está necessitando de algum cuidado, pois a falta de desejo, logo a falta de sexo, pode ser indicador de que a relação se tornou rotineira e burocrática, se tornou uma amizade (podendo isso se bom ou não) ou mesmo pode estar apoiada em fantasias platônicas que pode gerar imensa angustia ou frustração quando a realidade se impuser.
Existem muitas razões ou motivos para explicar a ausência de desejo sexual numa relação ou em uma pessoa e estas razões podem ser conscientes ou não, por isso se prender a técnicas ou tabus muitas vezes não ajuda, ao contrario só angustia mais ainda a pessoa ou o casal, por não conseguirem mudar. Um dos motivos é o fato de que às vezes as pessoas redirecionam sua libido para outras áreas de suas vidas, como trabalho, lazer, esporte, estudos e se realizam imensamente com o que fazem e por isso não sentem necessidade de buscar prazer diretamente no sexo. O inverso também é uma das causas bem atuais, o excesso de atividades e cargas horarias intensas geram estresse e esgotam o corpo que prefere dormir ou buscar outras fontes de prazer sem muito esforço, como assistir TV, para se recuperar.
O não desejo pelo parceiro é também um dos motivos que interfere na vida sexual do casal e normalmente está ligado na perda ou falta de intimidade entre estas pessoas. Não expor ou falar sobre seus receios, medos, dúvidas e vergonhas interfere muito no desempenho e esta repressão pode ser gerada tanto porque um dos lados não sabe acolher adequadamente, pois lhe falta tato e carinho, ou mesmo por tabus da própria pessoa que não possui intimidade consigo mesmo.
Também é muito importante relembrar que o desinteresse sexual de um dos parceiros costuma refletir a insegurança no outro parceiro também. Este parceiro tende a sentir-se rejeitado, com a autoestima frágil e a sensação de frustração é grande, podendo até desencadear sintomas depressivos ou mesmo colocar a relação em risco, indo buscar novas fontes de prazer tanto em outras atividades como em outros parceiros, no intuito de entender se ainda desperta desejos, se ainda possui valor, isto é, buscar a própria autoestima.
Uma forma de se ajudar e assim ajudar o casal, é a busca com sua própria intimidade com o próprio corpo, necessidades e desejos. Isso facilita a possibilidade de conhecer e entender o seu prazer, nas mais diferentes formas e intensidades. A falta deste conhecimento sobre si mesmo é limitadora, inclusive para percepção e entendimento do corpo do outro e o sexo é esta troca de intimidades.
Homens e mulheres possuem necessidades e percepções sexuais diferenciadas, logo a falta de desejo também deve ser considerada com esta mesma particularidade entre os gêneros.
A falta de libido masculina normalmente é sublimada, camuflada por ele mesmo, pois os homens carregam uma alta pressão de virilidade, força e poder que deve ser demonstrada e comprovada na sexualidade. Para um homem lidar com fala de libido é tão angustiante que às vezes nem mesmo ele enxerga, pois não aceita tal possibilidade e justificam com outras questões, reprimindo, como defesa emocional, suas confusões e limitações nesta área. Acabam na maioria das vezes se fechando em suas angustias, camuflando em ideias populares e generalizadas e assim lidando com a situação de forma solitária devido à intensidade do constrangimento. Muitas vezes só tendem a buscar ajuda quando estão com dificuldade na ereção. É mais comum os homens sustentarem suas fantasias e desejos em cima do ato sexual (quantidade e formas de transas) e por isso possuem dificuldade para entender seus sentimentos mais íntimos e assim para entender também da pessoa que está com ele.
Já com as mulheres, a falta ou diminuição de libido é cada vez mais assumida e talvez por isso a sensação de ser mais frequente, mas costumam ter impacto bem menor do que quando ocorre com os homens, visto que mesmo com a falta de desejo tendem a continuar a atividade sexual, apesar de menor frequência e desprazer. A mulher carrega uma cultura de servir e ter que atender ao outro, que pode acabar pesando e desestimulando na hora do sexo, podendo levar ao desinteresse.
Nossa cultura prega muitas historias de amores platônicos e abençoados, em que o sexo parece não ser necessário ou fazer falta e é preciso tomar muito cuidado com estas fantasias, pois o organismo humano possui altos índices de desejos sexuais e quando não compreendidos ou reconhecidos, podem gerar reações inversas e muito frustrantes.
Assim, saber qual a origem da dificuldade na vida sexual ajuda (e muito!) o individuo e o casal a lidar de uma forma mais adequada e confortável até encontrarem uma solução. Quanto antes descobrirem o que e quando ocorre, maior a chance de uma vida sexual saudável e prazerosa e um fato muito importante é a união entre o casal, quanto mais parceiros, maior o cuidado e a intimidade e assim aumentam a chance de entendimento, superação e realização sexual.
Entender que o sexo é algo natural é preciso e fundamental para uma boa vida saudável pessoal e do casal. Assumir e perceber que não estão bem neste assunto e buscar ajuda, buscar entender onde estão se desencontrando e adquirir novos conhecimentos, é sinônimo de amor próprio e amor presente no casal. É investir no futuro da relação!