Graduado em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1982), com residência médica em Cirurgia Geral n...
iSim, a incontinência urinária pode atingir pessoas de todas as idades, mas é mais comum em mulheres mais velhas. Na verdade, conforme os anos vão passando elas vão tendo maior perda urinária - como veremos no decorrer deste artigo.
As pessoas jovens podem apresentar infecção urinária em decorrência de doenças clínicas, como diabetes, tosse crônica (doença pulmonar obstrutiva crônica), obesidade, síndrome metabólica, doenças neurológicas que afetam a continência urinária, infecção urinária de repetição, doenças ginecológicas, mudanças hormonais, gravidez com parto malconduzido etc. Por vezes, mais de um diagnóstico pode ser observado no mesmo paciente.
Outras causas estão relacionadas a própria genética (vários familiares acometidos), causando perda mais acentuada das fibras musculares do esfíncter com o envelhecimento e a própria fraqueza das estruturas musculares e ligamentares da pelve feminina. Estas alterações geralmente são acentuadas com o início da menopausa.
Ou seja, nas pacientes mais jovens as estruturas de sustentação pélvica (músculo e ligamentos) geralmente estão integras e somente por fatores predisponentes de lesão o aparelho urinário é que vão apresentar incontinência urinária.
Funcionamento do sistema urinário
Sabe-se clinicamente que o envelhecimento feminino vai causando dano as estruturas anatômicas e funcionais do aparelho urinário, com consequente piora progressiva da continência urinária nas mulheres. Aos 25-29 anos de idade, as mulheres podem apresentar perda urinária em até 25%, aos 50 anos em até 45% e aos 80 anos em até 60%, variando na sua intensidade, frequência para sua ocorrência e gravidade que pode provocar piora da sua qualidade de vida.
Causas da incontinência urinária
Cabe ao médico definir qual a causa da incontinência urinária de cada paciente. Hoje em dia são caracterizadas três formas clínicas de incontinência urinária (IU):
- IU aos esforços: que ocorre aos esforços físicos leves até intensos, a IU por bexiga hiperativa definida como a urgência acompanhada ou não da urge-incontinência, geralmente associada a vontade de urinar constantemente durante o dia e a noite, sem infecção do trato urinário ou outras patologias associadas.
- Bexiga hiperativa causa um repentino desejo miccional, que é difícil de ser controlado. Pode ser observada em até 17% dos pacientes e afeta até 21% das mulheres com mais de 70 anos.
- IU mista: com aspectos clínicos de ambas.
A incontinência urinária afeta a qualidade de vida das pessoas de forma definitiva, nos aspectos sociais, psicológicos, sexuais, imagem física e seu bem-estar, e, portanto, deve ser tratada assim que feito seu diagnóstico.
Da mesma forma, a incidência do prolapso dos órgãos pélvicos (cistocele: prolapso da parede anterior da vagina, retocele: prolapso da parede posterior da vagina, prolapso uterino: queda e exteriorização do útero através da vagina; e enterocele: herniação do intestino pelo períneo e tipos mistos) pode ou não estar associado a infecção urinária e vai aumentando com a idade, tendo risco de 11% aos 80 anos.
Diferenças entre homens e mulheres
Geralmente é mais importante nas mulheres, com início na idade adulta e nos homens se inicia em idade mais avançada pela obstrução da uretra prostática, causada principalmente pela hiperplasia benigna da próstata. Estima-se que após os 60 anos, de 30 a 60% das pessoas apresentem alguma forma de incontinência urinária.
Tratamentos
No caso principalmente dos pacientes jovens, os problemas clínicos específicos detectados devem ser tratados, pois seu controle pode provocar uma melhora miccional seja na sua frequência como intensidade. Dentre as doenças que podem afetar a continência urinária estão: diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, distúrbios do sono, depressão, síndrome metabólica, doenças provocadas pelo acidente vascular cerebral (AVC), esclerose múltipla etc. Afastar a infecção do trato urinário é princípio básico do tratamento inicial. Melhorar condições vaginais pode corroborar para o tratamento da incontinência urinária.
A redução do café pode melhorar os sintomas de urgência e frequência. O exercício moderado pode causar uma baixa nas taxas de incontinência urinária em mulheres de meia idade e nas idosas, assim como a perda de peso, seja com dieta e exercícios ou por cirurgia bariátrica, melhora a incontinência urinária, inclusive entre as diabéticas. Também deve-se reduzir a ingestão de líquidos e parar o fumo.
Baseado na gravidade da perda urinária pode-se introduzir medicamentos e por fim, pode ser indicada uma cirurgia para reparar problemas específicos como prolapsos uretrais e genitais.
Expectativas para o paciente jovem com incontinência urinária
Atualmente temos uma melhor compreensão das causas que determinam a incontinência urinária e, portanto, com exames específicos, tanto funcionais (estudo urodinâmico) como de imagem, os diagnósticos estão sendo melhorados e por isso temos avançado nos tratamentos propostos - seja através de fisioterapia, novas drogas mais específicas ou por propostas de cirurgias minimamente invasivas que podem corrigir alterações causadas no trato urinário inferior.
Novas técnicas cirúrgicas, ainda experimentais, estão sendo testadas e por consequência em futuro recente melhoraremos mais os resultados hoje conquistados. As vezes, associações dos tratamentos podem melhorar os resultados tornando-os mais duradouros. Como tudo na medicina, o melhor tratamento sempre é alcançado com o entendimento das causas que determinaram a doença.