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A vida de uma menina de apenas 7 anos, de São José do Belmonte, em Pernambuco, iria mudar para sempre em uma tarde comum de brincadeiras com a amiga, na calçada perto de casa. Um carro conduzido por um motorista embriagado atingiu as duas garotas: uma delas faleceu a caminho do hospital e a outra perdeu as pernas (um dos membros foi amputado por um erro médico). Estamos falando de Suely Guimarães, 58 anos, três vezes medalhista paralímpica.
Mas, você deve estar se perguntando, qual é o caminho para superar um trauma assim e chegar ao lugar mais alto no pódio das Paralimpíadas? "Meus pais me ensinaram a enfrentar o mundo, me ensinaram a enfrentar a sociedade em que a gente vive", conta ela. E foi dentro de casa que Suely recebeu o incentivo para o esporte: "Minha família me deu muito apoio, por isso eu nadava, corria, fazia lançamento de disco, tudo. Experimentei todos os esportes até me encontrar".
E foi após muito anos de prática esportiva que ela decidiu encarar sua primeira Paralimpíada, em 1992, aos 35 anos, em Barcelona, na Espanha. Lá, ela conquistou o seu primeiro ouro olímpico no lançamento de disco, sua especialidade. Depois, veio o bronze em Atlanta, em 1996, e outro ouro em Atenas, em 2004, ambas medalhas também no lançamento de disco.
Deficiência x Esporte
Com toda a força que Suely demonstra em cada passo de sua trajetória, é até difícil dimensionar todos as adversidades que aparecem no caminho de quem tem alguma deficiência e quer entrar no mundo do esporte. Mas os problemas existem e são muitos ainda.
"Nossos profissionais precisam ser capacitados, precisam entender as diferenças entre as deficiências. As academias não têm acessibilidade, não têm espaço para cadeiras de rodas. Não existe um preparo nem para o auxílio ao atleta na hora de trocar de aparelho. No começo da minha carreira, eu mesma acabava ensinando muitas coisas para os técnicos que treinavam comigo", conta a atleta.
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Ela destaca ainda a importância do esporte para uma pessoa que sofre com algum tipo de deficiência. "Minha maior lição no esporte foi a superação. A prática esportiva ajuda você a se amar, a ter consciência do que quer, ter foco, acreditar em você mesmo", ressalta Suely.
Preconceito no esporte
Ela, que ainda é formada em relações públicas, jornalismo e educação física, não deixa nada abalar sua autoestima. Mas já tentaram fazer isso acontecer. A atleta conta que já foi vítima de olhares de estranhamento por causa de sua cadeira de rodas, porém, a resposta para o preconceito ela traz em sua coleção de vitórias. "Eu tiro de letra. Me sinto bem, me amo, me adoro, vivo de uma maneira normal, então não me sinto deficiente. Eu só sinto a deficiência quando vejo coisas erradas, como a falta de acessibilidade. Deficiente é o sistema, não nós", enfatiza ela. Assinamos embaixo, Suely!