A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, totalizando a média de 50 mil casos anuais relatados, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP. Porém, esses são só os casos que chegam ao conhecimento da polícia, o equivalente a 10% do número real: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a quantidade total de casos de abuso sexual deve chegar a quase 500 mil anualmente.
O que torna esse contexto ainda mais assustador é que, segundo um levantamento recente divulgado pelo Datafolha, encomendado pelo FBSP, um em cada três brasileiros atribuem à vítima a culpa da violência sexual.
Quando questionados sobre a frase "A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada", 30% dos entrevistados, entre homens e mulheres, concordaram com a afirmação. O índice se eleva entre pessoas acima de 35 anos, idosos e pessoas com menor grau de escolaridade. Geograficamente, o maior percentual de participantes que concordaram com a frase vem da região Norte, correspondendo a 38%.
Quanto à frase "Mulheres que se dão ao respeito não são estupradas", 47% dos homens concordaram e 32% das mulheres também, totalizando 37% dos participantes da pesquisa. O índice de pessoas que concordaram foi menor entre jovens e adolescentes com maior nível de escolaridade. A região Sul foi a que apresentou maior discordância da frase, representando 30%.
A pesquisa contou com a participação de 3.625 pessoas a partir dos 16 anos, moradoras de 217 municípios, sendo realizada entre os dias 1º e 5 de agosto. O levantamento possui margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Em texto divulgado junto ao estudo, é apontado que a população ainda considera as mulheres responsáveis por abusos sexuais por não possuírem o comportamento "adequado". "Esse pensamento vem de um discurso socialmente construído, o qual considera que se a mulher é vítima de alguma agressão sexual é porque de alguma forma provocou esta situação", afirma o texto do levantamento.
O levantamento ainda constatou que 85% das mulheres entrevistadas sentem medo de sofrer um estupro, principalmente entre adolescentes e jovens das regiões Norte e Nordeste do país.
Já entre os homens, a taxa cai para 46%. Nove em cada dez moradoras do Nordeste sofrem com medo da violência sexual e, no Norte, esse percentual chega a 87,5%. O estudo afirma que o temor ao estupro afeta a saúde física e psíquica de vítimas diretas, limitando suas decisões e seu pleno potencial de desenvolvimento e de sua liberdade.
O levantamento constatou também que 50% dos entrevistados considera a Polícia Militar despreparada para tais casos e 42% afirmaram o mesmo sobre a Polícia Civil. Para 53% dos entrevistados, as leis brasileiras protegem os estupradores de alguma forma.
"Embora na realidade a delegacia de mulher nem sempre ofereça um lugar acolhedor para as vítimas de violência, ela é o serviço de atendimento mais conhecido para a mulher em caso de violência", relata a pesquisa. Ainda é ressaltado no texto que "levar a sério uma denúncia de estupro não significa condenar sumariamente o suspeito, mas sim acolher a vítima, escutá-la, dar credibilidade a seu relato e buscar, através da devida investigação, a devida elucidação do caso".
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A pesquisa finaliza afirmando que é preciso quebrar os tabus e bloqueios que existem acerca da violência sexual, assim como foi feito com a violência doméstica. Isso porque essas barreiras acabam inviabilizando o tratamento de questões fundamentais em relação ao atendimento das vítimas.