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No dia 23 de novembro de 2002, há apenas 200 metros de casa, a corretora de seguros Danielle Cristiano sofreu um acidente de carro capaz de transformar sua vida. Na época com 22 anos, ela pesava 230 kg e foi por causa do sobrepeso que sobreviveu ao impacto da batida.
A paulista sofreu diversas fraturas pelo corpo: fratura total do fêmur esquerdo com colocação de placa com vários parafusos, fratura do pé esquerdo, fratura do punho direito, múltiplas fraturas (duas delas na tíbia e fíbula) e queimadura de 5º grau no pé direito. Ela passou dois meses no hospital e foi submetida a 10 cirurgias ortopédicas, voltando a andar só dez meses depois.
Porém, o peso, que a ajudou a sobreviver ao acidente, passou a prejudicar sua recuperação. "A gordura me salvou no acidente, mas tinha de perder peso ou minhas pernas não aguentariam", relatou ela. Após quatro anos do ocorrido, Danielle decidiu fazer cirurgia bariátrica e eliminou 90 kg, mas ainda sofre com as limitações do excesso de peso.
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"O triciclo me proporcionou vida"
O acidente trouxe algumas barreiras e medos para ela, que não conseguia mais realizar atividades físicas. Danielle sempre foi apaixonada por esportes e o peso nunca foi um impeditivo para ela, que jogava bola na rua, nadava e andava de bike.
Foi durante uma viagem com a família para a praia, em 2009, que ela conheceu o triciclo e se apaixonou pela atividade. "O triciclo me proporcionou vida novamente, foi uma sensação de liberdade poder sentir o vento correndo pelo meu rosto. Ali, eu senti vida e pude voltar a fazer uma coisa tão simples, como andar de bicicleta", relembrou Danielle.
A corretora comprou um triciclo adaptado e começou a andar por parques na cidade de São Paulo. Porém, montar e desmontar o triciclo, que pesava 40kg, era um desafio para Danielle, que contava com a ajuda do pai no início e depois passou a se virar sozinha. Com a chegada de Niki, um cachorro da raça Golden Retriver, ela ganhou mais motivação para andar de triciclo, inclusive durante provas de corridas de rua.
Corridas
Sua primeira corrida ao lado de Niki aconteceu na 1ª Cãominhada Shop Aricanduva, em São Paulo. No começo, Danielle enfrentou muitas dificuldades nas corridas e precisa parar algumas vezes para descansar, levando cerca de 1h para percorrer 3 km.
Com o tempo, ela foi superando cada obstáculo que surgia, conquistando 5 km, 10 km e até 21 km. No total foram 36 provas completadas, várias medalhas para se orgulhar e um recomeço em sua vida.
"Desde que comecei a correr conheci muitas pessoas, conquistei novos e valiosos amigos, criei uma nova família. Mudei meus hábitos e redescobri um prazer que depois do meu acidente de carro não colocava em prática: a atividade física", comenta Danielle.
Corintiana, umas das corridas mais emocionantes em sua vida foi a Timão Run, na Arena Corinthians. "Eu nunca tinha ido a um estádio de futebol. Foi mágico ver o gramado, a arquibancada e pisar no solo sagrado", relembra ela.
Dificuldades de acesso
Além disso, Danielle fala sobre as dificuldades que enfrenta nas provas de rua, pela falta de estrutura. "Os locais de retirada dos kits não possuem acessibilidade e no dia da prova preciso chegar com duas horas de antecedência para conseguir parar o carro perto da largada. Já fico cansada antes", contou.
A prática de atividades físicas é fundamental para a saúde de pessoas com dificuldades de mobilidade, porém, a falta de incentivo e adequação para esses atletas é um grande obstáculo a ser superado.
Sonhos
Em 2015, Danielle tinha o sonho de participar da tradicional corrida São Silvestre e com muito esforço ela conseguiu realizá-lo. "Desde pequena assistia a prova pela TV e falava para meus pais: 'um dia vou participar dessa festa'", falou ela.
Além disso, ela também realizou o desejo de participar de uma prova internacional, quando recebeu um convite para a corrida Achilles Hope & Possibility NYC, nos Estados Unidos. "Quando se sonha junto, é possível realizar. Graças a Deus, meus pais, irmão, cunhada, amigos, família, meu Dr José Rubens, Iara e Marcio Sobrinho, foi possível realizar o sonho de correr dentro do Central Park", relatou Danielle.
Porém, novas conquistas estão por vir e ela quer fazer mais corridas fora do país. A paulista quer participar da Run Disney, em Orlando, nos Estados Unidos, que conta com diversas provas dentro dos parques da Disney.
Apesar das dificuldades passadas, Danielle nunca pensou em desistir e quer ir longe com sua paixão pela corrida: "Quem sabe futuramente eu também não faça uma maratona inteira".
#Eu Posso: uma causa de inclusão no esporte e do direito a uma vida mais saudável
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