Graduado em medicina pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), com residência médica em Genética Médica pelo Hos...
iNossos genes controlam tudo que o corpo faz, desde o metabolismo até a respiração e a cor dos olhos e dos cabelos. Existe um gene correspondente ou um grupo de genes para cada estado interno e processo corporal. Estudos recentes vêm confirmando que os nutrientes que captamos da nossa alimentação exercem influência sobre o comportamento dos genes - e esta é uma informação poderosa.
Vejamos: genes são segmentos de DNA que alojam códigos para a produção de proteínas no corpo. Diferentes configurações de proteínas resultam em diferentes processos corporais. As proteínas são compostas pelos aminoácidos e nutrientes dos alimentos que ingerimos. As diferentes proteínas compreendem as estruturas e o funcionamento químico das células, que por sua vez criam todas as ações possíveis do corpo.
Portanto, os nutrientes que ingerimos são cruciais para o futuro de nossa saúde. Além dos aminoácidos, nossos corpos requerem açúcares, vitaminas, minerais e gordura. Obviamente, frutas e vegetais (orgânicos, sempre que possível) vão gerar uma gama de nutrientes muito mais saudável para o nosso metabolismo do que alimentos processados.
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Muito além da formação do DNA
Em um estudo realizado com células de levedura, os pesquisadores observaram que o nível de metabolitos presentes nelas estava alterado. Eles descobriram que os nutrientes celulares disponíveis afetaram diretamente o comportamento genético das leveduras. De fato, nove em dez genes foram influenciados pelas mudanças na nutrição e no metabolismo interno. Este estudo nos ajuda a entender o papel da nutrição sobre os genes.
No passado, genes eram vistos estritamente como controladores do processo de transformação dos nutrientes e aminoácidos em proteínas e processos corporais. Agora é evidente que este processo funciona na direção oposta também. A presença de nutrientes pode alterar o comportamento do gene, dependendo da qualidade dos nutrientes.
Resumindo, genes atuam diferentemente, dependendo da qualidade de "suprimentos" aos quais eles têm acesso. Em alguns genes, a diferença de comportamento pode ser dramática. Os resultados do estudo falam de que modo as mudanças na produção genética de proteínas podem afetar como o corpo funciona, cresce e luta contra doenças.
Na prática, como a alimentação influencia na genética?
A interação entre hereditariedade e meio ambiente (natureza e educação) é claramente mais complexa do que os cientistas sabem até hoje. Enquanto o DNA rege o metabolismo, os nutrientes presentes também influenciam o DNA e a expressão gênica. Quem somos, como nos sentimos, e nossa saúde em geral são uma combinação de genes herdados e de fatores ambientais.
Quanto ao que comer para dar aos nossos genes o melhor suprimento de nutrientes, ainda há controvérsias, mas de modo geral parece que a tendência é buscar o que vem sendo chamado de "comida de verdade": carnes com sua gordura natural, vegetais, frutas, nozes e similares. E evitar os carboidratos de alto índice glicêmico, como açúcar e massas.
Estudo realizado em 2011, na Noruega, revelou que uma dieta constituída de 65% de carboidratos numa refeição faz com que uma certa classe de genes trabalhe "horas extras". Segundo os pesquisadores, isso afeta não só os genes que causam inflamação no corpo (objetivo principal do estudo), como também os genes associados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, alguns cânceres, demência e diabetes tipo 2 - todas as grandes doenças relacionadas ao estilo de vida.
Segundo os pesquisadores noruegueses, a dieta saudável não deve ter mais de um terço de carboidratos em cada refeição, caso contrário estimulamos nossos genes a iniciar a atividade que resulta em inflamação do corpo. Esta não é o tipo de inflamação que causa dor ou doença, ao contrário - é um tipo de inflamação que faz seu corpo batalhar o tempo todo, como se fosse uma constante gripe. Sua pele torna-se ligeiramente mais vermelha, seu corpo armazena mais água, você se sente mais quente e sua mente não trabalha na sua melhor performance. Os cientistas denominam essa condição como "inflamação metabólica".
E a Dieta do DNA?
Apesar das recentes evidências sobre a ação do que comemos sobre nossos genes, a tal dieta geneticamente personalizada ainda está nos planos do futuro. Ou seja, falta muito a ser mapeado e identificado - quantos e quais genes e grupos de genes estariam envolvidos no processo metabólico da nutrição, sua estrutura e a forma como interagem com os nutrientes que lhes são fornecidos.
Saiba mais: Conheça tudo sobre a dieta do DNA
Existem alguns tipos de dieta do DNA que estão na moda e que até podem surtir bom efeito na saúde, pois a recomendação nutricional e de hábitos de vida há de colaborar de forma saudável para o indivíduo. Mas do ponto de vista da genômica, ainda estamos dando os primeiros passos para termos uma dieta geneticamente customizada. Existem muitos genes cuja função não conhecemos completamente e que podem inclusive interferir na expressão dos genes analisados nos testes recomendados para a elaboração desse tipo de dieta.
Ainda falta muito para compreendermos como nosso DNA e nossos genes realmente trabalham, isso ainda requer um modelo ainda maior e mais complexo. Os estudos cujos resultados mostram como genes e proteínas podem ser modificados pela nutrição contam para um pequeno número de genes, relativamente a todos os processos e requerimentos do corpo.
O recado mais importante é que existem muitos genes envolvidos no metabolismo. Cada fase de absorção e uso dos nutrientes tem centenas e até milhares de genes envolvidos. O DNA é muito mais complexo do que imaginamos.