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A atenção à saúde bucal deve fazer parte da rotina de cuidados de todas as pessoas, em especial daquelas que têm diabetes. Isso porque a doença causa o aumento da glicemia, e níveis altos de glicose atingem o sistema circulatório, podendo favorecer a proliferação bacteriana na região bucal.
"Há uma forte inter-relação entre o diabetes e a saúde bucal. Uma doença periodontal pode piorar a condição do paciente portador de diabetes, assim como uma glicemia descontrolada pode favorecer o desenvolvimento ou a piora da doença periodontal", explica a cirurgiã-dentista Flávia Aldarvis (CRO 96.147).
A saúde bucal é importante para garantir um maior controle de problemas orais secundários associados ao diabetes. "Os pacientes estão mais sujeitos a uma situação de boca seca, que causa dor e pode evoluir para úlceras, infecções e lesões de cárie", afirma a endocrinologista Mariana Farage (CRM 52.78812-0).
Por existir uma relação próxima entre o diabetes e algumas condições que acometem principalmente a gengiva, os especialistas recomendam que esses pacientes dispensem uma dedicação extra à boca e encarem a visita regular a um dentista como parte de seu tratamento de rotina.
A seguir, esclareça as principais dúvidas sobre a saúde bucal de quem tem diabetes:
Quais doenças bucais são mais frequentes em quem tem diabetes?
Existe uma condição bem característica de pacientes com diabetes: o hálito cetônico (semelhante ao odor de uma maçã passada).
As doenças gengivais são as mais frequentes nos pacientes portadores de diabetes uma vez que estes apresentam maior dificuldade a reagir a processos inflamatórios e infecciosos. Segundo a SOBRAPE (Sociedade Brasileira de Periodontologia), 76% dos pacientes que não realizam um bom controle glicêmico possuem doença periodontal em algum grau de desenvolvimento. (1)
Quem tem diabetes pode tomar os mesmos medicamentos para aliviar dores na boca que os pacientes sem a doença?
"Analgésicos podem ser usados sem problemas por pacientes com diabetes, mas os anti-inflamatórios devem ser evitados, pois atacam os rins, que muitas vezes já estão comprometidos pela doença", esclarece Mariana. O ideal é consultar seu médico se houver necessidade de tomar medicamentos anti-inflamatórios para dor.
No tratamento não-emergencial (ou seja, para fazer limpeza nos dentes, obturações, canais, etc.), o dentista precisa ser especializado em diabetes?
Não é obrigatório. Se o profissional não for especializado especificamente em diabetes, é recomendável que seja um especialista em periodontia, devido aos problemas característicos das gengivas já mencionados.
Em caso de emergência, o paciente com diabetes pode extrair um dente em um pronto-socorro odontológico?
"Se o diabetes estiver compensado (glicose bem controlada, abaixo de 180), ele pode ser tratado como qualquer outro paciente", afirma Mariana.
O endocrinologista precisa autorizar previamente os tratamentos bucais do paciente com diabetes?
O ideal é que sempre haja comunicação entre o endocrinologista e o dentista. "E até mesmo que o endocrinologista encaminhe o paciente com diabetes para o tratamento bucal como parte do tratamento da doença", diz o cirurgião dentista Bruno Gomes (CRO 112304).
É importante que os dois especialistas tenham abertura para discutir os casos que possam levar a procedimentos mais invasivos e de maior complexidade. Caso não haja esse canal de comunicação, uma autorização por escrito do endocrinologista pode ser útil.
Quem tem diabetes precisa fazer exames extras antes de se submeter a um tratamento bucal mais invasivo?
Assim como todos os pacientes, independentemente de suas doenças, quem tem diabetes deve estar com os exames de rotina em dia. Para cirurgias em geral (enxertos, implantes, procedimentos periodontais e extração de dentes), é necessário pedir outros exames como hemograma e hemoglobina glicada.
Referências
1 - http://sobrape.org.br/wp/doencas-periodontais/diabetes-e-doenca-periodontal/