Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde também realizou mestrado em Psiquiatria. Doutor e...
iA primeira descrição detalhada do grupo de quadros que hoje chamamos de "esquizofrenia" foi feita por Kraepelin, por volta do início do século XX. Kraepelin denominou este transtorno de "dementia praecox" ("demência precoce"), porque ocorria uma degeneração do funcionamento mental ("demência"), basicamente em indivíduos jovens ("precoce").
Kraepelin subdividiu o transtorno em vários tipos: simples, hebefrenia, depressiva, circular, agitada, periódica, catatonia, esquizofasia e paranoide.
A demência precoce paranoide se caracterizava essencialmente por delírios e alucinações. Uma forma grave desta apresentação levava a uma "peculiar desintegração da vida psíquica, envolvendo especialmente distúrbios emocionais e da volição". Uma forma mais branda se caracterizava por uma evolução muito lenta de uma "debilidade mental paranoide ou alucinatória", o que "possibilitava ao paciente, por muito tempo, viver uma vida de uma pessoa aparentemente saudável".
Até a penúltima edição do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV-TR), os critérios para o subtipo paranoide de esquizofrenia eram: preocupação com um ou mais delírios ou alucinações auditivas freqüentes e ausência de desorganização da fala, comportamento catatônico ou afetividade embotada ou inadequada (porque estas últimas caracterizavam outros dois subtipos, desorganizado e catatônico).
A demência precoce paranoide se caracterizava essencialmente por delírios e alucinações. Uma forma grave desta apresentação levava a uma "peculiar desintegração da vida psíquica, envolvendo especialmente distúrbios emocionais e da volição". Uma forma mais branda se caracterizava por uma evolução muito lenta de uma "debilidade mental paranoide ou alucinatória", o que "possibilitava ao paciente, por muito tempo, viver uma vida de uma pessoa aparentemente saudável".
Tratamento da esquizofrenia paranoide
O tratamento da esquizofrenia (e, portanto, também do antigo subtipo "paranoide") se baseia principalmente no uso de medicações chamadas de "antipsicóticos", desenvolvidas a partir do início da década de 50 do século XX. A primeira delas foi a clorpromazina.6 Outros antipsicóticos, produzidos nas décadas seguintes e com características semelhantes à clorpromazina foram, por exemplo, o haloperidol, a tioridazina, a periciazina e a flufenazina.
Estas medicações frequentemente causavam efeitos colaterais desagradáveis, principalmente sobre a motricidade (rigidez dos membros e dificuldade de locomoção) e, apesar de melhorarem muito os delírios e as alucinações,outros sintomas como o prejuízo do afeto e da volição frequentemente não melhoravam. Por conseguinte, a indústria farmacêutica passou a pesquisar medicamentos com características vantajosas em relação a estes aspectos. A primeira destas medicações foi a clozapina, sintetizada já no final da década de 50 (mas que só passou a ser comercializada no início da década de 70). Porém, com a clozapina, observaram-se casos de efeitos colaterais graves ou mesmo fatais sobre a produção de células sanguíneas. A droga foi retirada de circulação e só foi reintroduzida no mercado na década de 90, com exigências referentes a controles freqüentes do hemograma.
Mais recentemente, foram desenvolvidas várias medicações que se propõem a ter efeitos benéficos semelhantes à da clozapina (mas sem os mesmos riscos) como, por exemplo, a olanzapina, a risperidona, a paliperidona, a quetiapina e o aripiprazol. Entretanto, em alguns casos, aparentemente, a clozapina tem uma eficácia superior a todas as outras drogas para o tratamento da esquizofrenia.
Apesar das possíveis vantagens das drogas de geração mais recente, há casos em que ainda se usam os antipsicóticos clássicos, basicamente quando não se obtém efeito satisfatório com as mais modernas.
A esquizofrenia pode ser tratada através do uso diário das medicações ou, para algumas drogas, há a possibilidade de administração a cada duas semanas (risperidona) ou mesmo a cada quatro (paliperidona), através de injeções intramusculares.
Além das medicações, a reinserção social das pessoas com esquizofrenia é um aspecto muito importante do tratamento, visto que os sintomas podem afastar o paciente esquizofrênico de seu convívio social e laboral. Esta reinserção envolve aspectos como orientação das famílias, desenvolvimento da capacidade de o paciente cuidar de seu transtorno psiquiátrico, treinamento do repertório social (como comportar-se de modo adequado em situações sociais) e empregos assistidos.
O papel da família é muito importante, no sentido de compreender as limitações cognitivas e afetivas do paciente e estimulá-lo a ir regularmente às consultas, tomar as medicações e participar das atividades de ressocialização. A supervisão do tratamento por parte da família pode ajudar a prevenir recaídas nos surtos e comportamentos que possam trazer riscos para o paciente ou para quem tem contato com ele (agressividade, fugas de casa ou mesmo comportamento suicida).
Referências bibliográficas
1. Kraepelin E. Psychiatrie. Ein Lehrbuch für Studierende und Aerzte. 6. Auflage. Leipzig, Austria: Barth; 1899. English translation by Metoui H, Ayed S: Psychiatry, A Textbook for Students and Physicians, 6th edition. Volumes 1 and 2. Canton, MA: Science History Publications; 1990. (apud Jablensky A, The diagnostic concept of schizophrenia: its history, evolution, and future prospects. Dialogues Clin Neurosci. 2010;12(3):271-87. PMID: 20954425 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181977/ , acessado em 16/10/2017 )
2. Kraepelin E. Psychiatrie. 8 Auflage. Leipzig, Austria: Barth; 1909. English translation and adaptation by Barclay RM, Robertson GM. Dementia Praecox and Paraphrenia. Huntington, NY: Krieger Publishing; 1919. Reprinted 1971. (apud Jablensky A, The diagnostic concept of schizophrenia: its history, evolution, and future prospects. Dialogues Clin Neurosci. 2010;12(3):271-87. PMID: 20954425) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181977/ , acessado em 16/10/2017)
3. Jablensky A. The diagnostic concept of schizophrenia: its history, evolution, and future prospects. Dialogues Clin Neurosci. 2010;12(3):271-87. PMID: 20954425 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181977/ , acessado em 16/10/2017
4. American Psychiatric Association. (2000). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4th ed., text rev.). doi:10.1176/appi.books.9780890423349.
5. American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC.
6. Chlorpromazine (s.d.) em Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Chlorpromazine#History
7. Clozapine. (s.d.). em Wikipedia. https://en.wikipedia.org/wiki/Clozapine#History , acessado em 16/10/2017
8. Clozapina (s.d.), em Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Clozapina , acessado em 16/10/2017
9. Mueser KT, Deavers F, Penn DL, Cassisi JE. Psychosocial treatments for schizophrenia. Annu Rev Clin Psychol. 2013;9:465-97. doi: 10.1146/annurev-clinpsy-050212-185620. Epub 2013 Jan 16.