Médico endocrinologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com residência em Endocrinologia no Instit...
iOlá, leitores do Minha Vida! No bate-papo deste mês iremos tratar de um tema muito interessante e pertinente nos dias de hoje: existe relação entre estresse e ganho de peso? De que forma a nossa rotina, a loucura do dia-a-dia, pode ser a causa do excesso de peso? Para tal, faremos um pouco diferente do habitual: ao invés de um texto corrido vamos usar um formato tipo Q & A (Questions and Answers) (Perguntas e respostas).
Muita gente diz que estresse engorda. No caso de quem está tentando emagrecer, o estresse do dia a dia pode ser mesmo um inimigo?
R: Sem dúvida. O estresse que permeia a nossa vida funciona como um poderoso inimigo na luta contra o excesso de peso. Por diversas razões. Em 1º lugar pelo fato de atuar como um gatilho para episódios de compulsão alimentar em pessoas predispostas. Além disso, pelo fato de estar associado, com frequência a um comportamento beliscador. Em outras palavras, pessoas ansiosas tendem a beliscar mais e com isso, ganham mais peso. Outro ponto é o fato de que o estresse pode prejudicar a adesão a atividade física. A medida que a pessoa fica totalmente focada no trabalho e nas tarefas do cotidiano e passa a entender que o tempo necessário para a prática do exercício seria uma perda de tempo. Vale lembrar ainda que o transtorno de ansiedade generalizada é considerado uma doença associada a obesidade.
De que forma os hormônios do estresse podem influenciar no emagrecimento?
R: O principal hormônio do estresse, o cortisol, quando em excesso, induz um tipo particular de obesidade chamada obesidade centrípeta. Ou seja, um excesso de peso com um padrão de distribuição da gordura corporal no qual há acúmulo preferencial da adiposidade na região do abdome. Região muito relacionada as consequências da obesidade, tais como pré-diabetes e diabetes tipo 2, hipertensão (pressão alta) e dislipidemia (problemas de colesterol). Além disso, o excesso de cortisol pode ocasionar também perda de massa muscular. É o que acontece, por exemplo, em uma doença rara chamada de Síndrome de Cushing, na qual há um tumor produtor de cortisol e que causa esta tal obesidade abdominal e perda de massa muscular importante. Mas cuidado! Não estamos dizendo que o estresse do dia-a-dia provoque nenhum tipo de tumor. Não confunda as coisas. Apenas estamos citando uma doença que tem como base do problema o excesso de cortisol para tentar responder a pergunta da equipe do site.
Podemos dizer que o estresse em cortar alimentos que se gosta pode também influenciar nesse processo?
R: Nesse caso não. Acredito que a ansiedade ou o estresse de se saber que não se pode consumir um ou outro alimento não seja problema. Até porque em uma alimentação saudável não se preconiza a exclusão completa de nenhum alimento. Todos os alimentos podem ser consumidos. Desde que com moderação ou dentro das quantidades calculadas pela nutricionista.
Mas qual intensidade de estresse gera esse impacto no ganho de peso? Que sintomas costumam mostrar que a pessoa está nesse estágio do estresse?
R: Na verdade não há claro isso na literatura. Sabemos apenas que pode haver relação. Mas é muito difícil precisar que intensidade de estresse é capaz de gerar repercussão no paciente. Trata-se provavelmente de algo muito individual. Cada pessoa é capaz de lidar melhor ou pior com o estresse que recebe do meio ambiente.
Com relação a sintomas que devem fazer o paciente procurar ajuda, poderia citar: piora da qualidade do sono, disfunção sexual, cansaço exagerado, irritabilidade, labilidade de humor e, claro, o próprio ganho de peso. Mas vejam que são sintomas muito pouco específicos. Muitas condições médicas podem causar tais queixas nos pacientes. E aqui faço questão de frisar um ponto muito importante: algumas pessoas vem falando muito sobre "fadiga adrenal". Tal doença não existe. Simples assim.
Inclusive este tema foi o da capa da revista da Endocrine Society deste mês. Segundo a reportagem da Revista chamada Endocrine News (principal publicação não técnica da referida entidade, a Sociedade Americana de Endocrinologia), esta condição médica não existe. O que não significa dizer que o paciente não esteja sentido o que refere. Claro que sente sim. Claro que o impacto físico do estresse do dia-a-dia é percebido desta forma pela pessoa e isso merece uma avaliação endocrinológica. Mas, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa? (risos)! Não é à toa que existe hoje um congresso mundial de Overdiagnosis, ou seja, um encontro médico-científico para se discutir o exagero nos diagnósticos. Hoje percebemos uma medicalização exagerada do processo de saúde-doença. É muito mais fácil para ambos, médico e paciente, prescrever uma "pílula mágica" do que transformar os hábitos do paciente. Mas o mais certo é isso: interromper o sedentarismo e buscar uma alimentação balanceada de forma mantida.
E aí? Que tal relaxar um pouquinho então? Quem sabe você não perde uns quilinhos? Vale a sabedoria popular "mente sã em corpo são". Os dois são no fundo no fundo uma coisa só. Corpo e alma. Duas faces da mesma moeda. Sendo assim, controlar o estresse ajuda sim. Gerenciar melhor o estresse pode ajudar.