Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (2004). Concluiu no ano de 2008 a Residência em Clínica...
iA cada dia ouvimos falar mais de pessoas com problemas de tireoide, desde amigos, colegas, parentes, celebridades... Parece que estamos enfrentando uma epidemia. Será? Segundo o Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, os dados mais recentes no Brasil para hipotireoidismo subclínico indicam que a prevalência na população brasileira é de cerca de 4 a 10%. Sabe-se que o hipotireoidismo é 8 vezes mais frequente em mulheres comparado aos homens. Mas... isso é recente? Na verdade não. Se analisarmos os dados mais antigos, desde 1940 os países da América Latina têm se mobilizado para introduzir o uso do sal iodado para o controle do hipotireoidismo e do bócio (crescimento da tireoide).
Quando falamos de problemas na tireoide é impossível deixar de falar dele: o iodo. Sabe-se que a maior causa evitável de deficiência mental no mundo é o chamado Cretinismo Endêmico. Essa doença acontece quando a criança dentro do útero da mãe desenvolve hipotireoidismo congênito, ou seja, de nascença. Na maior parte dos casos o Cretinismo é devido à deficiência de iodo, uma vez que a falta do nutriente impede a tireoide de se desenvolver normalmente - e o resultado é a falta de hormônios (T4 e T3) levando ao retardo mental grave. Além de prevenir o Cretinismo congênito, a iodação do sal é recomendada para evitar o bócio e possivelmente o câncer de tireoide nas suas formas mais agressivas.
Depois que o sal passou a ser iodado e as causas de bócio por deficiência de iodo se reduziram, atualmente a causa mais comum de hipotireoidismo é a tireoidite autoimune crônica, também conhecido como Tireoidite de Hashimoto. Algumas linhas de pesquisa básica têm relacionado de forma bem inicial o excesso de consumo de iodo ao desenvolvimento de problemas autoimunes na tireoide, no entanto, sabe-se que outras causas podem estar envolvidas, como vírus, radiação ionizante e exposição à substâncias nocivas de plásticos, como o bisfenol. Esses fatores podem causar uma confusão no sistema imunológico, que passam a atacar a própria tireoide e prejudicar sua função.
Mas, quando paramos para analisar, será que os problemas na tireoide estão aumentando ou apenas, devido aos avanços da medicina, temos conseguido fazer mais diagnósticos? Até o momento o que as evidências nos indicam é que melhoramos muito ao fazer diagnóstico nas últimas décadas, mas os impactos de novas substâncias como poluentes e derivados de plásticos ainda estão sendo avaliados no comportamento das doenças da tireoide.
E existe algo que possamos fazer? Uma boa dica, até que as pesquisas consigam esclarecer as dúvidas sobre a incidência de problemas na tireoide, é evitar os plásticos que contenham bisfenois. Um deles, o mais conhecido, é o bisfenol A (em inglês Bisphenol A, ou BPA), um composto inorgânico usado juntamente com outras substâncias na fabricação de polímeros de policarbonato e resinas epóxi, materiais que são usados na fabricação de plásticos.
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Sabe-se que o BPA tem propriedades semelhantes a alguns hormônios. Isso gerou grande preocupação internacional, tanto que em 2010 o governo do Canadá declarou esta substância tóxica e, na sequencia, os governos da União Europeia e Estados Unidos baniram o BPA da fabricação de mamadeiras para bebês. No entanto, o BPA ainda está presente como composto integrante nos canos de água e também no revestimento interno das latas de comidas (os enlatados), o que permite dizer que seu uso é quase universal.
Algumas medidas de prevenção à exposição ao bisfenol A podem ser tomadas, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia:
1 - Usar mamadeiras e utensílios de vidro ou BPA free para os bebês
2 - Jamais esquentar no micro-ondas bebidas e alimentos acondicionados no plástico. O bisfenol A é liberado em maiores quantidades quando o plástico é aquecido.
3 - Evitar levar ao freezer alimentos e bebidas acondicionadas no plástico. A liberação do composto também é mais intensa quando há um resfriamento do plástico.
4 - Evitar o consumo de alimentos e bebidas enlatadas, pois o bisfenol é utilizado como resina epóxi no revestimento interno das latas.
5 - Evitar pratos, copos e outros utensílios de plástico. Opte pelo vidro, porcelana e aço inoxidável na hora de armazenar bebidas e alimentos.
6 - Descartar utensílios de plástico lascados ou arranhados. Evite lavá-los com detergentes fortes ou coloca-los na máquina de lavar louças.
7 - Caso utilize embalagens plásticas para acondicionar alimentos ou bebidas, evitar aquelas que tenham os símbolos de reciclagem com os números 3 e 7 no seu interior e na parte posterior das embalagens. Eles indicam que o produto contém ou pode conter o BPA na sua composição.