Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde também realizou mestrado em Psiquiatria. Doutor e...
iTelefones celulares se baseiam numa tecnologia na qual o último elo da rede de comunicação é representado por uma conexão sem fio. O nome "celular" deriva da divisão da rede em áreas geográficas denominadas de "células", cada uma com uma a três estações transceptoras.1
Desde o início da era da radiocomunicação, houve propostas de se fabricar dispositivos portáteis de telefonia. O primeiro modelo de telefone portátil celular que cabia nas mãos foi apresentado por Mitchell e Cooper, da Motorola, em 1973, pesando 2 kg. O primeiro modelo comercializado foi fabricado no Japão, pela Nippon Telegraph and Telephone, em 1979 e, em 1981, aparelhos semelhantes foram lançados nos países nórdicos.
A segunda geração de celulares (2G) foi lançada em 1991 e, após mais dez anos, foi lançada a terceira (3G). Por volta de 2009, observou-se que mesmo as redes 3G poderiam ficar sobrecarregadas pelo uso de alguns aplicativos, o que levou ao lançamento do 4G.2
Segundo o Banco Mundial, havia mais de 7,5 bilhões de assinaturas de celulares em 20163, sendo a China o país que mais assinaturas tinha, ultrapassando 1,3 bilhão. Com base em estatísticas da Organização das Nações Unidas, em 2010, na Índia, mais pessoas tinham acesso a celulares que ao saneamento básico.4
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Numa pesquisa conduzida em 20165, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que o celular estava presente em 92,6% de 69,3 milhões de domicílios pesquisados. Em 97,2% dos domicílios onde se acessou a internet, o celular fora utilizado para este fim, tendo sido o equipamento mais usado com esta finalidade. Em 38,6% das residências, o celular foi o único equipamento usado para acessar a internet.6
A faixa etária que mais tinha utilizado a internet fora a situada entre os 18 e os 24 anos. Das pessoas com 10 anos de idade ou mais, 94,2% que acessaram a Internet o fizeram para enviar ou receber mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos diferentes de e-mail. Assistir a vídeos, programas, séries e filmes foi a motivação de 76,4% deste contingente, seguido por conversas por chamada de voz ou vídeo (73,3%) e enviar ou receber e-mail (69,3%).
É possível ser viciado no celular?
Frequentemente, pais vem ao consultório se queixar de que seus filhos, geralmente crianças ou adolescentes, ficam por tempo demasiado no celular e, com isto, atrapalham-se nos estudos ou mesmo comprometem atividades em família, atividades recreativas e sociais. Mas, será que celulares realmente viciam, no mesmo sentido que se sabe que pode ocorrer com substâncias diversas (?drogas?) ou com o jogo em caça-níqueis e bingos e que possivelmente ocorre também com jogos na internet?
Para que se possa dizer que existe um padrão de uso que possa ser chamado de abuso ou dependência, uma série de critérios deve ser preenchida. Por exemplo, no caso do transtorno de jogo pela internet (um diagnóstico cuja existência é suspeitada e que se encontra em pesquisa), a pessoa deve apresentar uma grande frequência de uso associada a uma preocupação excessiva com estes jogos, sintomas de abstinência quando não joga, envolvimento por tempo cada vez maior, tentativas fracassadas de parar de jogar, perda de interesse por outras atividades, uso excessivo dos jogos apesar dos problemas causados, mentir para pessoas sobre a gravidade do envolvimento com os jogos, jogar para aliviar emoções negativas e ter colocado relacionamentos interpessoais em risco. Pelo menos cinco destes sintomas deverão estar presentes por um período de pelo menos um ano.7
O uso de celulares frequentemente preenche alguns destes critérios e a inclusão do vício em telefone celular chegou a ser proposta para a quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana8, mas acabou não sendo aceita. Isto porque apesar de alguns autores considerarem que há elementos suficientes para se falar num vício em celulares, com características distintas do vício em internet9, há problemas que impedem que se considere "transtorno de uso de celular" como um diagnóstico à parte. Por exemplo, as pesquisas científicas sobre o tema se basearam principalmente em celulares antigos (que só permitiam a comunicação oral ou por mensagens) e, neste meio tempo, o celular adquiriu uma série de outras funções10, desde a navegação pela internet até à possibilidade de orientação por GPS ou mesmo compras e movimentações bancárias.
Além disso, grande parte das pesquisas provêm do relato dos próprios usuários e não de observadores. Neste contexto, há autores que discutem se um diagnóstico de dependência de celular não seria uma medicalização excessiva, que levaria cada comportamento disfuncional a ter um diagnóstico específico11 - há artigos que discutem até a possibilidade de uma dependência de tango argentino. Porém, a possibilidade de que o uso de celulares pode ser problemático não é negada por nenhum pesquisador e, assim, pode haver necessidade de aconselhamento profissional ou uma psicoterapia focada neste comportamento.
Referências
1. Wikipedia Cellular network https://en.wikipedia.org/wiki/Cellular_network acessado em 18/04/2018
2. Wikipedia Mobile phone https://en.wikipedia.org/wiki/Mobile_phone, acessado em 18/04/2018
3. The World Bank Mobile cellular subscriptions https://data.worldbank.org/indicator/IT.CEL.SETS , acessado em 23/04/18
4. United Nations United Nation News Mobile telephons more common than toilets in India, UN report finds https://news.un.org/en/story/2010/04/335332-mobile-telephones-more-common-toilets-india-un-report-finds, acessado em 23/04/18
5. Estatísticas de celulares no Brasil. Telecom - inteligência em telecomunicações http://www.teleco.com.br/ncel.asp, acessado em 17/04/2018
6. Brasil (2018) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Acesso à Internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2016 PNAD contínua ISBN 978-85-240-4445-8, https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101543.pdf, acessado em 17/04/2018
7. American Psychiatric Association Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th edition) Internet gaming disorder Washington, DC
8. Chóliz, M. (2010). Mobile phone addiction: A point of issue. Addiction, 105, 373?374. doi:10.1111/j.1360-0443.2009.02854.x
9. Cell-Phone Addiction: A Review. De-Sola Gutiérrez J, Rodríguez de Fonseca F, Rubio G. Front Psychiatry. 2016 Oct 24;7:175. eCollection 2016. Review. PMID: 27822187 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5076301/, acessado em 23/04/18
10. Billieux J, Philippot P, Schmid C, Maurage P, De Mol J, Van der Linden M. Is Dysfunctional Use of the Mobile Phone a Behavioural Addiction? Confronting Symptom-Based Versus Process-Based Approaches. Clin Psychol Psychother. 2015 Sep-Oct;22(5):460-8. doi: 10.1002/cpp.1910. Epub 2014 Jun 19.
11. Targhetta, R., Nalpas, B., & Perney, P. (2013). Argentine tango: Another behavioral addiction? Journal of Behavioral Addictions 2, 179?186. doi:10.1556/JBA.2.2013.007 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4117296/, acessado em 23/04/18.