Graduado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) com especialização em Cirurgia do Aparelho Digestivo pela BP - a Benef...
iNo ano passado, mais de 100 mil pessoas no Brasil se submeteram à uma cirurgia bariátrica, buscando um método definitivo para tratamento de sua condição de obesidade. Infelizmente mais de 50 mil, ou seja, mais da metade delas, terão algum grau de reganho de peso.
Muitas pessoas decidem fazer a cirurgia estimulados por fotos de "antes e depois" postados em redes sociais, vendo o emagrecimento de parentes e vizinhos operados, e muitas vezes forçados por uma situação de saúde insustentável por causa do peso.
No entanto, é um ledo engano imaginar que após a cirurgia, por mais mutilante que ela possa ser, não seja possível reganhar o peso. Sim, é muito possível. E não há ou houve nada errado com a cirurgia, o problema maior é o paciente.
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Os primeiros 18 meses após a cirurgia são considerados como a fase da "lua de mel", em que o operado geralmente está muito motivado, seguindo à risca as orientações da nutricionista, com medo de sair da linha, com pouco apetite, recebendo diversos elogios sobre sua aparência e entusiasmado com atividade física e a queda progressiva de peso.
Muitos dos pacientes, mesmo sem realizar um protocolo correto, perdem peso gradativamente, e ao subir na balança, mês a mês, veem o ponteiro baixar. Por isso, ele passa a acreditar que seus problemas com a obesidade foram definitivamente resolvidos. Após o período de um ano e meio, o paciente entra no que chamamos de platô, em que seu peso estabiliza e permanece estável por algum tempo. Após certo período, o apetite vai aumentando, o foco vai se perdendo, e é quando a compulsão e os velhos hábitos podem assumir a direção novamente. Assim, o sucesso da cirurgia começa a ser perdido.
Recuperar cerca de 5% a 10% do excesso de peso perdido após 24 meses da cirurgia, de forma lenta e sem repercussão clínica, é considerado normal e não necessita nenhum tratamento. No entanto, se o reganho de peso se inicia ainda no primeiro ano de pós-operatório ou ocorre de forma rápida e associado a maus hábitos, se algumas das morbidades, como diabetes, esteatose (gordura no fígado), apneia do sono, colesterol e triglicerídeos elevados retornam, isto não é normal, deve ser avaliado e tratado.
Há que se entender definitivamente que não importa quantos quilos o paciente possa perder, ele está magro, mas isso não é definitivo. A obesidade é considerada uma doença crônica, incurável, progressiva, fatal, uma doença que causa doenças e que também é gerada por outras doenças. Essa doença tem apenas controle e tratamento.
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É preciso lembrar também que o candidato à uma cirurgia bariátrica já porta uma doença em fase avançada, por isso chamada mórbida e, portanto, de mais difícil tratamento e controle. Não existem soluções simples para um problema tão complexo.
Se o paciente apenas reduziu o estômago (sleeve ou gastrectomia vertical) ou realizou uma cirurgia que, além do estômago, também reduziu o trânsito intestinal, onde se altera a absorção de nutrientes (carboidratos, gordura, mas também proteínas e vitaminas), ou mesmo se realizou qualquer outro método, como balão ou redução por endoscopia, seja qual for o motivo pelo qual o paciente emagreceu, ele tem chances de reganhar o peso. Pode ser um reganho parcial do peso perdido, como também total. Quanto mais agressivo e mutilante o método é, mais peso se perde e menos chance de reganho, mas nenhum método oferece a cura da obesidade.
Pois bem, se você operou uma bariátrica e já ultrapassou mais de 10% de reganho do peso perdido (perdeu 50 kg mas reganhou mais que 5 kg, por exemplo), busque ajuda imediatamente. A primeira coisa a se fazer é retomar seu acompanhamento com a equipe multidisciplinar que te acompanhou após a cirurgia: nutricionista, psicólogos, endocrinologistas, psiquiatras e seu cirurgião bariátrico. Você precisa corrigir tudo que possa estar facilitando seu reganho e talvez precisa de ajuda de medicamentos, terapia, regular sua dieta e hábitos alimentares. Retomar as atividades físicas é uma coisa muito importante. Mas o que mais você poderia fazer?
Existem opções a serem discutidas, dependendo da cirurgia que você realizou:
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1. Re-operação bariátrica
Não são todas as cirurgias que permitem isso, mas converse com seu cirurgião para ver essa possibilidade. Por exemplo: um paciente de Sleeve pode ser convertido para uma cirurgia de Bypass.
2. Plasma de argônio
Método usado para realizar um fechamento da anastomose (emenda cirúrgica entre o estômago e o intestino) aumentando o grau de saciedade do paciente. Esse método só é possível ser feito em quem já operou a cirurgia de Bypass.
3. Gastroplastia endoscópica
Uma redução por endoscopia do estômago já operado. Um método recente no Brasil, com bom resultados no mundo, onde se promove uma costura interna do reservatório gástrico, se isso for possível, ou seja, se tiver um tamanho suficiente. Pode ser realizado em quase todos os tipos de cirurgias bariátricas.
Portanto, caro leitor, se você é um paciente bariátrico e não reganhou peso, se cuide. Mantenha o foco. Mantenha o protocolo. Lembre-se: você está magro, mas é preciso cuidado. Se você está reganhando peso, procure ajuda o quanto antes, por que quanto mais peso reganhar, mais difícil será conseguirmos reverter esse quadro.