Com experiência na cobertura de saúde, especializou-se no segmento de família, com foco em gravidez e maternidade.
Quanto tempo você passa conectado à internet diariamente? Essa pergunta fica cada vez mais difícil de ser respondida. Se antes a internet estava restrita a um computador, agora, ela faz parte do funcionamento de muitas coisas. Celulares, tablets e televisões são a atualidade. No futuro próximo, o conceito de Internet das coisas nos promete conectar todos os aparelhos que usamos, do acordar ao dormir.
Este emaranhado invisível de conexões amarra os adultos e vai moldando a uma nova forma de viver. As crianças, por sua vez, nascem dentro desta teia, e fica cada vez mais difícil postergar o contato com essa realidade e dosar o tempo pelo qual elas passam mergulhadas no oceano de informações e estímulos online.
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De acordo com a psicóloga Carol Braga, que também é mãe, o acesso à internet pelas crianças pequenas não deve representar o momento de paz dos adultos, mas sim ter algum propósito. "Eu não sou contra o acesso, sou contra o excesso de acesso. Quando a criança entra na internet com tempo controlado, pode ser sadio", comenta ela.
Desde muito pequenos, é comum ver e até se encantar com os dedinhos mexendo em telas touch e escolhendo o que querem acessar. No entanto, a psicóloga defende que pelo menos até os 5 anos, os pais precisam controlar cada conteúdo a que elas têm acesso, observando a qualidade e o tipo de conteúdo ao qual a criança está tendo acesso.
Além disso, é importante controlar o tempo que os pequenos passam em frente às telas. Será que ele está deixando de brincar para assistir a outras crianças brincando? Neste processo, a criança vai ganhando a maturidade.
Para descobrir se algo é inadequado para a idade de seu filho, Carol sugere uma reflexão simples: aquelas situações retratadas fazem parte do universo em que a criança está inserida? É importante que ela entre em contato na vida real antes de conhecer pela internet.
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Os estímulos visuais e apelativos que a internet oferece às crianças têm seu lado que é considerado positivo: não é difícil ouvir que as crianças estão cada vez mais espertas. Os conteúdos educativos ensinam conceitos, línguas e valores que só na escola eles demorariam a ter acesso.
No entanto, como num oceano, é impossível controlar para qual lado estes estímulos levarão. Um perigo iminente é o incentivo ao consumismo, já que as propagandas neste ecossistema vêm de forma pouco clara.
Abrir a caixa
Não é de hoje que o YouTube se tornou a nova televisão, em frente ao qual a criança fica assistindo aos seus conteúdos preferidos durante horas. A febre atual são os canais de influenciadores digitais, que são patrocinados por marcas ou recebem produtos e mostram o momento de "abrir a caixa".
Estes vídeos deixam as crianças hipnotizadas, pois abrem uma janela para a criança ver e saber como é brincar com uma infinidade de brinquedos a que ela muitas vezes não tem acesso. De acordo com Carol Braga, isso se torna um problema quando assistir a estes vídeos faz com que a criança passe a inverter a lógica do brincar, que é muito importante para seu desenvolvimento. "A partir do momento em que a criança deixa de brincar com seus próprios brinquedos para apenas assistir, a gente está entrando em alerta", explica a psicóloga infantil.
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Consumismo e internet
Além do risco de abandono da realidade analógica, este tipo de contato precoce pode despertar um sentimento de consumismo nas crianças, que pode ocasionar problemas de autoestima e personalidade.
De acordo com Carol, saber que há situações da vida em que ganhamos e outras em que perdemos é um estímulo natural do ser humano. Para ela, o perigo está quando os pais usam o ganho material com uma moeda de troca. "Se você se comportar, na saída eu dou tal coisa", exemplifica. Este comportamento pode ensinar a criança que os problemas se resolvem com trocas de bens materiais.
Susete Figueiredo de Bacchareti, psicóloga e especialista em psicologia escolar da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por sua vez, acredita que este instinto de consumo por si só é introduzido na criança de acordo com o ambiente em que ela está inserida. "A criança vai a todo tempo vivenciando e se apropriando de certos conceitos que passa a utilizar como verdade. Internet, televisão, tudo vai propiciando pro caminho do consumismo".
Nem é preciso de esforço para lembrar alguns slogans de marcas direcionados às crianças. Isso porque, quando a internet ainda nem havia se popularizado, a televisão já trazia propagandas de brinquedos, parques, restaurantes e estilos de vida direcionados às crianças.
Uma resolução de 2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) proibiu toda a comunicação mercadológica direcionada a crianças. Isto quer dizer que, no Brasil, não pode haver mais publicidade que instigue o consumo com linguagem e personagens infantis, desenhos animados, crianças, trilhas sonoras e outros recursos direcionados a estes públicos.
Esta proibição faz com que as marcas invistam em outras formas de cativar os pequenos consumidores, mesmo que indiretamente. E há diversas formas com que a internet pode contribuir com isso.
É natural que, ao admirar uma pessoa ou personagem, o ser humano queira buscar o mesmo estilo de vida que ele. E buscar o mesmo estilo de vida, muitas vezes, acontece por meio do consumo das mesmas marcas. Esse processo se dá até com adultos, mas as crianças podem estar mais suscetíveis a isto quando não diferenciam o que é publicidade e o que não.
É de se esperar que assistir a um vídeo de alguém abrindo uma caixa de brinquedo e mostrando o que vem dentro pode instigar uma criança a querer este brinquedo. No entanto, outra forma que as marcas encontram para vender e fidelizar as crianças é patrocinando influenciadores que têm este público apenas para que aquilo faça parte de seu estilo de vida.
"Quando você expõe as crianças a esse tipo de contato, é fundamental que os pais conversem", opina Susete. Para ela, uma criança de 3 ou 4 anos não tem maturidade para distinguir o que faz parte do seu mundo e o que é colocado para que seja um objeto de desejo. Por isso, acompanhar a vida digital de seu filho e conversar sobre ela é essencial para que ela faça essas diferenciações.
Caso os pais acreditem que algum conteúdo não é adequado, a conversa ainda é a chave. "Proibir pelo proibir a gente sabe que não funciona. Por isso, há a importância de saber o que a criança está vendo e explicar o por que você está proibindo. Ela tem que compreender que você está fundamentado por alguma coisa", opina.
A psicóloga Carol Braga não acredita que poupar os pequenos do contato com as ofertas de consumo seja o caminho, já que elas fazem parte da realidade em que vivemos. "O mundo é cheio de ofertas. Não temos que controlar o mundo, mas ensinar a administrar essas ofertas", completa.
No entanto, ela acredita que os pais devem estar atentos ao que os filhos têm contato na internet para entender se consideram aquilo saudável ou não. Nesta lógica, impor os limites através de atitudes é o caminho para que a criança se desenvolva de forma adequada.
Segundo ela, essas atitudes vão fazer a criança absorver os valores, muito mais do que com as conversas. Carol exemplifica: se os pais estão assistindo a um programa de adultos, devem pedir para que a criança saia da sala. Na próxima vez em que ela tiver contato com este conteúdo, naturalmente saberá que é inadequado para ela.