Graduado pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Residência médica em Psiquiatria pela Universidade Estadual de...
iVocê que teve depressão ou conhece alguém que teve esse transtorno já ouviu alguma vez essas frases?
"Não vá em psiquiatra porque ele vai dar um antidepressivo que te deixará dependente!"
"Você terá que tomar antidepressivo o resto da vida porque depressão não tem cura!"
Saiba mais: Depressão: sintomas, causas, tratamento e tem cura?
Caso essas frases te lembrem alguma coisa, esse texto é para você. Vamos falar um pouquinho sobre como funciona o tratamento para depressão com o uso de antidepressivos, mas antes de começarmos, quero trazer uma informação muito relevante no tratamento em psiquiatria.
Embora os ANTIDEPRESSIVOS, tenham esse nome (aquele que atenua ou evita depressão), esses tratam inúmeras condições psiquiátricas, não somente a depressão. Os antidepressivos tratam também Transtornos de Ansiedade, como Pânico ou Transtorno de Ansiedade Generalizada, além de Transtorno Obsessivo Compulsivo (o famoso "TOC"), Fobia Social, entre outros transtornos psiquiátricos.
Mas o foco de hoje é nos transtornos depressivos!
Ao contrário do que muitos pensam, boa parte dos episódios depressivos tem o que chamamos de REMISSÃO, ou seja, melhora completa de todos os sintomas. A remissão é o intuito do tratamento medicamentoso e alvo, tanto do psiquiatra, quanto do paciente. A pergunta que todo psiquiatra deve fazer não só é "Como deixar meu paciente bem?", mas também "Como manter meu paciente bem?".
Os sintomas da depressão não são apenas humor deprimido e perda de prazer/interesse nas coisas que gosta. Também são alteração do sono, do apetite, indecisão, desatenção, falta de concentração, agitação ou lentificação, culpa, sentimento de inutilidade e até pensamentos de morte. Assim, é muito comum a pessoa começar a melhorar da tristeza e ter mais prazer nas atividades que gosta, mas ainda manter certa alteração do sono, por exemplo. Ou então, ainda se vê com falta de energia.
Mas você pode pensar: "Ah! Mas para quem estava deprimido, com pensamentos negativos e tristeza, certo cansaço ou alteração do sono é tranquilo". A resposta é não! A manutenção de qualquer sintoma, que chamamos de sintoma residual, aumenta muito o risco da pessoa apresentar um novo episódio depressivo. Dessa forma, a melhora completa SEMPRE será o alvo.
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Cerca de 2/3 dos pacientes que melhoram completamente da depressão não apresentam novas recaídas no período de 3 anos. Dessa forma, o uso da medicação ajuda tanto no tratamento do episódio agudo quanto na prevenção de novos episódios.
Novas evidências demonstraram que o uso de antidepressivo por mais 6 a 9 meses depois da remissão completa do primeiro episódio de depressão diminui muito a chance de um novo episódio depressivo. Outros estudos demonstraram que pessoas que já tiveram vários episódios depressivos têm menores recaídas e melhores resultados psicossociais se fizerem o uso por, pelo menos, 2 anos.
Essas informações acima são importantes porque é muito comum as pessoas começarem a melhorar, abandonarem o tratamento e, depois de alguns meses, voltarem a apresentar os sintomas depressivos. Muitas vezes, o quadro é até pior do que o primeiro episódio. Portanto, lembre-se do alvo da remissão completa do quadro e da necessidade de manutenção (acompanhada pelo médico) da medicação por mais um período.
Retirando a medicação
E como fazemos para descontinuar a medicação depois desse período? Eu posso parar subitamente com os medicamentos? Posso ter alguns sintomas de abstinência? Eu vou recair depois que parar?
Começarei da última pergunta. A recaída num período de até 3 anos pode ocorrer em até 33% das pessoas. Para evitar essa recaída, atividade física, psicoterapia, dieta equilibrada, são passos que ajudam muito. Muitas dessas pessoas não mantêm essas outras terapias alternativas, aumentando a chance de novos episódios.
Quanto às outras perguntas, o ideal é sempre parar o medicamento lentamente. Sabe-se que uma diminuição de dose com duração maior que 2 semanas por vez ajuda muito a aliviar qualquer sintoma de retirada do remédio. Alguns medicamentos como Paroxetina ou Venlafaxina dão muitos efeitos se cessados subitamente. Dessa forma, a ideia sempre é diminuir o remédio aos poucos.
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A psiquiatria ficou muito estigmatizada pelo uso crônico da alguns medicamentos "tarja preta" que causavam dependência nas pessoas a longo prazo. Eles eram chamados pela população em geral e até por vários psiquiatras como "antidepressivos". Todavia, esses medicamentos não são antidepressivos. Grande parte deles é da linha dos ansiolíticos benzodiazepínicos. Seu uso indiscriminado pela população, muitas vezes sem acompanhamento médico, leva à dependência.
Os antidepressivos não são parte dessa linha terapêutica! A confusão dessa questão de dependência muitas vezes tem esse ponto inicial. Os antidepressivos são "tarja vermelha", por exemplo. Conforme falei acima, a ideia deles é tratar um episódio agudo e fazer a manutenção por alguns meses para retirarmos o medicamento, não ficar tomando o resto da vida.
Depois do texto acima, será que você ainda se lembra daquelas perguntas iniciais do texto? Consegue respondê-las? Espero ter conseguido tirar um pouco o estigma que há sobre o uso de antidepressivos e informá-los acerca da melhor forma de fazer um tratamento medicamentoso correto e seguro.
Até a próxima!