Graduado em medicina pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), com residência médica em Genética Médica pelo Hos...
iImagine um cadarço desses que amarram tênis e sapatos. Esses são os cromossomos, com formatos diferentes, enquanto os telômeros são as pontinhas que finalizam e protegem os cadarços. Eles contêm sequências repetidas de DNA, revestidas com proteínas especiais. São nesses pequenos pedacinhos de material genético que estão as informações sobre o nosso envelhecimento e as doenças relacionadas.
Durante nossas vidas, essas terminações que protegem o cromossomo, os telômeros, se desgastam e não podem mais proteger o cromossomo apropriadamente, e aí as células começam a funcionar mal. Essa situação promove mudanças fisiológicas no corpo, o que faz aumentar o risco de condições e doenças relacionadas ao envelhecimento, como a doença cardiovascular, o diabetes, o câncer, o enfraquecimento no sistema imunológico e outros problemas de saúde.
Mas esse é um processo mais ou menos maleável. O envelhecimento e a morte por conta das doenças relacionadas é um processo que corre com todos os seres humanos a uma certa taxa, que pode ser alterada. A enzima telomerase tem a função de adicionar sequências específicas e repetidas de material genético às extremidades dos cromossomos, onde estão os telômeros. Trata-se de uma enzima transcriptase reversa, que tem um modelo RNA em sua estrutura que serve para sintetizar o DNA nos telômeros.
Estudos recentes sugerem que, com a reposição de material genético que a enzima telomerase faz, é possível retardar, prevenir e mesmo reverter parcialmente o encurtamento dos telômeros. Algumas atrofias de tecidos resultantes do processo de envelhecimento seriam, inclusive, reversíveis com a síntese de telomerase. Isso quer dizer que temos, sim, alguma autonomia para retardar os problemas do envelhecimento e expandir nossa vida saudável, tomando providências para cuidar da nossa telomerase e dos nossos telômeros.
Bons hábitos de vida estão direta e comprovadamente associados à restituição dos telômeros, via ação da enzima telomerase. Alimentação e exercícios regulares, não necessariamente extenuantes - 45 minutos, três vezes por semana -, eliminação do hábito de fumar, do consumo excessivo de álcool e, entre os principais fatores da preservação dos telômeros, o controle do estresse.
Todas as medidas que possam controlar os efeitos perniciosos do estresse são bem-vindas para a saúde dos telômeros, desde a meditação e boas noites de sono até um bom papo com amigos. Há estudos que demonstram que casais que desfrutam um bom relacionamento, que tem uma família em harmonia, apresentam um estado mais preservado dos telômeros em relação ao grupo controle, de casais que apresentam problemas entre si e com a família.
A saúde emocional, social e física, já se sabia, estava associada a uma melhor qualidade de vida, mas agora temos uma comprovação biológica de que a eliminação do estresse e de fatores de risco ambientais estão associados à longevidade. As evidências podem ser geneticamente medidas nos telômeros que protegem cada cromossomo. Bons hábitos de vida, a rigor, constituem a primeira das terapias genéticas em favor de uma vida saudável e longa.