Com experiência na cobertura de saúde, especializou-se no segmento de família, com foco em gravidez e maternidade.
Na hora do sexo diferentes fatores são importantes para chegar ao prazer: sintonia entre o casal, estar a vontade com a situação, envolvimento, tesão, atração pelo(a) parceiro(a), topar coisas novas. Em tese, parece que se a maioria desses requisitos existirem então o sexo será bom, certo?
Bom, uma pesquisa realizada pelo Prosex, núcleo da Faculdade de Medicina da USP, parece mostrar que os brasileiros não estão se satisfazendo com suas relações sexuais como esperado. De acordo com o estudo, 43% das entrevistadas afirmam que têm dificuldade em chegar ao orgasmo. Ou seja: quase metade das mulheres relata que não explora toda sua potência de prazer durante o sexo.
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Por outro lado, a mesma pesquisa traz à tona que um terço da população masculina se queixa de baixo desejo sexual, e esta é uma das maiores insatisfações deles em relação ao sexo.
Se o brasileiro tem a fama de liberal, isso se deve à nossa cultura calorosa na forma de se relacionar. Cumprimentamos com beijos, damos abraços com frequência e nossa festa tradicional é o carnaval, em que as mulheres aparecem na TV nuas ou com poucas roupas.
"Somos conhecidos como se topássemos tudo pelo sexo, e não é bem assim. Se a gente for considerar em termos de estudos científicos, a própria história mostra que o latino em geral é muito conservador. O fato de ter uma liberdade para a escolha dos parceiros não significa que seja libertino, promíscuo. Muito pelo contrário, o povo brasileiro é bastante conservador", explica a sexóloga Carla Cecarello, que é psicóloga e mestre e ciências da saúde.
E esse conservadorismo pode também influenciar a forma como ensinamos e aprendemos sobre sexo, que pode levar ao jeito como o encaramos na prática durante a vida adulta. "Certos preconceitos e tabus que nos são passados no nosso processo de educação podem dificultar ou facilitar nossa vida sexual e nosso prazer. Entram na conta as crenças religiosas, familiares, sociais, o que a mídia passa? Daí a importância do processo da educação sexual", explica o psicólogo Alexandre Rivero.
O prazer na educação sexual
O que você aprendeu na escola sobre sexo? Quando a educação sexual aparece nas escolas, ela é frequentemente abordada na perspectiva da prevenção de doenças e gravidez indesejada. E, portanto, o sexo é associado ao medo.
Gabriella Feola, pesquisadora em comunicação e educação e autora do livro Amulherar-se, se queixa: "Em uma escola, você só vai falar sobre sexo se isso se justificar como algo que vai proteger os alunos. Nunca como algo da via do desejável, considerando que o desejo faz parte do adolescente e que devemos falar sobre como eles lidam com isso".
No entanto, ela acredita que não aprendemos sobre sexo apenas no momento em que falamos diretamente sobre o assunto. Desde que nascemos, todas as noções de prazer, desejo e até de repúdio contribuem como referências para uma vida sexual ativa que vem no futuro.
Culpa e tabu
E neste processo de aprendizado e captação de referências, há muitas diferenças de como o tema chega às meninas e aos meninos. "Muitas mulheres já iniciam a vida sexual com aquele sentimento de culpa de estar fazendo alguma coisa errada" explica Erica Mantelli, ginecologista especializada em sexualidade humana.
Quando isso acontece, é mais difícil explorar todo o potencial de prazer que o sexo pode representar. Gabriella ressalta que além do que é falado como certo e errado, entra na conta o que não é falado e nem exposto. Ela exemplifica: "Como existe um silêncio ao redor da masturbação feminina, têm muitas mulheres que não sentem prazer só com a estimulação do parceiro. Ao mesmo tempo, elas não se sentem confortáveis de se auto-estimular enquanto estão transando com o parceiro porque isso não foi falado".
Outra ideia que pode causar a dificuldade das mulheres em sentir prazer é a de que ela faz sexo para servir ao outro.
"Muitas vezes as mulheres, principalmente, começam a vida sexual com essa ideia errada e acabam esquecendo o próprio corpo e de ter prazer. Isso faz com que elas não consigam relaxar e pode gerar uma série de disfunções sexuais, como baixa libido, que pode repercutir com alterações na lubrificação e pode atrapalhar a chegada do orgasmo, em alguns casos podem causar até dor durante o ato", detalha a ginecologista Erica.
De acordo com ela, a boa notícia é que, quando acompanhada por um profissional, esta dificuldade é algo que pode ser revertido muito mais fácil do que as pessoas imaginam.
Se por um lado a mulher é introduzida ao sexo com muita culpa, para os homens, o tema chega de forma mais natural. Tão natural que muitas vezes se cobra que eles saibam tudo.
"Algumas pesquisas mostram que existe uma pressão para que os meninos saibam de tudo e por isso não podem perguntar. Se eles perguntarem, vai parecer que não sabem, e podem ser mal vistos se não souberem", conta Gabriella. E é aí que o tabu se perpetua.
Para o psicólogo Alexandre Rivero, o problema pode ser a raiz de muitos problemas maiores. "Sempre que criamos um tabu, dificultando o acesso à uma sexualidade feliz, acabamos criando patologias", discorre ele. Entre os problemas associadas ao sexo que podem estar relacionadas às questões psicológicas, estão anorgasmia, ejaculação precoce, dificuldade de ereção e vaginismo.
"Não se pode exigir que a mulher tenha orgasmo todas as vezes e nem que o homem esteja sempre preparado para o sexo", opina a sexóloga Carla.
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Pornô não é sexo
Corpos atléticos, cenário com iluminação perfeita, homens viris, mulheres submissas e gemendo bem alto. Este é o cenário de muitos filmes e vídeos pornográficos, e acabam muitas vezes sendo o primeiro contato explícito das pessoas com o sexo.
De acordo com Rivero, o pornô é responsável por muitas insatisfações futuras em relação à vida sexual. "Cria traumas, valores distorcidos e cruéis, em relação ao corpo do outro, expectativas irreais sobre o desempenho sexual, produzem-se medos. O pornô prejudica sim, o desenvolvimento da sexualidade saudável", afirma.
Já para Gabriella, a indústria pornográfica por si só não é responsável por estes efeitos. No entanto, à medida que ela padroniza corpos, comportamentos e desejos, pode levar a frustrações.
"A grande indústria do pornô enquanto um mercado que emprega trabalhadores é violenta, além de ensinar pras pessoas que existe um padrão de transa pela repetição. E por ser sempre a mesma coisa, acaba se tornando referência", discorre a pesquisadora.
Como transformar a sexualidade
Se esta forma como o tema chega à nossa vida influencia a prática quando adultos, pode ser responsável também pelas insatisfações. E você já parou para pensar que conversar sobre elas - com o parceiro, com amigos e até com um médico - poderia torná-las mais fácil de superar?
Mesmo quando os padrões aprisionadores estão presentes na nossa vida desde o início da sexualidade, é possível romper com eles. Muitas vezes, a jornada em busca do prazer sem estas amarras acontece por nós mesmos, mas pode ser que haja a colaboração de algum parceiro ou de um profissional, de acordo com o psicólogo Rivero. Para ele, essa procura passa por fazer as nossas ligações, descobrir os nossos pontos de repressão, de distorções e de preconceitos.
"É importante olhar para dentro de si e ver se tem algo fazendo falta. Depois disso, as pessoas devem entender que o sexo é uma construção social, que a gente aprende e leva por anos, mas se há coisas que não fazem bem, a gente pode se livrar delas", defende Gabriella.
No caso das mulheres que estão insatisfeitas e querem mudar esta chave, Érica recomenda que se toquem e busquem onde estão seus pontos de prazer. "Se ela mesma não sabe onde ela mesma sente mais prazer, dificilmente seu parceiro vai descobrir", explica. Além disso, deixar a vergonha de lado e conversar, seja com parceiros, amigos ou médicos, é importante.
Por outro lado, a mesma pesquisa citada no começo da reportagem mostrou que a maior parte dos homens demonstrou "temor de não satisfazer a parceira", sendo a preocupação mais citada por eles na hora do sexo.
Dar prazer para a mulher com quem está transando passa por compreender que nenhuma delas é igual à outra e que, para que a relação seja prazerosa, é importante que os dois estejam completamente envolvidos, dando e recebendo.
Além disso, é importante considerar que o tempo resposta sexual da mulher é maior, sendo mais demorado para que ela entre no clima. "A mulher precisa de cerca 8 a 10 minutos de preliminares para que elas consigam chegar ao melhor momento para iniciar a relação com penetração", ressalta a ginecologista Erica, que lembra que alguns homens já querem pular as preliminares e ir direto para relação. Isso pode gerar um desconforto na mulher porque quando ela não atingiu o nível de excitação adequado, não fica lubrificada.