Com experiência na cobertura de saúde, especializou-se no segmento de família, com foco em gravidez e maternidade.
O que é puerpério
O puerpério (também chamado de resguardo ou quarentena) é o período de 42 dias a oito semanas após o parto que demora para que o corpo da mulher retorne à forma anterior à gestação.
O período também é marcado por mudanças emocionais. A exceção são as mamas, que, devido à amamentação, atingem seu desenvolvimento completo no puerpério e não voltam a como eram antes da gravidez.
Saiba mais: Saiba como identificar e lidar com a depressão pós-parto
Durante o puerpério, os órgãos que se adequaram ao crescimento do útero na gravidez retornam aos locais e tamanhos de origem.
Há algumas formas de se classificar as fases do puerpério, normalmente dividido em quatro momentos:
- Puerpério imediato: Do nascimento a até duas horas após
- Puerpério mediato: Do imediato até o 10º dia após o parto
- Puerpério tardio: Do 11º até o 42º dia após o parto
- Puerpério remoto: A partir do 43º dia após o parto.
As principais mudanças hormonais do puerpério são:
- Queda do hormônio HCG, hormônio exclusivo da gravidez, secretado pelo embrião e pela placenta
- Baixa no estrógeno
- Baixa na progesterona
- Aumento da prolactina, que estimula a produção de leite pelas mamas.
Sangramentos do puerpério
Após o nascimento de um bebê e saída da placenta, o útero vai retornando ao seu volume normal e também precisa se cicatrizar. Isso provoca a loquiação, que pode gerar sangramentos e secreções ao longo de todo o puerpério.
De 3 a 5 dias após o parto, a loquiação é um sangue vermelho vivo, por conter muitas hemácias. A partir da segunda semana, a loquiação vai se tornando vermelho escuro (acastanhado).
Depois de dez dias após o parto, se torna amarelada e, posteriormente, esbranquiçada até terminar. A duração média da loquiação é de 4 semanas, e ela pode ter volume total entre 200 e 500 mL.
Estes sangramentos não devem ser confundidos com a menstruação, já que esta tem origem no endométrio, que reveste o útero, enquanto a loquiação vem principalmente do local onde a placenta estava implantada.
Menstruação após o puerpério
O retorno do ciclo menstrual como era antes da gravidez varia de mulher para mulher. Em média, a ovulação ocorre 45 dias após o parto, e a menstruação vem de 7 a 9 semanas também depois do parto.
No entanto, para as mulheres que amamentam, a prolactina (hormônio responsável pela produção de leite) pode inibir este retorno, fazendo com que ele demore vários meses.
Como a ovulação ocorre antes da menstruação, não é possível prever o retorno da fertilidade da mulher.
O que acontece com o útero no puerpério
Durante a gravidez, o útero se estica e cresce para abrigar um bebê que chega a medir mais de 50 centímetros e pesar mais de 4 quilos.
Se este processo causa dores nas mães, o inverso, do útero voltando ao tamanho original durante o puerpério, também traz incômodos. Além do tamanho, no útero também ocorre a cicatrização da ferida placentária.
No puerpério, as mulheres podem sentir cólicas no útero principalmente durante a amamentação.
O útero volta ao seu tamanho original ao final do puerpério, seis semanas após o parto.
O que acontece com os seios no puerpério
Os seios e as mamas são os únicos órgãos que não voltam ao original durante o puerpério. Desde a gravidez, eles crescem e, durante todo o período de amamentação, ficam maiores e podem doer.
Logo após o nascimento do bebê, as mamas produzem colostro, líquido amarelado que é o primeiro alimento produzido pelo corpo da mulher. Após três dias, a produção de leite materno se inicia, o que pode gerar desconforto.
Além disso, a amamentação do bebê pode gerar fissuras nos mamilos e arder muito. Para resolver o problema, os médicos podem indicar que se passe o próprio leite em volta dos mamilos, cremes para cicatrização ou até analgésicos.
Para evitar o problema, a pega do bebê na mama e a posição corretas são importantes. Veja 6 maneiras de prevenir as rachaduras e fissuras mamilares.
Para que os ductos mamários permaneçam em posição anatômica, recomenda-se o uso de sutiãs de alças largas e firmes.
O que acontece com os órgãos abdominais no puerpério
Quando o útero cresce durante a gravidez, os outros órgãos que estão na cavidade abdominal se adequam a ele. No puerpério, eles retornam ao lugar e tamanho de origem.
Por causa disso, muitas mulheres sentem a barriga flácida por dentro. Além disso, há a distensão das alças abdominais causada por gases.
Uma boa alimentação, hidratação e caminhadas leves ajudam estes incômodos a serem atenuados.
O que acontece com a vagina e a pelve no puerpério
Principalmente para as mulheres que deram à luz de parto normal, o canal vaginal também precisa se recuperar durante o puerpério.
Para a passagem do bebê, a musculatura pélvica se relaxa e, no puerpério, vai retornando às dimensões e à força originais (mas nem sempre isso acontece). Após 15 dias do pós-parto, exercícios de fisioterapia pélvica podem ajudar.
Além disso, a passagem do bebê pode gerar lacerações na entrada da vagina, ou então a equipe pode ter optado pela episiotomia (corte na região). A cicatrização da entrada da vagina ocorre em até três semanas. Caso a mulher sinta dor, os médicos recomendam compressa gelada, analgésico e às vezes até o uso de spray anestésico.
O relaxamento da musculatura também pode provocar incontinência urinária, e os exercícios de contração são indicados para que retorne à sua força.
Resguardo sexual no puerpério
As alterações na vagina não atingem só quem teve parto normal. Com a queda da liberação de estrogênio, a vagina pode ficar com menos lubrificação e até inflamar. Antes que a vagina ou o corte da cesárea estejam completamente cicatrizados, o sexo com penetração pode machucar e causar até infecções.
Não há um tempo fixo para que a cicatrização completa aconteça, mas costuma durar o período do puerpério. É importante conversar com o médico para voltar a fazer sexo após o parto.
Saiba mais: Violência obstétrica: o que é, tipos e leis
O que acontece com as emoções no puerpério
Quando uma mulher tem um filho, além das alterações hormonais, ela encara mudanças bruscas na forma de viver. Sair da maternidade com um ser completamente dependente, que precisa de atenção quase exclusiva e tira o sono pode assustar.
A soma de todos os fatores torna o puerpério um momento frágil emocionalmente para as mulheres. Durante o período, é comum sentir as emoções à flor da pele, cansaço, esgotamento e vontade de chorar sem motivo aparente. Além disso, também é comum a falta de libido.
Esse período de humor instável pode se caracterizar como baby blues (tristeza materna) ou como depressão pós-parto. De acordo com a American Pregnancy Association, entre 70% a 80% das mães experimentam algum tipo de sentimento negativo ou mudança de humor após o nascimento do bebê.
No caso do baby blues, a tristeza é branda, dura até duas semanas e não impede que a mãe realize as atividades.
Saiba mais: Baby blues: diferença de depressão pós-parto, quanto dura e sintomas
Já a depressão pós-parto é mais severa e atinge as mães por mais tempo, além de parecer tirar as forças da mulher para lidar com a nova rotina. Também é possível que haja desinteresse em interagir com a criança.
É importante que a mulher que está no puerpério fale sobre seus sentimentos e busque ajuda de especialistas, como psicólogos e psiquiatras.
Alimentação no puerpério
Há alguns alimentos que ajudam e outros que atrapalham durante o puerpério.
Alimentos para evitar durante o puerpério:
- Bebidas alcoólicas: podem diminuir a produção de leite
- Cafeína (café, refrigerantes de cola, chás verde, mate e preto e chocolate): reduz a absorção de ferro e pode deixar o bebê mais agitado e irritado. O ideal é limitar a ingestão de 3 xícaras de café por dia
- Amendoim (ou pasta de amendoim): é potencialmente alergênico e pode fazer com que o bebê desenvolva alergia a este alimento.
As dietas radicais para perda de peso rápido também estão descartadas, pois podem diminuir a produção de leite.
Nutrientes para preferir durante o puerpério:
- Água: é recomendado que a puérpera beba cerca de 13 copos de líquidos por dia ou mais, sendo água a maior parte, já que aumenta a lactação, evita infecções urinárias e melhora a constipação
- Alimentos fontes de ferro (carnes, aves, ovos, vegetais verdes escuros, feijões, beterraba e melado de cana): eles previnem anemia, que gera mais cansaço e fraqueza. É importante consumir sempre em conjunto com alimentos fontes de vitamina C (frutas cítricas)
- Magnésio, vitaminas do complexo B, triptofano, vitamina D e ômega 3 (aveia, vegetais verdes escuros, banana, frutas vermelhas, ovo, gergelim, carne, laticínios, quinoa, amaranto e oleaginosas): ajudam a melhorar a produção de serotonina, substância do bem-estar que, quando mais baixa, causa sentimentos de tristeza que podem ser muito comuns no período do puerpério.
Quem está no puerpério precisa fazer várias refeições durante o dia para não ficar longos períodos sem comer.
Fontes
- Rosiane Mattar, ginecologista e obstetra, Professora Titular do departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina - Unifesp, Coordenadora Científica de Obstetrícia da Sogesp, Presidente da CNE de gestação de Alto Risco da Febrasgo
- Thelma Figueiredo, ginecologista e obstetra, membro da Sogimig
- Julia Bittencourt, psicóloga especializada em psicologia perinatal e parental
- Giseli Reis, nutricionista.