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Ao ouvirmos uma música, passar por uma rua ou sentir um aroma, podemos lembrar de alguém que já esteve ao nosso lado. Nossa memória guarda detalhes de uma história, e ela pode permanecer conosco. "O tempo nos dá saudades, e acabamos pensando apenas nas qualidades do parceiro e da relação. Esses motivos contribuem para que as pessoas mudem suas posturas e busquem uma reconciliação", explica a psicóloga Lia Clerot.
Retomar um relacionamento com uma pessoa do passado não é algo novo. Mas é necessário saber diferenciar sentimentos, pois muitas vezes o que achamos que é amor, na verdade é carência afetiva. Diante desse fato, a pergunta que fica é: como diferenciar esses dois impulsos?
Não há uma resposta matemática para isso. No entanto, nesses momentos, o mais indicado é preencher nosso tempo com coisas que amamos fazer. Dessa forma, é possível perceber se estamos apenas nostálgicos ou se queremos voltar com o ex. "Muitas vezes estamos acostumados com a pessoa ao nosso lado, e, quando bate aquela melancolia, geralmente queremos 'colo' onde nos sentíamos de certa forma seguros", explica a terapeuta.
Além disso, a terapêuta holística Karla indica praticar o autoconhecimento, para aprender a diferenciar nossos sentimentos. Lia Clerot também oferece uma exemplificação prática: "O desejo nos leva a fazer coisas que normalmente não faríamos, como ir atrás de um ex depois de anos. Já a nostalgia implica apenas na lembrança de um momento, não significando que queremos revivê-lo", diz.
Veja a seguir, alguns motivos que ajudam a explicar por que buscamos reatar um relacionamento com o ex:
1. Boas lembranças
Segundo a psicóloga Adriana de Araújo, a nossa memória tem uma forte relação com o desejo de resgatar laços. Isso acontece porque, a partir do momento que não temos mais a companhia de alguém, tendemos a esquecer do contexto geral que levou ao fim do relacionamento. Apostamos em uma lembrança nem sempre lúcida como justificativa para retornar um vínculo amoroso.
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2. Manipulação
É comum que em alguns términos, uma das partes persista em continuar com o relacionamento por meio da manipulação. Chantagens ou ameaças podem acontecer. Para a psicóloga Milena Lhano, tais táticas de imposição podem nos afetar quando temos medo da solidão.
"Medo de ficar sozinha, insegurança, dificuldade em lidar com perdas, competitividade, dependência afetiva e necessidade de controlar todas as situações são fatores que nos tornam mais suscetíveis a não aceitar um término", explica Milena.
3. Esperança de fazer algo diferente
Quando rompemos com alguém, é inevitável procurar pelos erros que levaram ao acontecimento. E quando identificamos quais foram eles, sentimos uma maior necessidade de reatar os laços. Segundo Adriana, a chance de correção e fazer funcionar da melhor maneira nutre nossa esperança.
De acordo com a psicóloga Lia Clerot, se o relacionamento foi algo saudável, isto é, sem abuso psicológico ou físico, é possível retomar o vínculo amoroso. Quando a pessoa que estávamos exercia um papel importante em nossas vidas, é comum desejar recuperar isto.
4. Falta de novas oportunidades
A psicóloga Adriana explica que, por falta de oportunidades, algumas pessoas podem acreditar que só teriam chances de serem felizes com o antigo parceiro. "A falta de segurança em si e no meio externo também pode fazer com que queiramos estar com alguém, mesmo sabendo que essa não é nossa verdadeira intenção", explica a especialista.
5. Características de nossa personalidade
Adriana afirma que pessoas perfeccionistas, que querem sempre acertar e corrigir as coisas à sua volta, podem ter um ímpeto maior para retomar uma relação. Entretanto, um traço que pode nos influenciar a reviver realidades insatisfatórias é a baixa autoestima.
Segundo Lia, a dependência afetiva que nos faz perder a capacidade de planejar o futuro sem o parceiro deve ser um sinal de alerta. "A pessoa com baixa autoestima pode ter a crença que não encontrará ninguém que a queira. Portanto, não pode perder quem queria estar com ela", esclarece.
A terapêuta holística Karla Assis aponta que há alguns padrões comportamentais que sinalizam a baixa autoestima e podem influenciar nosso desejo de reviver um relacionamento. São eles:
- Dificuldade para tomar decisões sozinho, mesmo as mais simples
- Dificuldade de dizer não e discordar das pessoas, por medo de ser rejeitado
- Hábito de se colocar sempre em segundo plano e fazer tudo pelos outros, com o objetivo de sempre manter a pessoa por perto e alimentar a dependência
- Necessidade de estimular as outras pessoas em qualquer tipo de atividade ou ação, por não conseguir ter motivação para realizar suas próprias coisas
- Incapacidade de se sentir bem quando está sozinho (a)
- Ciúmes exagerado e exigência de atenção exclusiva do parceiro
- Falta de interesse por outras amizades ou relacionamentos
- Incapacidade de fazer planos que não envolvam a outra pessoa.
Karla indica que, ao reconhecer quais padrões de dependência emocional temos, podemos começar a valorizar nossas virtudes, sempre visando realizar o que desejamos sem precisar do outro. Isso nutre nossa independência emocional e evita que voltemos a uma relação por falta de confiança em nós mesmos.
Para Adriana, precisar da ajuda de alguém não é ser dependente. Entretanto, saber ser dona de si e ter uma vida plena é um ponto primordial para boas relações. Caso contrário, como ilustra Milena Lhano, acabamos colocando toda nossa vida na mão do outro. E quando este vai embora, acaba levando nossa vida junto.
6. Ciúmes
Milena afirma que o ser humano é competitivo e possui dificuldades em aceitar a perda. "Se eu já estiver em uma outra relação, torna-se mais fácil aceitar que o ex esteja com outra. Caso contrário, a competição torna a aceitação mais difícil", explica.
Além disso, a fantasia exerce um papel importante na potencialização do ciúmes. Adriana explica que, ao ver o ex em uma nova relação, somos tomados por um desejo de ter a realidade positiva que imaginamos que ele esteja vivenciando.
"A imaginação nos faz imaginar o melhor que poderíamos ter, como se estivessemos perdendo o que era nosso. Mas é apenas imaginação", diz.
7. Sonhar com ex-namorado
Para a terapêuta holística Karla Assis, nem sempre sonhar com o ex significa que você quer retomar a relação. O sonho pode ter diversos sentidos, e é necessário atentar-se aos detalhes para interpretá-lo corretamente. "Diante de um momento de dor em nossas vidas, o inconsciente, por meio dos sonhos, nos mostra o que está ocorrendo conosco", explica.
Segundo a especialista, se você sonhou que estava brigando com seu ex-namorado, pode significar que algumas mágoas não foram solucionadas com o fim da relação. Sonhar que o relacionamento foi reatado pode revelar que está na hora de realizar uma autoavaliação.
"Pergunte pra você mesma: 'Será que vale a pena tentar mais uma vez?' e reflita sobre o que mudou na relação para que ela terminasse", aponta Karla. Sonhar que vocês não se conhecem pode ser um sinal de que está na hora de pensar no que você era antes da relação iniciar, e se ocorreu uma mudança de comportamento sua ou do outro no meio do caminho.
As interpretações são amplas. Mas para a terapêuta, o mais importante é fazer as perguntas necessárias para que seu inconsciente lhe mostre se vale a pena ou não reviver um relacionamento.
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