Nutricionista pela USP, Mestre em Ciências pela EPM-Unifesp e especialista em Nutrição e Dietética (nutrição do adolesce...
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Filas em que mal se enxerga o começo são comuns em banheiros femininos, especialmente em locais públicos, como shoppings, parques, bares e cinemas. Quando os ambientes estão sujos e com forte odor, a situação fica pior ainda, o que faz com que muitas mulheres prefiram os banheiros de seus próprios lares - mesmo que para isso tenham de esperar e segurar a vontade por horas.
Acontecimentos como estes são comuns para muitas mulheres - e não à toa elas são as que mais sofrem com o intestino preso. Na pesquisa "O Consumo de Fibras no Brasil", realizada pelo IBOPE a pedido da marca Fibernorm, com 2 mil pessoas, 84% do total de entrevistadas convivem com o problema, contra 57% dos homens.
Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que, para melhorar a prisão de ventre e o funcionamento do intestino, é preciso aumentar o consumo de fibras. Porém, o estudo analisou os hábitos dos internautas brasileiros em relação à ingestão de fibras e revela que, no Brasil, enquanto 78% afirmam que consomem fibras diariamente, apenas 37% admitem que as ingerem mais de uma vez ao dia.
Por isso, a nutricionista Márcia Daskal e a gastroenterologista Maria do Carmo Friche apontam quais os principais motivos pelos quais os brasileiros têm o intestino preso e como solucioná-los.
Causas do intestino preso:
1. Falta de fibras na alimentação
A OMS afirma que o consumo diário de fibras deve ser maior que 25g por dia. Contudo, a nutricionista Márcia Daskal diz que o brasileiro ingere, em média, somente 12g.
Como solucionar: Não tem segredo, consuma mais alimentos ricos em fibras. As fibras alimentares exercem efeito mecânico no tubo digestivo (empurrando o bolo alimentar e auxiliando a evacuação). Além disso, elas diminuem a velocidade com que o açúcar e a gordura são absorvidos, o que aumenta a saciedade e, então, auxilia na perda de peso. E não para aí: as fibras também ajudam na seleção de bactérias que são benéficas ao organismo, o que melhora a saúde; e ainda seguram a água, tornando as fezes mais macias para serem eliminadas.
De acordo com Márcia, os brasileiros são acostumados a comer na rua, optando por pratos prontos; e as refeições em casa também não costumam ter fibras. Como exemplo, ela cita o café da manhã típico: "café com leite e pão com manteiga; não há fibras aí, o que poderia ser solucionado com a adição de uma fruta, por exemplo".
Lista de alimentos ricos em fibras, recomendados pela nutricionista:
- Feijão
- Frutas (laranja, ameixa, coco, damasco, mamão, entre outras)
- Folhas verdes
- Cereais (granola, aveia, farelo de trigo)
- Legumes com casca (cenoura, batata, abobrinha, abóbora)
- Sementes e castanhas
- Pipoca
- Milho
2. Hábitos culturais
Além da falta de fibras, como falamos acima, o costume de ignorar a vontade de ir ao banheiro, passado especialmente para as mulheres, pode atrapalhar ainda mais o fluxo intestinal. Segundo a médica Maria do Carmo, isso acontece principalmente entre mulheres de 20 a 40 anos, que têm dificuldade, portanto, de se sentirem à vontade para evacuar em banheiros que não sejam os de suas casas.
Quando a pessoa segura o desejo de ir ao banheiro por muito tempo, é possível que a prisão de ventre se estabeleça. Logo após ingerirmos um alimento, temos o chamado "reflexo gastrointestinal" (ou "esvaziamento do estômago"), processo que vai do estômago até o ânus, passando da digestão à evacuação. Maria do Carmo explica que, a partir do momento em que prender a vontade de evacuar se torna comum, este reflexo deixa de existir e, portanto, o cérebro para de avisar ao indivíduo que ele está pronto para ir ao banheiro.
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Como solucionar: O mais indicado é que não se segure a vontade de ir ao banheiro: "é preciso respeitar o desejo evacuatório", diz a médica Maria. Na dúvida, veja aqui nosso guia de como usar o banheiro público/químico com segurança.
3. Alterações hormonais
Mudanças hormonais, como acontece durante o ciclo menstrual e a Tensão Pré-Menstrual (TPM) nas mulheres, também têm influência na regulação intestinal. A gastroenterologista Maria do Carmo afirma que não acontece com todas as mulheres, mas algumas podem, sim, ter alterações no fluxo intestinal devido às contrações uterinas nestes períodos. Isso pode levar tanto à prisão de ventre, como a um maior índice de intestino solto e diarreias.
Como solucionar: É aconselhado o acompanhamento dos casos com médicos, como gastroenterologistas e ginecologistas, combinado com um aumento da ingestão de fibras para casos de prisão de ventre. Além dos alimentos ricos em fibras alimentares, a nutricionista Márcia também aconselha, principalmente às mulheres, o uso de suplementos de fibras.
4. Falta de exercícios físicos
Maria do Carmo diz que atividades físicas de rotina são importantes para o funcionamento do intestino. Exercícios incentivam movimentos no intestino, o que auxilia a eliminação de fezes - em especial exercícios de baixa intensidade, conforme estudo da Universidade Federal de São Paulo.
Como solucionar: Caminhadas e atividades aeróbicas, no geral, estimulam os movimentos intestinais. A musculação também é uma boa opção para ajudar neste processo, pois fortalece a musculatura do abdômen.
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5. Condições e doenças específicas
A gastroenterologista Maria do Carmo alerta para demais condições que também podem fazer com que você não consiga soltar o intestino. Problemas na tireoide, por exemplo, influenciam no fluxo gastrointestinal e levam à prisão de ventre - fazendo com que pacientes desenvolvam até mesmo ansiedade e demais problemas psicológicos devido ao desconforto.
Já idosos não costumam ingerir fibras em suas dietas e têm maior dificuldade para mastigação com o passar do tempo. Além disso, pessoas com doenças neurológicas em estágios avançados, como Parkinson e Alzheimer, dependem de outros indivíduos para irem ao banheiro - o que diminui a independência para evacuação e pode fazer com que segurem a vontade, resultando em prisão de ventre.
Por sua vez, crianças geralmente não alcançam o vaso sanitário e não têm musculatura pélvica para evacuar direito, segundo a médica.
Como solucionar: Primeiramente, procure médicos especialistas, como gastroenterologistas, nutricionistas e nutrólogos para melhor diagnóstico e adequação de cardápio rico em fibras conforme condições individuais. No caso das crianças, Maria do Carmo aconselha que os pais deixem-as por mais tempo no penico até que tenham altura ideal para usar o vaso sanitário.
Para além de alimentos só integrais
"A população em geral acha que as fibras alimentares são somente encontradas em fontes integrais, o que é uma visão errada", diz a nutricionista Márcia Daskal. Ela menciona que essas fibras vêm na forma inteira quando o alimento é integral, mas que é possível montar um cardápio que não seja totalmente integral e ainda rico em fibras.
A nutricionista exemplifica o caso com a mistura de arroz branco com feijão, cenoura e batata rústica. Para beber, sucos com polpa e casca, como de laranja, sem peneirar.
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Sementes de girassol, linhaça e castanhas são uma ótima opção para lanches da tarde e da manhã. Para quem vai à praia, Márcia sugere que troque frituras pelo milho com manteiga, já que o milho contém fibras alimentares.
O ideal é que o cardápio seja rico em oferta de fibras variáveis. Assim, adicione à dieta de 3 a 9 porções de legumes e verduras por dia. Como exemplo, uma salada crua no almoço, uma verdura refogada no jantar e mais três frutas a serem consumidas durante o dia.
É preciso cuidado com o excesso de fibras?
Apesar de serem casos raros, ainda mais frente ao baixo consumo de fibras no Brasil, o excesso de fibras pode causar problemas gastrointestinais. Márcia ressalta que isso diz respeito ao consumo exagerado de fibras em relação ao estipulado pela OMS e não o excesso relativo ao que o indivíduo consumia antes.
Geralmente, a fibra atravessa o organismo de forma intacta ou em forma de gel. Mas também é possível que seja fermentada. Quando fermentada, pode trazer desconforto e sensação de queimação. Por isso, é recomendável o aumento gradativo de fibras na alimentação. E conforme se aumenta a ingestão de fibras, deve-se aumentar também o consumo de água.