Médico urologista e doutor em Ciências Médicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), também é membro da...
iOs hábitos de vida moderna contribuíram para o aumento da prevalência dos cálculos urinários que acometem entre 5 e 10% da população mundial. A obesidade, o sedentarismo e a dieta rica em sal e proteína favorecem a formação de cálculos.
Quando uma pedra formada nos rins tenta sair, ela precisa percorrer um caminho longo e cheio de obstáculos. São áreas mais estreitas onde a pedra pode agarrar e provocar edema, gerando a famosa crise renal ou cólica nefrética. Uma dor que quem já experimentou nunca esquece.
Importante entender que o que efetivamente causa a dor é o aumento da pressão dentro do rim. A pedra em si não provoca dor, desde que ela não atrapalhe o fluxo de urina e não gere aumento da pressão interna. Por isso, muitas pessoas se surpreendem ao fazer um exame com um objetivo e descobrir que tem uma pedra quietinha no rim.
A pedra dói quando se desloca. Quando ela inicia essa viagem entre o rim até a bexiga, a pedra encontra três pontos mais estreitos: na saída do rim, no meio do ureter (tubinho que liga o rim à bexiga) e na chegada na bexiga. Geralmente esses são os pontos onde a pedra fica presa. Se a pedra cai na bexiga, ela geralmente é urinada, pois o caminho à sua frente é mais amplo do que esses pontos descritos como estreitamentos.
Na crise renal, a primeira tentativa de tratamento deve ser a chamada terapia expulsiva. Trata-se do uso de analgésicos, corticoide, relaxantes musculares e antiinflamatórios para retirar a dor e reduzir a resposta inflamatória provocada pela impactação da pedra na parede do ureter, dando tempo para que a pedra seja eliminada naturalmente. Quando a terapia expulsiva não é bem sucedida, pode ser necessária a cirurgia que consiste em fragmentar a pedra em pedaços pequenos, retirá-los e deixar um cateter chamado duplo j para assegurar que o rim poderá trabalhar sem obstrução.
Sexo é capaz de eliminar pedras nos rins?
Desde 2015, pesquisadores tentam avaliar se existiria vantagem na prática da atividade sexual regular durante o tratamento para eliminar uma pedra que se deslocou do rim e está descendo em direção à bexiga, ou seja, como uma terapia expulsiva para cálculos na porção final do ureter.
Você pode se perguntar: mas o que a atividade sexual tem a ver com a eliminação de pedras? Por isso, vale a explicação: existe um importante relaxante muscular chamado óxido nítrico que é o grande responsável pela ereção peniana. Quando o homem fica excitado, o cérebro comanda a preparação para o sexo através de estímulos nervosos que liberam óxido nítrico dentro do pênis e com a dilatação provocada por ele, os corpos cavernosos se enchem de sangue e produzem a ereção.
A hipótese testada pelos pesquisadores é a de que a liberação do óxido nítrico provocada pela excitação sexual seria benéfica para o relaxamento do ureter e consequentemente ajudaria na eliminação do cálculo. Como se a área do entupimento fosse alargada com a ajuda do óxido nítrico e com isso o cálculo encontrasse mais facilidade para chegar à bexiga e ser eliminado.
Em 2015, esse estudo pioneiro feito com 90 pacientes comparou 3 modalidades de terapia expulsiva para testar essa hipótese: atividade sexual 3 a 4 vezes por semana, analgésicos comuns ou um relaxante muscular chamado tansulosina. O resultado demonstrou que o grupo com atividade sexual teve maior taxa de eliminação espontânea dos cálculos em comparação aos outros dois grupos. Além disso, a velocidade com que eliminaram foi maior, ou seja, precisaram aguardar menos dias pela eliminação espontânea.
Dois outros estudos semelhantes publicados em 2017 ratificaram esses resultados acrescentando ainda que a prática do sexo proporcionou redução na necessidade de medicação para dor nos pacientes. Aqueles que tiveram 3 a 4 relações sexuais por semana durante a terapia expulsiva precisaram de menor dose de analgésicos.
Recentemente, em fevereiro de 2019, uma metanálise (união dos estudos relevantes já publicados sobre o tema) concluiu que a terapia sexual é mais eficaz na eliminação de pedras pequenas e localizadas na porção final do ureter quando comparada ao uso de analgésicos comuns, além de reduzir a intensidade da dor associada ao cálculo.
Então, talvez a liberação do óxido nítrico provocada pela excitação sexual tenha um efeito de relaxamento também na porção distal do ureter. Com isso, as pedras possam migrar em direção à bexiga e posteriormente serem eliminadas.
Vale lembrar que os estudos incluíram apenas homens casados, com cálculos com menos de um centímetro e localizados na porção final do ureter. Como o número de participantes nos estudos mencionados foi pequeno, apesar da metanálise que tenta aumentar o poder estatístico das conclusões, os próprios autores sugerem estudos mais robustos e com maior tempo de seguimento para que se possa recomendar a atividade sexual como item da terapia expulsiva.
Portanto, cuidado! Converse com seu médico e esclareça todas as suas dúvidas antes de adotar qualquer medida caso venha a ter cálculos.
A medida ideal no caso dos cálculos urinários continua sendo a prevenção: beba líquidos regularmente, evite sal e reduza o consumo da carne vermelha, não tome refrigerantes, faça exercícios todos os dias e evite engordar. E, para quem já teve uma pedrinha, faça um exame de imagem com seu urologista todo ano!