Médico Especialista em Endoscopia Digestiva, Coloproctologia e Gastroenterologia. Membro titular das Sociedades Brasilei...
iA higiene anal refere-se a práticas higiênicas, geralmente realizadas logo após a defecação. O ânus e nádegas podem ser lavados ou limpos - geralmente com papel higiênico ou lenços umedecidos - para remover restos de fezes.
Em muitas culturas muçulmanas e hindus, bem como no sudeste da Ásia e no sul da Europa, a água é geralmente usada para limpeza anal - usando um jato, como um bidê ou (mais comumente) usando a mão. Isso às vezes é seguido pela secagem da área com uma toalha de pano ou papel higiênico.
Outras culturas, principalmente em países ocidentais, a limpeza após a defecação é geralmente feita apenas com papel higiênico, embora alguns indivíduos possam usar água ou lenços umedecidos, e até mesmo tomar banho.
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O uso de papel higiênico para limpeza pós-defecação começou na China. Porém, acabou tornando-se um hábito mais comum na cultura ocidental. Em algumas partes do mundo, especialmente antes de o papel higiênico estar disponível ou acessível, era comum o uso de jornais, páginas de listas telefônicas ou outros produtos de papel.
O papel higiênico remove as fezes enquanto a água limpa tudo completamente, podendo ser a limpeza com água um complemento após o papel. Alguns acham repugnante tocar nas fezes antes de uma limpeza prévia com um lenço ou papel.
Limpeza apenas com papel higiênico traz complicações?
A utilização de papel higiênico seco para limpeza anal deixa resíduos, o que expõe a infecções do trato urinário. O papel higiênico seco "move as fezes, mas não as remove", o que faz com que as mulheres desenvolvam infecções urinárias à medida em que as bactérias se movam para a uretra. É fundamental que não se faça movimentos de limpeza do ânus em direção à vagina.
Em estudo alemão foram avaliados pacientes com alterações anais que incluíram erosões, fissuras e eczema. Em relação aos sintomas, as queixas predominantes foram prurido e ardência em 42%. A higiene anal após defecação foi mais comumente feita com papel higiênico seco (55%). Mudanças na higiene anal após a defecação promoveu alívio nos sintomas: alterando de água para papel higiênico úmido em 9%, de papel higiênico seco para papel higiênico úmido em 30%, de papel higiênico úmido para água em 32%, de papel higiênico seco para água em 60%.
Estes resultados confirmam fatos conhecidos em relação às influências de agentes conservantes e materiais de impressão em papel higiênico seco (muitas vezes reciclado) e úmido sobre a pele. Esses efeitos são ainda mais pronunciados na pele comprometida e sugerem que a higiene anal deve ser feita somente com água.
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Em nossa experiência clínica, é muito evidente que pacientes cuja higiene anal é mais difícil, seja com papel ou mesmo com água, a presença de resíduos fecais é sempre fator responsável por uma série de sintomas, como dermatite, prurido, sangramento, dor, ardência, odor desagradável e dor, bem como acentuação e surgimento de doenças, como hemorroidas, fístulas e fissuras anais. Nos resíduos fecais há substâncias irritativas, muitas vezes não toleradas por alguns indivíduos.
Além disso, disfunções do esfíncter anal (hipertonia, hipotonia, incoordenação), bem como excesso de tecido na margem anal (plicomas, hemorroidas), favorecem a permanência de resíduos fecais após a higiene. Esses empecilhos limitam a ação dos agentes de higiene, em especial do papel, o qual não consegue remover as fezes do canal anal e deixa sempre componentes das fezes aderidos à pele e mucosa da margem anal.
Como fazer a higiene anal adequadamente?
Dessa forma, a fim de se eliminar mais efetivamente as substâncias fecais e as fezes propriamente ditas, recomendamos lavar o ânus na margem anal e no canal anal (três centímetros adiante a partir do fim do canal anal). Os lenços umedecidos sem perfume de boa qualidade podem também ser uma segunda opção. É importante deixar claro que a maioria das pessoas não apresentam nenhum problema em utilizar o papel higiênico, e não obrigatoriamente devem mudar este hábito.
Por fim, respondendo a pergunta "Papel higiênico é vilão na higiene anal?", digo que sim, é vilão. Na minha opinião, boa parte das consultas em proctologia deixariam de existir caso as pessoas realizassem a higiene anal adequadamente.