Com experiência na cobertura de saúde, especializou-se no segmento de família, com foco em gravidez e maternidade.
Dar banho, contar histórias, colocar no berço e dar um beijo de boa noite pode ser normal na rotina de muitas famílias com filhos, mas não todas. Logo que nascem ou quando mais velhos, alguns problemas de saúde podem dar uma casa diferente às crianças por dias, meses e até anos. Cuidando delas, existem mulheres que vivem intensamente a maternidade sem ter seu filho em casa: as "mães de UTI".
Lilian Raidac Maregatti já tinha Luigi quando ficou grávida de Giovanni. Durante o nascimento do menor, um descolamento de placenta levou a diminuição de oxigênio e causou paralisia cerebral. Logo que nasceu, o bebê já ficou internado na UTI neonatal e o sonho de voltar com seu pequeno nos braços foi adiado por quatro meses.
"É preciso reconstruir esse imaginário que a gente tem do que é ser mãe. Ser mãe também é estar junto em pensamento. Sair pensando que vai para casa, mas amanhã volta", define Mariana Bonsaver, psicóloga da Maternidade Pro Matre Paulista que trabalha com as famílias da UTI neonatal.
Culpa e puerpério
Um dia após o outro: é assim que Miriam Nunes, mãe de um bebê que foi prematuro de 28 semanas, define o período em que seu filho ficou internado. Mesmo que haja uma diversidade de motivos para que os bebês venham ao mundo antes da hora, a culpa prevalecia em sua cabeça.
Logo que um bebê nasce, as alterações hormonais somada às mudanças bruscas na vida da mãe tornam o puerpério um período de emoções instáveis e frágeis. Quando se adiciona a ele a rotina intensa de uma UTI neonatal, pode ser que sentimentos ruins como culpa e medo fiquem mais fortes.
"Para que as mães lidem de forma mais tranquila e possam cuidar do bebê, é importante que elas também estejam bem", explica a psicóloga Mariana. Mesmo que a atenção esteja voltada ao pequeno, as mães não podem descuidar da própria saúde física e mental.
Rotina intensa
Na UTI neonatal, os bebês ficam na incubadora e nem sempre podem ter contato com os pais. Dependendo do quadro, pode ser que se permita a amamentação e os momentos do contato pele a pele, em que os pais pegam o bebê no colo. Em outro casos, o toque só é feito pela abertura da incubadora.
Mesmo assim, há quem passe o dia na UTI, ao lado do bebê. Foi o caso de Miriam. Seu pequeno nasceu com 1,3 kg e precisou passar dois meses e meio internado. Durante o período, ela ficava com ele das 8 às 18 horas.
"Eu tirava leite todo santo dia, nem que fosse uma gota. Tinha que tirar com a mão mesmo e deixar no potinho para colocar na sonda. Como ele não sugava, eu não tinha muito leite", relembra Miriam.
Irmãos mais velhos
Durante a primeira internação de Giovanni, Lilian passava a tarde com o bebê, enquanto o mais velho ia para a escola. No ano passado, o pequeno teve uma obstrução intestinal e voltou à UTI. Desde então, ele está internado há 9 meses.
Dessa vez, eles visitam o menor à noite, enquanto durante o dia ele fica acompanhado por uma cuidadora. "Agora, a atenção com o mais velho precisa ser muito maior", explica a mãe. Luigi já tem 10 anos.
Por causa do risco de infecções, as crianças não podem entrar na UTI como visitas. Isso é um problema porque a família precisa dar conta de dividir o cuidado com os filhos que estão longe um do outro.
"É importante criar uma rotina para que os pais possam estar aqui na UTI e dar atenção para o filho que está em casa. Essa criança também precisa de um olhar e de se sentir acolhida", aconselha a psicóloga Mariana.
Quando a internação ocorre logo que o bebê nasce, adiciona-se a questão do vínculo entre irmãos, que precisa se desenvolver sem o contato físico. Para atenuar a distância, a psicóloga incentiva os pais a nunca esquecerem de contar para o mais velho sobre a rotina do bebê, mostrar fotos, pedir para que ele faça desenhos e entregue brinquedos para deixar na UTI.
Ninguém solta a mão de ninguém
Na maioria das vezes, ter um filho internado na UTI é uma fase passageira na vida da mãe. Entretanto, o período é tão intenso e único que há muito que se trocar com quem também está passando por isso. Nos grupos de Facebook que reúnem as "mães de UTI", elas contam relatos, encontram semelhanças, informações, apoio e dicas práticas para passar pelo momento.
Na UTI neonatal, é comum que as mães criem amizades duradouras. "As que estão há mais tempo acolhem as que chegaram agora. Uma apoia a outra. Na maioria dos casos, isso ajuda porque elas dividem o que estão passando", conta a psicóloga. Lilian concorda e reforça: todo mundo está no mesmo barco.
Dia das mães?
Para quem tem o filho internado em uma UTI, nem sempre o dia das mães é uma data de ficar com junto com o pequeno. E cada uma tem sua forma de lidar com isso. "Eu procuro valorizar a minha mãe e ser a melhor mãe pros meus filhos todo dia", conta Lilian.
O que a psicóloga Mariana reforça é que esse pode ser um momento de refletir sobre o papel de mãe. "Ser mãe de UTI é dar valor para muitos outros detalhes, como o sentir e o estar junto, nem sempre com o bebê no colo. A gente precisa resgatar um pouco esse sentimento de estar do lado como um jeito de ser mãe de uma forma e em um momento diferente", finaliza.
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Este ano, escolhemos contar as histórias das mães que são heroínas, mas muitas vezes passam invisíveis por desafios que a vida não para de dar. Leia nossas reportagens.