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"Imagina a percepção da grávida: no momento de dor e insegurança do trabalho de parto, alguém chega, sobe em um banquinho e, literalmente, pula em cima da sua barriga." Isso pode parecer só uma história, mas, além de ser mais comum do que se imagina, é uma prática realizada por médicos e profissionais da saúde.
A descrição acima, feita pelo ginecologista, obstetra e precursor do programa Parto sem Medo, Alberto Guimarães, ilustra uma técnica considerada como violência obstétrica: a manobra de Kristeller.
O que é a manobra de Kristeller
A manobra de Kristeller é um procedimento obstétrico que visa acelerar a saída do bebê, no momento do parto. Para que isso aconteça, é executada uma pressão na parte de cima do útero.
"É esse movimento em cima da barriga que dá a sensação de pânico na mãe. Ela pensa: meu Deus, o que estão fazendo comigo?", afirma o ginecologista.
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Em 2017, o Ministério da Saúde lançou novas diretrizes para o parto normal contra técnicas agressivas e invasivas e reforçou que a manobra de Kristeller é contraindicada justamente pelos diversos riscos que pode trazer tanto para mãe quanto para o bebê.
Quais são os riscos?
A manobra de Kristeller pode ocasionar muitos danos físicos e psicológicos para as mães que passaram por essa violência. "Pensando na mulher, essa técnica pode causar lesões graves como ruptura de órgãos, deslocamento de placenta e fratura de costelas", afirma o obstetra.
Para o bebê, essa manobra também é muito arriscada, podendo causar traumas encefálicos. "No parto, o médico precisa saber porque o bebê parou de descer e não submetê-lo a passar por um canal que ele não caiba", ressalta Alberto Guimarães.
Por que é uma violência obstétrica
Além de ser uma prática banida pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê, publicado pelo Ministério Público, Ministério da Saúde e Unicef, estabelece que não se deve jamais empurrar a barriga da mulher para a saída do bebê.
Porém, mesmo com tantos riscos que essa manobra oferece para as mulheres e os bebês, casos de violência obstétrica ainda são comuns. Basta perguntar às mães ao seu redor se elas passaram por alguma situação de hostilidade no momento mais especial de suas vidas.
Mesmo que não haja ruptura de órgãos ou qualquer outro problema físico, os traumas psicológicos da manobra de Kristeller podem ser muitos. "Um apoio terapêutico é essencial para a mulher que passou por esse trauma", completa o obstetra.
Como evitar a manobra de Kristeller?
Não tem como a paciente impedir que o profissional realize esses procedimentos invasivos. Porém, como a violência obstétrica é muitas vezes decorrente de uma falta de consentimento na realização das intervenções, é essencial que a mulher sempre se mantenha informada sobre o que pode ou não acontecer e preparar um plano de parto junto com o obstetra.
"Funciona como uma carta de intenções onde a gestante diz como prefere passar pelas diversas fases do trabalho de parto e como gostaria que seu filho fosse cuidado após o nascimento, quais procedimentos que ela aceita e quais procedimentos prefere evitar, se possível", explica o ginecologista e obstetra, Hemmerson Henrique Magioni, em entrevista sobre violência obstétrica.
O plano pode ser uma boa ferramenta para a grávida se sentir mais segura e debater medos, receios, consequências, mesmo que, no momento do parto, o plano não seja seguido à risca.
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