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Ritmo acelerado, prazos curtos para entregas, jornadas estendidas, pressão por resultados. Essas são situações que têm se tornado cada vez mais comuns na vida das pessoas; não à toa muita gente vem sofrendo com efeitos físicos e mentais dessa "nova" rotina.
Diante desse cenário, a depressão deve ser o principal motivo de afastamentos por doença do trabalho em 2020. A aposta é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que relata que cerca de 6% da população brasileira é diagnosticada com o problema - tornando o Brasil o país mais depressivo da América Latina.
Aumento da depressão
Durante um encontro sobre saúde básica no Brasil e no mundo, promovido pelo Instituto SAB, em São Paulo, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira afirmou que a incidência de doenças cardiovasculares tendem a diminuir nos próximos anos, assim como o câncer. Entretanto, os transtornos mentais têm tendência a aumentar.
Para ele, até 30% dos indivíduos no mundo terão pelo menos um episódio depressivo durante a vida. Cada vez mais comum, a depressão (CID 10 - F33) é uma doença psiquiátrica crônica, caracterizada por tristeza profunda, perda de interesse, ausência de ânimo e oscilações de humor, que também pode levar a pensamentos suicidas.
Depressão desencadeada pelo trabalho
Diversos são os motivos que podem desencadear a depressão, incluindo o ambiente profissional. Já dentro do trabalho, a principal causa de depressão é a sensação de incapacidade para atender à demanda ou à função para qual a pessoa foi determinada, segundo uma pesquisa chinesa sobre a doença em empresas.
Outros fatores que afetam o bem-estar e desempenho no trabalho, afetando a saúde mental dos colaboradores, são:
- Jornadas de trabalho estendidas
- Percepção de má chefia
- Falta de tempo para se capacitar mais
- Ausência de perspectiva de carreira
- Assédio (sexual e moral)
- Mal-entendidos
- Conflitos profissionais entre colaboradores
- Pressão por resultados
- Prazos de entrega curtos
- Autocobrança
De acordo com o estudo, as profissões que costumam apresentar maior taxa de depressão são aquelas de contato direto com o público, como vendedores e atendentes de telemarketing.
Além disso, é possível identificar o problema através de sinais aparentemente simples no dia a dia, que devem ser observados com atenção. Os principais sintomas da depressão no trabalho são:
- Desânimo
- Desmotivação
- Falta de iniciativa
- Falta de energia
- Improdutividade
- Isolamento social
- Dificuldade de concentração
- Alterações no sono
- Alterações no apetite
- Irritabilidade
- Mau-humor
Resiliência pessoal
Nem sempre os fatores desencadeantes da depressão no trabalho estão ligados a um clima organizacional ruim. Isso porque existe a resiliência pessoal, que é a capacidade de superar e suportar pressões e situações inusitadas.
Cada pessoa tem um nível de resiliência distinto, conforme aspectos biológicos, psicológicos, culturais e educacionais. Por isso, alguns indivíduos são melhores em lidar com adversidades do que outros.
Todo trabalho apresenta algum nível de exigência e temos de lidar com isso. Só que há quem tenha dificuldade em perceber, por conta própria, que os graus de sofrimento e queixas em relação ao trabalho são exagerados.
Efeitos do estilo de vida
Para amenizar as taxas de transtornos mentais relacionados ao trabalho, Ronaldo Laranjeira afirma que é preciso incentivar uma mudança no estilo de vida das pessoas. "Não é uma questão de ter mais psiquiatras disponíveis. Mudar a rotina pode diminuir as taxas de mortalidade e de doenças", disse o psiquiatra.
Nesse sentido, algumas atitudes podem ajudar a prevenir ou mesmo amenizar a depressão decorrente do trabalho. São elas:
- Organize sua agenda
Assuma compromissos em sua agenda com prazos possíveis e seja aberto com seus superiores sobre isso. Se possível, mantenha um intervalo entre as tarefas, assim, caso haja algum imprevisto, suas demandas não ficam acumuladas e você não se sente tão angustiado.
- Saiba lidar com imprevistos
Lidar com ocorrências adversas pode decepcionar e estressar muita gente, especialmente pela falta de controle da situação. Entretanto, é preciso entender que imprevistos acontecem, como trânsito, falha de comunicação, entre outros.
Se sua resiliência com essas adversidades for grande, o ideal é procurar um psiquiatra ou psicólogo para acompanhamento. Estes profissionais são essenciais para que você possa se conhecer melhor e ultrapassar seus próprios obstáculos internos.
- Observe os outros
Analise a forma com que seus colegas lidam com os imprevistos e desentendimentos no ambiente de trabalho. Esta atitude pode fazer com que você tenha um maior repertório sobre como agir em determinadas situações estressantes.
- Fracione as férias
Para alguns, voltar de férias dá um maior gás para o recomeço da rotina de trabalho. Porém, para boa parte dos trabalhadores, este retorno é sofrível e gera sintomas depressivos.
Uma estratégia é dividir as férias em períodos menores, o que tende a amenizar o baque do retorno. Ou seja, em vez de tirar um mês de folga de uma vez, procure tirar férias de 10 dias três vezes ao ano.
- Não aceite assédios
Caso sua depressão esteja relacionada a episódios de assédio no trabalho, denuncie. Muitas vezes, não é fácil falar sobre a situação, mas tente procurar pelos profissionais de RH ou jurídico de sua empresa para abordar a situação. Se sua empresa tiver um canal anônimo de denúncias, o processo fica mais fácil.
Lembre-se: assédio é crime e pode acarretar em fobias, traumas e outras doenças crônicas para a vítima além da depressão.