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"A adoção de bebês, crianças ou adolescentes é um gesto lindo de amor incondicional", diz a psicóloga Marilene Kehdi. Muitas pessoas alimentam esse desejo desde muito cedo, porém a decisão de adotar envolve vários fatores. Todo o processo desperta muitas emoções e é permeado por trâmites burocráticos. A trajetória legal a ser percorrida até que a adoção seja formalmente concluída envolve momentos de estresse e muita ansiedade, exigindo dos futuros pais equilíbrio emocional. Como se preparar, então?
Assim como acontece na gravidez biológica, os pais adotivos - ou pais do coração - devem se preparar para a chegada do filho pensado e desejado, e cuidar dos mínimos detalhes para que tudo seja cheio de muito carinho e amor. "Quando nasce um filho, nascem também uma mãe e um pai, e isso é fato tanto para pais biológicos quanto para pais adotivos", diz Marilene.
É comum, porém, que muitos pais se questionem sobre suas capacidades e se sintam inseguros, com medo de não saber lidar com a responsabilidade. "No entanto, é preciso saber que com o tempo e com o exercício da maternidade e paternidade esses sentimentos se atenuam e prevalece o fortalecimento do vínculo, que vai se estreitando a cada dia", tranquiliza Marilene.
O psicólogo Yuri Busin, diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME), explica que um dos preparativos é a conscientização de que, assim como no caso de um filho biológico, os pais vão viver em função de uma outra pessoa. "É por isso que os pais têm de se preparar para estar em sintonia", aconselha. "Vai haver uma grande mudança de vida, e os pais devem estar aptos para isso".
Amor em construção
Assim como um filho biológico, o amor pode não aparecer de uma hora para outra: ele é construído. É por essa razão que os pais devem ter essa informação em mente, pois ela ajuda a evitar aquele sentimento de culpa.
O melhor a fazer para minimizar esse sofrimento é não idealizar esse bebê ou criança. "Quando a mulher gera um bebê biológico, ela não conhece esse bebê. Há o bebê idealizado e o bebê real, e isso vale também na adoção. Mas é claro que, quando você adota uma criança mais velha, ela já tem uma história prévia, uma bagagem que chega com ela, e isso vai demandar se conhecer de uma forma diferente", explica a neuropsicóloga Deborah Moss.
O vínculo com o bebê ou a criança, portanto, se estabelece na relação, por isso os pais não devem se preocupar antes, mas apenas estarem cientes disso. "É preciso se tornar conhecido, e nós só nos tornamos conhecidos de quem a gente convive", acalma Deborah.
E é nessa construção do vínculo que muitas surpresas boas acontecem. "Mas é preciso entender que o filho vai precisar de um tempo para surpreender, mostrar quem ele é, e assim a pessoa vai se descobrindo como mãe e pai", tranquiliza a neuropsicóloga.
Depressão pós-adoção
É importante também saber que, assim como um filho biológico, a mãe ou o pai podem desenvolver depressão, neste caso chamada de depressão pós-adoção. Se isso vier a acontecer, porém, é preciso que os pais saibam antecipadamente que a condição tem tratamento. "Nesta situação, é fundamental entender que é preciso buscar ajuda especializada de médico e psicólogo", explica Marilene.
O transtorno, segundo ela, pode se manifestar depois de um ou mais meses da concretização da adoção, e a causa envolve vários fatores. "Entre alguns sintomas da depressão pós-adoção, podemos citar: ansiedade, pânico, inadequação, sensação de sufocamento, falta de ar, culpa, perda da identidade, solidão, pessimismo, alterações no apetite, irritabilidade e falta de motivação", detalha a psicóloga.
"A mãe ou o pai pode, inclusive, sentir uma falta de conexão com a criança, o que o torna incapaz de prover o filho em todas suas necessidades físicas e emocionais". Com ajuda médica e psicológica, porém, essa barreira pode ser superada.
Prepare o básico
O bebê ou a criança necessita ser recebida com o básico, e é preciso um local preparado com carinho. No caso de crianças mais velhas, os pais podem aguardar a chegada delas para comprar brinquedos, planejar a decoração do quarto ou qualquer outra atividade, já que a criança também poderá opinar sobre o que gosta. Com isso, já acontece a primeira construção em conjunto. "É preparar muito amor, da mesma forma que para um filho biológico", diz Deborah.