Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
A felicidade de estar gerando uma criança é logo dividida com a irritação por causa dos palpites negativos que chegam sem autorização da gestante. É como se toda a privacidade desaparecesse, e a gravidez se tornasse de domínio público. Os comentários ruins, porém, podem afetar o emocional da grávida. O que fazer para se blindar desse inconveniente?
"O simples fato de a mulher estar grávida já gera um olhar diferente sobre ela", explica o psicoterapeuta Wimer Bottura. "Muitas pessoas têm intenção de ajudar e superproteger com os conselhos, mas eles normalmente geram muito mais preocupação do que tranquilidade", diz.
A psicanalista e escritora Marcia Tolotti explica que a infinidade de informações sobre a melhor forma de passar a gestação leva a mulher a uma dissonância cognitiva. "As opiniões são tantas, e muitas vezes até contraditórias - como a defesa ou a crítica sobre o parto normal ou cesariana - que a tensão é inevitável", diz. Para isso, a mulher precisa gerenciar a intensidade que a tensão das inúmeras opiniões provoca nela.
Para a especialista, há um caminho a seguir, considerando que palpites e comentários muitas vezes são manifestações de amor e carinho. "A mulher pode, então, receber o amor e neutralizar internamente a dica ou o palpite em si. Por que se incomodar com alguém manifestando carinho?", convida à reflexão Marcia Tolotti. "Se o conselho for inútil, basta descartar".
Emocional blindado: estabeleça limites
"Ser boazinha demais é péssimo", adianta Bottura. "A grávida pode confrontar um comentário negativo de forma educada e dizer: 'olha, esse comentário me faz mal e não me ajuda'. Ela pode usar da sinceridade e dizer desta forma e, se a outra pessoa não tiver tolerância à sinceridade dela, ela vai poder inclusive saber com quem está lidando", avalia o psicoterapeuta.
Para ele, o ideal é não ser submissa e boazinha. "É aí que permitimos que as pessoas nos invadam. Nem sempre elas invadem com má intenção, mas sim porque há um espaço para ocupar - e elas ocupam. A grávida deve dizer de forma educada o que pensa e se expressar", diz Bottura.
Se a gestante não se sentir à vontade para expressar o que pensa, somado ao fato de que não é possível controlar o que as outras pessoas pensam, o ideal é que ela mude a maneira de lidar com esses comentários, de forma com que eles não a machuquem. "Se o 'palpiteiro' for alguém importante na vida da gestante, dependendo da opinião isso vai pesar bastante", diz Marcia.
"E temos que considerar o inconsciente também: muitas vezes achamos que alguém não nos afeta - e talvez racionalmente não -, mas inconscientemente o significado da fala pode pesar bastante. Se isso acontecer, avalie não o comentário me si, mas qual é a relação emocional que tem com o palpiteiro", recomenda a psicanalista.
Tenha um porto seguro
É preciso ter em quem confiar durante esse verdadeiro bombardeio de conselhos, palpites e diferentes opiniões. Nesse caso, o médico obstetra que acompanha a gestante é o indicado para desempenhar esse papel imprescindível.
"O obstetra vai ser um apoio fundamental no aspecto físico e emocional diante da vulnerabilidade psíquica da gestante, desde que haja um vínculo positivo com ele", explica a psicanalista.
"Isso porque o obstetra vai ser idealizado, então vai virar uma das referências mais importantes diantes das dúvidas. Quando há um bom vínculo onde a base é a confiança, muitas dúvidas serão sanadas com o próprio médico, diminuindo consideravelmente a angústia da gestante", diz Marcia.
Além disso, a gestante pode também confiar em alguém próximo - como a mãe - desde que os conselhos dela não sejam conflitantes com o do médico obstetra. "Nas consultas, a participação do pai do bebê, ou da mãe, do tio, ou do parceiro(a), enfim, é fundamental porque o conhecimento e as dúvidas também de quem vai acompanhar essa gestante na criação do bebê favorecem um equilíbrio adequado na construção de um espaço simbólico, físico e amoroso desse novo membro da família que vai chegar".