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Mesmo com a empolgação dos pais por causa de uma segunda gestação, o filho mais velho pode não compartilhar dessa felicidade por não entender o que o espera. É por isso que é importante aprender a lidar com os ciúmes que a criança pode ter do recém-nascido e estimular a formação de vínculo entre os dois, afinal, a criança ainda não é madura o suficiente para entender que deve dividir a atenção e os cuidados com um novo irmão.
De acordo com a psicóloga Patrícia Bader, do Hospital São Luiz, os laços afetivos são construídos. "Qualquer laço é uma construção, inclusive os fraternos", tranquiliza. É por isso que é preciso acolher o sentimento do filho mais velho, já que essa novidade pode ser difícil de assimilar. Afinal, até então toda a atenção dos pais era destinada a um só. "Os pais são as primeiras pessoas responsáveis por garantir que o laço se construa", diz Patrícia.
O pediatra do Hospital Assunção Aleksandro Ferreira explica que é muito comum o irmão mais velho ter ciúmes, mas quanto maior a criança for, mais fácil será para ela elaborar esse sentimento. "É mais fácil gerenciar a crise e a atenção quando a criança está entre os dois e cinco anos de idade".
Acolher o irmão ainda na gestação
Para Patrícia, desde a gravidez é necessário incluir o irmão mais velho nas decisões e escolhas sobre o irmão mais novo. Quando os pais forem selecionar as roupinhas do bebê, por exemplo, podem deixar o filho mais velho opinar. O mesmo vale para a discussão sobre o nome, a decoração do quarto ou outros aspectos. Depois do nascimento, haverá um desdobramento do que já aconteceu.
"A criança mais velha tem de ser comunicada das coisas que estão acontecendo. O vínculo só se constrói se ela entender que participa do processo. Se isso não acontecer, ela ficará apartada e não se sentirá pertencente àquele grupo", aconselha Patrícia. "Sem esse cuidado, na visão do mais velho o bebê chegará como um intruso, como alguém que ameaça um lugar que já está ocupado".
Outro ponto importante para minimizar o impacto - e com isso estimular e aumentar o vínculo - é relembrar as fases que o mais velho também já passou, e que elas devem acontecer da mesma forma para com o mais novo. Reforçar, portanto, que ele também nasceu em uma maternidade, que logo depois veio para casa, que demandou bastante ajuda dos pais por ainda não saber fazer as coisas sozinho, que chorava bastante, entre outras atitudes comuns. Assim, a criança vai se identificar com o cuidado que o irmão mais novo deve demandar e o vínculo será fortalecido.
Deixe a culpa de lado
Uma das coisas comuns que acontecem com as crianças quando um novo membro chega à família é a regressão de uma fase de desenvolvimento. Uma criança que já havia deixado de lado a chupeta, por exemplo, busca apoio no item novamente. De acordo com Patrícia, isso pode acontecer porque a criança está em busca de segurança para atravessar essa nova fase que, para ela, não é simples.
"A regressão é um retorno a uma fase que já é conhecida em seu universo. A criança volta ao estágio anterior, estágio em que ela tinha a garantia da presença dos pais", explica a psicóloga.
É por isso que os pais não devem ser duros com a criança que está buscando esse apoio, mas sim acolher esse sentimento e, de forma brincalhona, explicar que é permitido que a criança faça essa ação, mas que isso é apenas uma brincadeira.
"Quem sabe que essa situação é transitória são os pais, é por isso que eles não podem exigir de uma criança pequena a mesma racionalidade que um adulto tem. O adulto deve dizer que agora ele cresceu e que, por exemplo, não precisa mais da mamadeira, pois hoje ele tem outras coisas e também competências que o irmão mais novo não tem ainda", aconselha Patrícia.
"Eventualmente os pais devem acolher essa regressão, garantindo que seja de forma quase jocosa, como: 'ah, então você quer ser o meu bebê? Então venha cá', e aí o adulto faz uma brincadeira", diz a especialista.
É também importante deixar a culpa de lado, pois, diante do sentimento de frustração que a criança está elaborando, é comum que os pais se sintam culpados por causa da divisão de atenção com o filho mais novo, passando a fazer as vontades do mais velho, sem estabelecer critérios. Essa atitude, porém, é prejudicial para o desenvolvimento do primeiro filho.
"É importante que os pais entendam que o processo de sofrimento e frustração é importante para o desenvolvimento de qualquer criança", diz Patrícia.
Atenção à super proteção fraterna
A neuropsicóloga Deborah Moss explica que há casos em que a criança não demonstra que está com ciúmes do irmão mais novo. No entanto, acaba agindo como superprotetora, o que, quando de forma exagerada, não é um bom sinal de vínculo fraterno.
"É aquela criança que está toda hora no quarto do bebê para ver se ele está bem e fica preocupada de ele se machucar - e às vezes isso é exacerbado. Parece um sentimento que a criança não está conseguindo colocar para fora, e resulta na superproteção por medo até do próprio sentimento, como o medo de fazer mal ao irmão", explica a neuropsicóloga.
"É como se a criança tivesse tanto medo de que acontecesse algo para o mais novo, que possa ter alguma agressividade tolhida ali e que ela está projetando de uma forma diferente no irmão", esclarece. Com isso, os pais devem conversar com a criança mais velha para acolher esses sentimentos e fazer com que ela se sinta segura.
Busque ajuda da escola
Caso a criança mais velha já vá para a escolinha, o ideal é também contar com a ajuda desses pedagogos para familiarizar o irmão com a ideia de conviver com o mais novo, explica o pediatra Aleksandro Ferreira. Com isso, a criança saberá também, por meio de outras pessoas, como será a rotina no dia a dia quando o irmão chegar ou, se o bebê já estiver nascido, o que esperar das tarefas diárias.
"Os pais podem pedir para a escola ajudar na adaptação explicando o que é um bebê para o irmão mais velho. A instituição pode levá-lo para o berçário para ver outros bebês, explicar que a rotina com o irmão mais novo será daquela forma e que o bebê deverá precisar de certos cuidados, entre outros exemplos. Isso ajuda muito", diz Aleksandro. "Se a escola estiver parceira ali na hora, é um avanço", completa.