Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro. Especialista em Ginecologia e Obstetríci...
iRedatora das editorias de beleza, família e alimentação.
Dados do Ministério da Saúde (DATASUS) de 2017 mostram que cerca de 481 mil bebês nascidos vivos no Brasil eram de mães com idade entre 10 a 19 anos, o equivalente a um nascimento por minuto.
Esse número continua alarmante em tempos atuais, mesmo entre mães de 15 a 19 anos. Segundo último relatório do Fundo de População da ONU (UNFPA), a cada mil bebês nascidos vivos, 62 são de mães nessa faixa etária, número que está acima da média mundial de 44 a cada mil.
Considerando esse alto índice que ainda persiste na realidade brasileira, a ginecologista e obstetra especialista em saúde sexual, Erica Mantelli, afirma que a gravidez na adolescência é uma questão de saúde pública e explica as principais causas desse número crescente.
Quais são as causas da gravidez na adolescência?
Algumas das principais causas da gravidez na adolescência incluem:
- Início precoce da vida sexual
- Baixa escolaridade
- Relações familiares conflituosas
- Falta de diálogo e orientação entre os pais
- Falta de informação sobre métodos contraceptivos
- Abuso sexual infantil
- Falta de acesso à educação
- Falta de saúde sexual de qualidade
"O grupo de maior risco são meninas com baixa escolaridade, com falta de informação e uma cultura de não ter espaço para conversar em casa. A alta taxa de gravidez vem muitas vezes acompanhada de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis também", explica a pediatra e consultora parental Loretta Campos
Riscos para mãe e para o bebê
Os principais riscos da gravidez na adolescência são:
- Pré-eclâmpsia
- Eclâmpsia
- Diabetes Gestacional
- Depressão
- Depressão pós-parto
- Ansiedade
- Parto prematuro
- Baixo peso ao nascer
- Obesidade ou hipertensão futura no bebê
Além de todos estas condições, que têm maior chance de acontecer entre mães adolescentes e seus bebês, a gravidez não planejada leva a um maior risco de abortamento devido à falta de preparo e nutrição adequada. Também há risco de morte decorrente da própria gravidez ou de complicações com aborto inseguro.
Erica Mantelli afirma que os riscos estão relacionados não só a saúde da mãe e do bebê mas também a qualidade de vida dessas adolescentes, pois aumenta o risco de abandono da escola, perpetuando um ciclo de pobreza.
"Diminui a chance e oportunidades para educação, pois esses adolescentes têm que começar a trabalhar antes. Essa maior dificuldade de seguir no sistema educacional gera sim um futuro mais difícil e uma insegurança no geral", acrescenta Loretta Campos.
Consequências para mãe e para o bebê
Esses riscos citados são os principais impactos para a saúde e bem estar na vida dessa nova família. Porém algumas das consequências psicológicas podem ser muito mais profundas do que se imagina.
- Depressão
- Depressão pós-parto
- Ansiedade
- Dificuldade de se relacionar
- Pode causar uso excessivo de álcool e drogas
- Sentimento de culpabilização
- Insegurança
- Sentimento de rejeição
A psicóloga Flávia Teixeira explica que essas consequências acontecem justamente por a adolescente não saber lidar com a inesperada mudança de papel. Muito cedo precisará deixar de ser filha e assumir o papel de mãe.A sensação de que a vida mudou de rumo da noite pro dia, somada a conflitos familiares constantes, afeta também o bebê, que pode, muitas vezes, se sentir um peso para a família.
"Esses sentimentos negativos podem passar para o filho como uma grande negligência. A sensação de falta de carinho pode ocasionar grandes transtornos no seu crescimento e desenvolvimento", acrescenta o psicólogo Yuri Busin.
Como prevenir a gravidez na adolescência?
Em fevereiro deste ano, a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, anunciou uma campanha para contenção do índice de gravidez na adolescência. A proposta sugere a abstinência sexual como principal forma de prevenção.
Considerando o alto índice apresentado anteriormente, segundo a psicóloga Flávia, dizer que sexo não é permitido não irá impedir que os jovens sintam desejos sexuais, curiosidade ou fazer com que simplesmente percam sua libido. "O que deve ser feito é orientar, apresentar os caminhos para a prevenção tanto de doenças quanto da gravidez inesperada", afirma.
Vale ressaltar que o Brasil está em primeiro lugar na América Latina e quarto no mundo no ranking de mundial casamentos infantis. Segundo a Unicef, 26% das adolescentes brasileiras casaram-se antes dos 18 anos.
É importante destacar também que essas garotas estão mais suscetíveis a contrair HIV. De acordo com a Unicef, uma adolescente de 15 a 19 anos é infectada a cada três minutos com o HIV. Por isso, para a pediatra Loretta, é muito necessário falar mais sobre isso.
"É necessária uma orientação diferenciada para essa faixa etária, principalmente falando das doenças sexualmente transmissíveis. A sífilis foi uma doença que cresceu muito nos últimos 5 anos. É essencial dar orientações sobre métodos contraceptivos pensando não só na gravidez, mas também na transmissão dessas doenças que mudam toda vida dos jovens", indica Loretta.
Nesse sentido, a educação sexual dentro de casa e como medida de saúde pública é o caminho.
Como orientar seu filho?
Erica Mantelli, especialista em saúde sexual, afirma que a educação sexual deve ser incentivada entre as crianças desde a infância.
- Ensine para a criança o nome das partes do seu corpo
- Ensine que ela não deve permitir que ninguém toque
- Ensine que atitude de adulto não devem ser feitas na infância
- Explique medidas de prevenção de abuso sexual
Já na pré-adolescência e adolescência é possível reforçar estas orientações:
- Reforçar a educação de como prevenir uma gravidez
- Falar sobre sexualidade
- Ensinar sobre saúde sexual
- Orientar a se proteger de infecções sexualmente transmissíveis
- Explicar as consequências, mostrando qual o impacto da gravidez na adolescência na sua saúde, na saúde do bebê e também na qualidade de vida
"Pais e escola devem ser parceiros nessa jornada, pois são os dois referenciais mais fortes dos adolescentes. O acolhimento e esclarecimento das dúvidas, receios e questionamentos por meio de espaços de trocas e reflexões trazem o adolescente para o protagonismo de suas vidas, e os fazem sentir responsáveis por seus corpos", explica a psicóloga Flávia.
Entenda melhor como falar de sexo com os filhos em diferentes idades.
Referências
Erica Mantelli (CRM:124.315)- Ginecologista e obstetra especialista em saúde sexual
Loretta Campos (CRM:10819)- Pediatra e Consultora de Aleitamento Materno
Yuri Busin - Psicólogo e doutor em neurociência do comportamento
Flávia Teixeira- Psicóloga e mestre em Saúde Coletiva