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O machismo está presente na sociedade há milhares de anos. Ao lermos um livro de história, podemos encontrar diversos relatos de opressão vividos pelas mulheres ao redor do mundo, em diferentes épocas. Porém, como disse a apresentadora Oprah Winfrey, ao ganhar o Globo de Ouro em 2018, "um novo dia está no horizonte" - e as perspectivas de mudança e luta pela igualdade de gênero estão cada vez maiores.
Apesar do crescimento dos debates sobre a importância do feminismo e os problemas enfrentados pela mulheres diariamente, o machismo ainda é reforçado e implementado todos os dias, das mais diversas maneiras. Homens (e até algumas mulheres), por não se aprofundarem no assunto, podem acabar não entendendo o significado por trás de muitas expressões ditas no cotidiano.
Portanto, para que haja um avanço no respeito pelo papel da mulher na sociedade, é preciso ter também uma maior compreensão da importância da escolha de palavras. Por isso, elaboramos um glossário educativo, a fim de contribuir para que palavras e termos machistas sejam cada vez menos usados no nosso dia a dia.
O que tirar do vocabulário
De acordo com Araceli Albino, vice presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo, as crenças moldam o psiquismo que externaliza as emoções. Um psiquismo constituído pelo meio de uma cultura machista resultará em pessoas que agem desta forma e acreditam realmente nas suas posições, pois são representações inconscientes que se cristalizaram.
Assim, certas expressões reforçam essas crenças negativas e pejorativas em relação às mulheres. Abaixo, você confere alguns exemplos e por que eles são depreciativos, precisando sair do seu vocabulário o quanto antes:
- "Tá de TPM? Tá naqueles dias?": Na maioria das vezes, essa pergunta é feita após a mulher demonstrar descontentamento ou raiva com uma determinada situação. Apesar de ser feita em tom de brincadeira, essa expressão invalida os sentimentos femininos, como se uma mulher só pudesse não estar contente com algo devido aos efeitos do seu ciclo menstrual
- "Mulher tem de se dar ao respeito": Essa frase transmite a ideia de que há um comportamento ideal que deve ser reproduzido pelas mulheres, para que, então, elas possam se tornar dignas de respeito. Porém, o ato de respeitar o próximo deve partir de cada indivíduo, independentemente das escolhas ou ações do mesmo
- "Mulher de malandro": Comumente usada para descrever uma mulher que vive num relacionamento abusivo e violento, essa expressão também causa a normalização da violência doméstica. Chamar alguém de "mulher de malandro" é entregar um título negativo à vítima, como se a escolha do parceiro determinasse a agressão sofrida por ela
- "Sabe cozinhar, já pode casar": Normalmente dita para mulheres jovens, essa frase passa a imagem de que a função de uma mulher dentro do matrimônio é servir ao marido, especialmente através do preparo de refeições. Porém, ao elogiar as habilidades culinárias de uma pessoa, é possível incentivá-la a percorrer caminhos que vão além de um casamento, como uma carreira de chef de cozinha ou a possibilidade de ganhar mais independência e morar sozinha, por exemplo
- "Mulher no volante, perigo constante": As habilidades na hora de dirigir um veículo não são determinadas pelo gênero do motorista. Logo, afirmar que uma mulher não é capaz de dirigir, apenas pelo fato de ser mulher, é considerá-la inferior e menos incapaz do que um homem
- "Eu ajudo em casa": Também falado de outras maneiras, como "eu ajudo com as crianças", esse tipo de expressão demonstra que o papel esperado de uma mãe ou esposa ainda é o de dona de casa, sendo responsável pelos filhos e outras obrigações. Os serviços domésticos e a criação dos filhos, no entanto, devem ser trabalhos divididos de forma justa entre o casal.
Araceli explica que essas frases são representações inconscientes daquele que fala e daquele que se identifica com o que foi falado. "A mulher que se identifica também tem um psiquismo que a faz acreditar nisso. Isto faz com que ela se sinta inferiorizada, não reconhecida e com baixa autoestima", afirma a psicóloga.
Palavras que você precisa entender
Com o avanço nas mudanças relacionadas à igualdade de gênero, uma série de novas expressões e palavras foram criadas para denominar situações vividas pelas mulheres. Dessa forma, essas palavras também precisam ser compreendidas para identificar e combater situações machistas. Confira:
- Mansplaining: O termo, originário da língua inglesa, faz a junção as palavras "homem" e "explicar". Ele é usado para definir situações em que um homem presume que uma mulher não entende determinado assunto e inicia uma explicação rasa sobre esse tópico, sem ao menos ter sido questionado anteriormente sobre ele
- Manterrupting: Também vinda do inglês, essa palavra é utilizada para se referir a momentos em que o homem interrompe a fala de uma mulher, discordando ou não do assunto, e passa a falar no lugar dela. Esse tipo de atitude reforça a invalidez atribuída às ideias e falas femininas, onde a opinião de um homem passa a ser a mais importante
- Objetificação: A palavra surgiu após o entendimento de que a mulher é vista como um objeto pela sociedade há muitos anos. A sexualização de tudo que envolve o universo feminino, como as partes do corpo e a escolha das roupas, intensifica a ideia de que mulheres são objetificadas e idealizadas como uma forma de conceder prazer ao homem
- Misoginia: A palavra, que já era utilizada na Grécia Antiga, significa ódio, aversão ou repulsa às mulheres e meninas. Uma pessoa é considerada misógina ao manifestar pensamentos, falas ou atitudes agressivas em relação ao público feminino, depreciando e objetificando todo um gênero
- Feminicídio: Infelizmente, casos de feminicídio ocorrem a todo momento no mundo. A palavra, que é um termo criminal, é usada para definir um homicídio feminino causado pela discriminação de gênero. Muitas vezes, esse tipo de crime é cometido após episódios de violência doméstica e opressão contra a mulher
- Cultura do estupro: A expressão é utilizada para definir a normalização da violência e do abuso sexual. Através de um histórico de objetificação e sexualização feminina, a cultura do estupro faz com que, muitas vezes, esse tipo de crime seja pouco marginalizado, com muitas pessoas apontando o papel da vítima na situação de violência, como o tipo de roupa que ela vestia.
É possível observar como todas as palavras, expressões e ideias podem ser facilmente interligadas. A escolha de frases que usamos no dia a dia, mesmo que a princípio não pareçam tão influentes, pode acabar reforçando uma mensagem extremamente negativa, intensificando comportamentos opressivos e agressivos contra as mulheres.
Por isso, uma simples mudança no vocabulário pode ajudar na luta pela igualdade de gênero, criando uma sociedade mais justa e consciente sobre os problemas enfrentados pelo público feminino.