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iNão é apenas com o colesterol que devemos nos preocupar: os triglicérides, quando emníveis elevados, também podem provocar problemas à saúde, como uma inflamação graveno pâncreas conhecida por pancreatite. Ela acontece, sendo uma das explicações, porque oexcesso de triglicérides se acumula nos vasos sanguíneos deste órgão, o que causa umaobstrução e impede que o sangue circule adequadamente. Com isso, há morte e destruiçãodas células pancreáticas1. Portanto, é preciso cuidar dos níveis de triglicérides no sangue,fazendo exames laboratoriais regularmente.
E você sabia que a pancreatite por excesso de triglicérides pode ser causada por umadoença genética rara chamada Síndrome da Quilomicronemia Familiar (SQF)? Para entendermelhor, a SQF é uma doença que atinge o metabolismo de gorduras do corpo, atrapalhandoa metabolização dos triglicérides. Em média, a doença atinge entre uma e duas pessoas emcada 1 milhão1,2.
De acordo com Raul Santos, cardiologista diretor da Unidade Clínica de Lípides do Institutodo Coração (InCor-HCFMUSP), professor associado da Faculdade de Medicina daUniversidade de São Paulo e presidente da Sociedade Internacional de Aterosclerose (IAS),geralmente há suspeita da doença quando os níveis de triglicérides estão acima de880mg/dL de sangue, e é justamente por volta desta faixa que o risco de pancreatiteaumenta consideravelmente1.
Triglicérides altos? Sinal de alerta!
Como uma das razões para os triglicérides estarem muito altos é a presença dessa alteraçãogenética que provoca a Síndrome da Quilomicronemia Familiar (SQF), é sempre precisoinvestigar se não é o caso de a doença estar presente1. Santos explica que, em uma boaparte das vezes, a doença é diagnosticada depois que a pessoa precisou ir ao pronto-socorrocom uma pancreatite em curso.
Ele explica que é importante fazer exames de rotina, já que muitas pessoas só chegam aoconsultório médico depois de ter essa complicação grave. As dores abdominais fortes queirradiam para as costas, os vômitos, o mal estar, as náuseas e a sudorese são sintomas depancreatite1.
Dieta restrita em gorduras: a chave para evitar pancreatite
Para quem tem SQF, a dieta restrita em gorduras é fundamental para ajudar no controle dadoença e evitar a sua complicação mais grave: a pancreatite. O motivo é que quem tem essa alteração genética não consegue quebrar os triglicérides da dieta, com raras exceções3,4,5.
"A exceção são os triglicérides de cadeia média5, mas a maioria dos triglicérides que estãona natureza, que são os óleos, carnes, queijos que nós comemos, são os de cadeia longa.Por isso, eles dependem dos quilomícrons para serem transportados e, na SQF, eles não sãoquebrados porque as enzimas que quebram os quilomícrons não estão funcionando",esclarece o cardiologista.
É por isso que as pessoas com SQF precisam restringir as gorduras da dieta, pois elasnaturalmente não têm a capacidade orgânica específica para quebrar os triglicérides,fazendo com que eles se acumulem no sangue, o que aumenta o risco de pancreatite4.
A nutricionista Ana Maria Pita Lottenberg, pesquisadora do Laboratório de Lípides daDisciplina de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo(FMUSP) e coordenadora do Curso de Especialização em Nutrição nas Doenças Crônicas doHospital Albert Einstein explica que é importante que quem tem SQF siga à risca arecomendação médica e nutricional a fim de evitar os episódios de pancreatite.
Na dieta, entram os vegetais, legumes, frutas com moderação (por causa do açúcarpresente nelas), grãos integrais e leites ou derivados, desde que desnatados e sem açúcaresadicionados. Bebidas alcoólicas são proibidas, já que se transformam em triglicérides noorganismo4.
No entanto, é importante sempre ter essa orientação médica antes de fazer essa dieta,afinal, lembra a especialista, a quantidade diária permitida de gorduras deve ser calculadade acordo com a necessidade calórica de cada um, sendo que as gorduras presentes variamde 10% a 15% do valor calórico diário, ou o equivalente entre 10g e 20g, dependendo dapessoa6,7.
Vale também lembrar que a dieta de quem tem SQF deve ser monitorada por um médico enutricionista, afinal, é importante garantir a presença de ácidos graxos essenciais nosalimentos do dia a dia (ômega-3 e ômega-6), além das vitaminas lipossolúveis (A, E, D eK)4,7.
Com esses cuidados e constante acompanhamento médico, diminui-se as chances depancreatites recorrentes em decorrência do excesso de triglicérides, preservando a saúdede quem tem SQF.
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Referências
1- Falko JM. Familial Chylomicronemia Syndrome: A Clinical Guide For Endocrinologists. Endocr Pract. 2018;24(8):756-763.
2 - Sugandhan S, Khandpur S, Sharma VK. Familial chylomicronemia syndrome. Pediatr Dermatol. 2007;24(3):323-325.
3 - Burnett JR, Hooper AJ, Hegele RA, et al. Familial Lipoprotein Lipase Deficiency. In: GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2020.
4 - Williams L, Rhodes KS, Karmally W. Familial chylomicronemia syndrome: Bringing to life dietary recommendations throughout the life span. J Clin Lipidol. 2018 Jul - Aug;12(4):908- 919.
5 - Rouis M, Dugi KA, Previato L, et al. Therapeutic Response to Medium-Chain Triglycerides and omega-3 Fatty Acids in a Patient With the Familial Chylomicronemia Syndrome. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 1997;17(7):1400-1406.
6 - Gotoda T, Shirai K, Ohta T et al. Diagnosis and management of type I and type V hyperlipoproteinemia. J Atheroscler Thromb. 2012;19(1):1-12.
7 - Brown WV, Goldberg I, Duell B et al. Roundtable discussion: Familial chylomicronemia syndrome: Diagnosis and management. J Clin Lipidol. 2018 Mar - Apr;12(2):254-263