Redatora especialista na cobertura de saúde, bem-estar e comportamento.
O que é complexo de Édipo
O complexo de Édipo é uma teoria criada pelo psicanalista Sigmund Freud, a partir de uma história da mitologia grega, para definir um período do desenvolvimento psíquico e da orientação do desejo humano durante a infância.
De acordo com a psicanalista Araceli Albino, ele é definido pela psicanálise como um conjunto de sentimentos amorosos e hostis que a criança desenvolve pelos pais entre os 5 e 8 anos de idade, na fase denominada fálica-genital. Trata-se de uma passagem natural da infância e pode ocorrer tanto em meninos quanto em meninas.
Quando acontece, o complexo de Édipo ajuda a criança a criar sua própria identidade, estabelecer limites do processo psíquico, do prazer, e aprender a lidar com frustrações.
História de Édipo
Freud criou o conceito do complexo de Édipo quando desenvolveu a Teoria da Sexualidade Humana, ou Teoria de Estágios Psicossexuais do Desenvolvimento. Para isso, ele se baseou no mito do rei Édipo, uma história clássica do teatro grego, em que uma criança é abandonada ainda bebê e adotada pelo rei de Corinto.
Mais velha, essa criança, de nome Édipo, consulta o oráculo de Delfos para conhecer a própria origem, mas recebe a profecia de que mataria seu pai e se casaria com a própria mãe.
Indignado com a previsão, Édipo foge de Corinto e, durante suas andanças, entra em uma briga com uma comitiva de um ancião e o mata, assim como mata os homens que acompanhavam o ancião - com exceção de um, que consegue fugir.
Pouco depois, Édipo chega a Tebas, uma cidade que enfrentava um grande perigo por conta da esfinge. Eis que Édipo resolve o enigma da esfinge e salva Tebas. Como recompensa, o rei de Tebas proclama Édipo como o novo rei da cidade e oferece sua irmã, Jocasta, viúva de Laio, antigo rei de Tebas, como esposa para Édipo.
Quinze anos se passam e uma peste chega a Tebas. Mais uma vez, Édipo consulta o oráculo de Delfos, que diz ao rapaz que o assassino de Laio precisa ser punido novamente para que a peste saia da cidade.
É neste momento que chega um mensageiro de Corinto e avisa Édipo que o assassino de Laio está mais próximo do rei de Tebas do que ele imagina. Esse mensageiro diz também que Édipo é o próprio filho do rei que está morto.
Quem também surge na história é o homem sobrevivente da comitiva que Édipo matou anos atrás e revela que foi Édipo o assassino da comitiva. O homem também revela que o ancião da comitiva era o rei Laio. Esse mesmo homem, por sinal, foi o encarregado de deixar Édipo em Corinto quando bebê.
Diante de tantas revelações, Édipo fura os próprio olhos e vaga pelo mundo, como uma forma de se punir. A rainha Jocasta se suicida ao saber da história.
"Partindo desse ponto de vista, da triangulação entre o pai, a mãe e o filho, em que o filho derrota o pai e se casa com a mãe, Freud estabelece o nome complexo de édipo", explica a psicóloga e psicanalista Juliana Picoli.
Como surge o complexo de Édipo
Diferente do mito, o complexo de Édipo não surge a partir de uma experiência traumática na vida da criança. Na psicanálise, trata-se de uma fase natural do desenvolvimento psíquico da infância. Segundo a psicanalista Araceli Albino, uma das origens do conceito está no simbolismo do falo para o ser humano.
"Uns têm e outros não. Esta trama centra-se nas figuras evocadoras de amor e ódio e no herói, e não na satisfação sexual pura e simples. É um conceito muito complexo", afirma a especialista.
Entretanto, o falo discutido no complexo de Édipo não é o mesmo que se compreende no senso comum (pênis). Segundo Juliana Picoli, da perspectiva psicanalítica, o falo é uma estrutura simbólica usada para conferir poder a uma pessoa.
"De maneira simples, durante seu desenvolvimento e no qual acontece o complexo de Édipo, a criança passa a ter a diferenciação de si para com o mundo. Ela tem a possibilidade de lidar com a frustração e com a realidade, assim como o estabelecimento dos limites. Porque ela olha para o genitor do gênero oposto e vê que essa pessoa tem tudo o que ela quer, mas o genitor do mesmo gênero aparece e diz que aquela pessoa já é dela", afirma Juliana Picoli.
Sintomas do complexo de Édipo
Os sintomas do complexo de Édipo surgem na fase fálica da criança. Esta etapa do desenvolvimento infantil foi estabelecida por Freud na Teoria da Sexualidade Humana. De acordo com o psicanalista austríaco, o ser humano vive três fases de seu desenvolvimento psíquico ao longo da infância. São elas:
- Fase oral: do nascimento até os 18 meses. Na fase oral, toda a satisfação acontece através da boca
- Fase anal: entre os 18 meses até os 3 anos. Na fase anal, a criança aprende a ter o controle sobre si e seu esfíncter. É nessa fase, por exemplo, que ela deixa de usar fralda
- Fase fálica: dos 3 aos 8 anos. Nesta última fase, é o momento em que a criança aprende a fazer uma diferenciação de si mesma com o mundo. "Segundo Freud, o papel sexual da criança é internalizado e mantido até a vida adulta. Entre os 4 e 5 anos é quando acontece o complexo de Édipo", conta Juliana Picoli.
O complexo de Édipo, entretanto, não é uma patologia psíquica que apresenta sintomas tradicionais, como irritação, dores, ansiedade ou sinais do tipo. É importante entender que se trata de um fenômeno natural do processo de desenvolvimento humano e que nem todas as pessoas vão apresentar comportamento iguais.
"Sempre há cuidado para não expressar isso de forma tendenciosa e não colocar regras. Existe, sim, algo que a teoria clássica e pura fala sobre esperado, mas não é algo que vai acontecer de forma padronizada com todas as pessoas. Porque isso tem a ver com o quanto os pais (tutores) são presentes na vida da criança", pontua Juliana Picoli.
Dessa maneira, os sintomas do complexo de Édipo expressam-se no relacionamento entre a criança e o genitor do gênero oposto.
"Segundo a teoria, a pessoa tem um comportamento mais afetuoso, deseja estar mais perto do genitor do outro gênero. O senso comum indica que os meninos são mais apegados às mães e as meninas aos pais. Isso porque, é exatamente nesse momento da vida, que a criança tem uma identificação maior com o genitor do sexo oposto", diz Juliana Picoli.
Tipos de complexo de Édipo
A título de compreensão, é possível dividir o complexo de Édipo em alguns tipos de acordo com o gênero da criança e como ela reage diante de seus genitores. Algumas expressões usadas nessa divisão são:
Complexo de Édipo masculino
No complexo de Édipo em meninos, o pai passa a ser visto como um rival e, ao mesmo tempo, como uma figura poderosa. O menino também se identifica com o pai, pois enxerga semelhanças físicas com ele.
A mãe, por outro lado, é vista como objeto de desejo pelo menino. "Ele deseja ter a mãe para si. Mas o pai, simbolicamente, estrutura um poder de limite e diz 'essa aqui já tem um lugar na minha vida'", afirma Juliana Picoli.
Complexo de Édipo feminino
Meninas também vivenciam o complexo de Édipo. Neste caso, o conceito se organiza a partir da associação da criança com a mãe e com o pai, onde ela enxerga semelhanças físicas com a genitora feminina e deseja o pai por ele ter o falo que lhe foi tirado. "A menina fica muito brava por ter perdido o dela na sua fantasia e quer ter um novamente", diz Araceli Albino.
Complexo de castração
O complexo de castração é um dos tópicos citados dentro do complexo de Édipo. Essa teoria freudiana ocorre tanto em meninos quanto em meninas e fala sobre o medo de perder algo - no caso, o falo.
Em meninas, a partir da observação das semelhanças físicas com sua mãe, a criança percebe que a genitora foi ?castrada? e deixou de ter algo (o falo), assim como ela. Por isso, há uma aproximação com o pai.
Algo parecido ocorre com o menino. "A criança olha para o pai e percebe que tem algo que os conecta; olha para a mãe e vê algo que ela não tem mais. Então, ele se afeiçoa ao pai para que o pai não lhe tire esse algo", explica Juliana Picoli.
Complexo de Electra (ou complexo de Édipo invertido)
O complexo de Electra é uma teoria desenvolvida pelo psicanalista Carl Jung, conhecida também como "complexo de Édipo invertido", por abordar o desenvolvimento psicossexual em meninas. O conceito segue o mesmo parâmetro usado por Freud no complexo de Édipo feminino, no qual as meninas desenvolvem uma identificação com a mãe desejando, inconscientemente, eliminá-la para possuir o pai.
Diagnóstico do complexo de Édipo
O complexo de Édipo não é um processo que passa por um diagnóstico tradicional, como ocorre com doenças e psicopatologias. Um dos motivos para isso é que ele é um processo simbólico, e não patológico, para o desenvolvimento humano.
Além disso, nem todas as pessoas apresentam um comportamento padronizado, como descreve a teoria freudiana. Outro ponto levantado por Juliana Picoli é que, com a sociedade contemporânea, novas formas de família vêm se apresentando, deixando para trás o "modelo tradicional" e heteronormativo de pai e mãe como tutores de uma criança.
Tratamento
O complexo de Édipo não exige tratamento específico. Isso porque não são todas as pessoas que vivenciam este período de uma forma clássica. Além disso, essa fase do desenvolvimento da criança passa de forma natural, sem riscos de complicações ou algo do tipo.
Dissolução do complexo de Édipo
A dissolução do complexo de Édipo consiste no fim dessa fase na vida da criança. De acordo com Juliana Picoli, ela ocorre quando o menino ou menina enxerga o genitor do mesmo gênero como uma figura de grande potência e sente medo de perdê-lo.
Essa criança tem sentimento ambivalente de amor e ódio pelo genitor e, para que ela não o perca, lidando com um sentimento de angústia e ameaça, dispõe de uma reação psíquica que Freud chama de processo defensivo de identificação e incorpora à própria imagem a do genitor do mesmo gênero.
"É a imagem da figura paterna, no caso dos meninos, e a figura materna, no caso das meninas. A criança procura combinar o seu comportamento com aquela imagem, tentando se fazer parecer com o genitor do mesmo sexo. Este é o momento em que ocorre a dissolução do complexo de Édipo", conclui Juliana Picoli.
Referência
Araceli Albino, presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo
Juliana Picoli, psicóloga e psicanalista