Formada em Medicina na Universidade Federal de Uberlândia, fez Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia em Ub...
iRedatora especialista em família e bem-estar, com colaboração para as editorias de beleza e alimentação.
A gravidez é um período em que a mulher precisa digerir diversas informações, tanto sobre ela e seu próprio corpo, quanto sobre o bebê e a vida após ele. Tudo isso se soma à grande carga hormonal no organismo e às conciliações do dia a dia da gestante.
Esses fatores podem desencadear sentimentos de insegurança e ansiedade — o que é normal e plausível. No entanto, quando o nervosismo passa a ser recorrente, aliado à angústia e a um sofrimento que leva até mesmo a sintomas físicos, é importante ficar atento aos sinais do que pode ser ansiedade perinatal.
Crise de ansiedade na gravidez
A ansiedade perinatal se caracteriza como uma grande inquietude, insegurança e medo que acontece no período da gravidez e até quatro meses depois do parto, de acordo com a médica obstetra Karen Rocha De Pauw, especialista em Reprodução Humana.
A ansiedade é uma característica nata e biológica do ser humano. De maneira geral, é normal que a grávida sinta ansiedade durante a gravidez, até porque essa é uma fase marcada por diversas transformações. Mas justamente por essa ser uma fase de muitas adaptações e mudanças para a gestante é que a ansiedade tem potencial para se tornar um quadro de transtorno de ansiedade e até mesmo depressão.
De acordo com Layla Campagnaro, psiquiatra da Maternidade Pro Matre, a ansiedade é um aspecto fisiológico natural, mas a gestante deve se preocupar quando passa a trazer sofrimento e prejuízo tanto no funcionamento psicológico, quanto social.
Sintomas da ansiedade na gravidez
Os sintomas da ansiedade na gravidez são denunciados, principalmente, pelo emocional instável e abalado da gestante. Dentre as queixas da grávida que podem acusar uma possível ansiedade estão:
- Sentimentos recorrentes de angústia, apreensão e tensão
- Sensação de mal-estar
- Instabilidade emocional
- Sentimento de incapacidade
- Pensamentos catastróficos
- Preocupação excessiva
- Palpitação cardíaca
- Insônia (principalmente por não conseguir parar de pensar).
Contudo, é preciso se atentar pois muitos dos sintomas da ansiedade no período perinatal podem ser confundidos com os sintomas próprios da gestação. Isso acontece principalmente em relação aos físicos, como fadiga, tremores, sudorese e falta de ar.
A psiquiatra Layla Campagnaro explica que geralmente as pacientes gestantes se queixam principalmente do "sentimento de não estar tranquila", de se sentir apreensiva o tempo todo, além de uma grande sensação de angústia e mal-estar emocional que elas não sabem explicar de onde veio.
"E junto com isso nós percebemos pensamentos catastróficos, que no período perinatal geralmente são relacionados ao bem estar do bebê, da gestação e do momento do parto", elucida a psiquiatra. Ela também cita os conflitos internos sobre ser uma boa mãe e de dar conta de cuidar ou amamentar o bebê quando nascer.
Fatores de risco da ansiedade na gravidez
Dentre os fatores de risco da ansiedade na gravidez estão:
- Escassez de rede de apoio
- Conflitos familiares e violência doméstica
- Problemas de saúde da própria gestante
- Antecedente familiar
- Presença de evento estressante na gestação (perda de um ente querido, por exemplo)
- Perdas gestacionais e neonatais recente em menos de um ano, por exemplo.
Como a ansiedade afeta a gestante e o bebê
A gestante que já tem um transtorno de ansiedade — de moderado a grave — e não se cuida durante a gestação, pode sofrer com várias consequências, tanto para ela quanto para o bebê. Das consequências da ansiedade, estão:
- Redução do fluxo sanguíneo para a placenta e para o bebê
- Aumento nos níveis de cortisol (hormônio do estresse)
- Aumento dos níveis das toxinas pré-inflamatórias
- Risco de complicações obstétricas e neonatais.
Karen ainda fala sobre como a ansiedade pode, inclusive, afetar o comportamento da gestante, desencadeando hábitos como fumar, dormir demais e comer mais doces. Isso tudo pode levar a uma diabetes gestacional e também influenciar diretamente no crescimento e desenvolvimento neonatal de uma forma negativa, por exemplo.
A psiquiatra Layla ainda alerta que a gestante com ansiedade e níveis de cortisol altos pode ter mais chance de ter trabalho de parto prolongado, sensação maior de dor em caso de parto normal, e até mesmo uma pré-eclâmpsia, hemorragia ou infecção. Os bebês que passam por uma gestação assim tendem a ser mais irritados, chorar mais e responder ao estresse de maneira alterada.
A psiquiatra enfatiza ainda que, se a mulher não tratar a ansiedade durante a gestação, o risco de evoluir para uma depressão pós-parto é muito grande, o que implica na redução de vínculo com o bebê e afeta a amamentação.
Ataque de pânico na gravidez e no parto
Karen explica que o transtorno de ansiedade na gravidez pode causar ataque de pânico, tanto durante a gestação, quanto no parto e no pós-parto. A crise pode acabar sendo camuflada durante o parto. Isso porque é difícil identificá-lo quando os seus sintomas são bastante parecidos com os sintomas do trabalho de parto.
"O ataque de pânico até mesmo na gestação pode ser muito confundido com os próprios sintomas da gestação. O diafragma já fica mais apertado, então a respiração é mais curta e mais rápida. Então, às vezes elas não sabem se isso é normal da própria gestação ou se elas estão tendo algum sofrimento a mais", esclarece.
Como controlar a ansiedade na gravidez
Hoje existem várias opções de tratamento para a grávida com ansiedade, desde graus leves, até medianos e graves. Para alívio e tratamento de quadros leves, a psiquiatra recomenda atividades como:
- Terapias
- Psicoterapia
- Yoga
- Meditação
- Exercícios físicos
- Terapia em grupo (a fim de trocar experiências e vivências com outras gestantes).
Leia mais: Yoga para gestantes: benefícios, cuidados e melhores posições
Para casos mais graves de ansiedade, é recomendado acompanhamento clínico para demais diagnósticos e um tratamento mais especializado.
O uso de medicamentos durante a gestação sempre será conversado com a paciente e com a família, com o intuito de esclarecer as dúvidas e desmistificar o seu uso. Isso porque hoje em dia já existem vários estudos e evidências científicas relacionados ao uso de psicofármacos, tanto na gestação como na amamentação.
A psiquiatra Layla ainda fala sobre a importância de deixar claro para a gestante e seus familiares os riscos de não tratar a ansiedade e os impactos dessa, tanto para a gestação quanto para a formação do bebê, assim como explicitar também os eventuais riscos do uso do fármaco.
Terapias na gravidez
Natália Lima, mentora Gestacional, Parto e Puerpério do Spaço TATVA, afirma que o tratamento terapêutico da gestante por meio de mentoria gestacional, terapia holística e medicina integrativa pode ser importante em casos de ansiedade, estresse e depressão. "Como o próprio nome indica, é uma medicina que busca a integração do paciente, ou seja, uma visão holística e completa sobre o indivíduo. São levados em consideração corpo, mente e espírito", explica.
Na terapia gestacional é preciso entender a origem dos sintomas, e buscar entender que às vezes eles vão além das questões hormonais. Natália recomenda também fazer respiração por cerca de cinco minutos pela manhã e praticar exercícios regulares de baixo impacto, conforme orientação médica. Das técnicas específicas e tratamentos complementares, ela indica:
- Medicina chinesa (acupuntura, moxa, auriculoacupuntura)
- Homeopatia
- Mindfulness
- Aromaterapia.
"Com o auxílio dessas práticas, além de cuidar da mente, do físico e das emoções da gestante, todo o processo da gestação fica mais tranquilo", finaliza Natália.
Referências
Layla Campagnaro (CRM-SP 165 632), psiquiatra da Maternidade Pro Matre
Natália Lima, mentora Gestacional, Parto e Puerpério do Spaço TATVA.