Redatora especialista em família e bem-estar, com colaboração para as editorias de beleza e alimentação.
Em um estudo realizado pela Universidade do Texas, em Austin, foi apontado que engravidar durante a pandemia de COVID-19 tem sido um dos maiores medos entre as mulheres, mais do que demonstraram sentir durante o auge da epidemia de zika vírus.
A pesquisa foi conduzida por Letícia Marteleto, professora do Centro de Estudos de População da Universidade do Texas em Austin e pesquisadora que vem estudando e levantando dados sobre os efeitos e as consequências do zika nas mulheres em idade reprodutiva.
Em um estudo que coletou dados de 2.382 mulheres do estado de Pernambuco entre 2015 e 2016, pesquisadores chegaram à conclusão de que houve um declínio no número de nascimentos no Brasil cerca de nove meses depois que o vírus zika foi associado ao nascimento de bebês com microcefalia.
Devido à pandemia do novo coronavírus, Letícia e os demais pesquisadores decidiram expandir o campo de estudo e investigar os impactos do vírus na saúde reprodutiva e comportamental das mulheres que já haviam participado dessas pesquisas anteriores.
O estudo foi financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) e foi feito em parceria com algumas instituições brasileiras como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A pesquisa em meio à pandemia
Em entrevistas aprofundadas (realizadas remotamente, por telefone ou via Zoom) com aproximadamente 56 mulheres, pesquisadores alteraram os questionários para incluir perguntas sobre o impacto do novo coronavírus nas decisões das mulheres referente à maternidade e sobre ter filhos considerando o atual cenário.
O resultado do estudo evidenciou que entre as mulheres existe muita insegurança e medo de engravidar no contexto da pandemia do COVID-19. A maioria dessas mulheres relatou que prefere não engravidar durante a pandemia dados os obstáculos que enfrentaram durante a epidemia de ZIKV.
De acordo com os dados preliminares levantados na pesquisa, a grande maioria das entrevistadas (90,2%) pensa que as mulheres não devem engravidar durante a pandemia - e metade dessas mulheres também relatou grande preocupação com a infecção por Covid-19 caso engravidassem.
Nas entrevistas recentes com mulheres sobre a gravidez durante a pandemia, a maioria - mais de 75% - citou medo e preocupação com a Covid-19 e suas consequências econômicas e para a saúde como motivos para adiar ou evitar a gravidez.
A pesquisa também apontou que a confiança das mulheres em sua capacidade de gerenciar o risco de infecção e gravidez durante a pandemia varia dramaticamente de acordo com o status socioeconômico.
"Essas descobertas pressagiam mudanças dramáticas e potencialmente duradouras na saúde reprodutiva e fertilidade das mulheres em resposta à pandemia de Covid-19, que por sua vez tem consequências demográficas em nível populacional", diz o artigo.
O estudo sugere, por fim, que sem a devida atenção e suporte, a pandemia pode aumentar o risco de gravidez indesejada, especialmente entre as mulheres mais marginalizadas, colocando-as em desvantagem durante um período de extrema vulnerabilidade.