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A gravidez é um período em que náuseas e vômitos podem acontecer com maior frequência e em intensidades variadas. A causa exata não é conhecida, mas acredita-se que isso ocorra devido ao aumento gradativo do Beta HCG, hormônio presente na gestação, e que está ligado a esse desconforto.
A maioria das grávidas começa a apresentar esse incômodo nas primeiras semanas de gestação, justamente o período em que há esse aumento hormonal e que posteriormente diminui ao final do primeiro trimestre, havendo melhora e, na maioria dos casos, até desaparecendo1.
Conviver com os enjoos durante a gestação não é uma tarefa fácil e pode até mesmo ser preocupante. A condição pode evoluir com vômitos em volume e frequência, com risco de desidratação e também carência de nutrientes, pois a gestante não consegue se alimentar ou manter a alimentação ingerida para seguir o curso de absorção no organismo1.
Nesses momentos, muitas grávidas podem receber a prescrição de ondansetrona, medicamento usado para controle de náuseas e vômitos em geral. Recentemente levantou-se a possibilidade a respeito de o fármaco estar ligado ao aumento de malformações do bebê, especificamente lábios leporinos e malformações cardíacas2.
"Baseado em dois estudos retrospectivos publicados ao final de 2018 e início de 2019, a Agência Europeia de Medicamento e a Agência Espanhola de Produtos Sanitários publicaram um alerta a respeito do aumento de malformação facial em crianças cujas mães foram medicadas com ondansetrona na gestação", diz Renato Ajeje, participante da Comissão Nacional de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
O risco levantado na época seria o possível aumento da ocorrência de defeitos faciais (lábio leporino) e malformações cardíacas. Isto levou a uma série de constatações por parte da comunidade médica que era contrária a esta posição da agência. No final de 2019, houve nova publicação de um novo estudo, realizado pelo mesmo grupo de autores anteriores, com posição oposta da conclusão inicial.
Neste estudo, autores analisaram o uso de forma mais controlada da ondansetrona endovenosa em pacientes internadas no primeiro trimestre da gestação, onde não foram observadas malformações orofaciais.
Diante disso, a Febrasgo lançou um protocolo novo em 2021, que esclarece e tranquiliza que "concluiu que a ondansetrona não é um teratógeno importante e se contrapõe à orientação prévia da Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários (AEMPS)4."
Renato Ajeje, que também é obstetra especialista em gravidez de alto risco, explica que o medicamento é comumente administrado de 4mg a 8mg - dosagem definida a critério médico e que depende da intensidade da náusea.
O especialista explica que esse medicamento pode ser indicado nos dois casos1: tanto para náuseas fisiológicas, que são mais leves, como para a chamada hiperêmese gravídica, em que as náuseas são mais fortes e os vômitos, frequentes.
É importante lembrar que grávidas não devem tomar medicamentos sem consentimento do médico, sendo fundamental a opinião do especialista na escolha de fármacos seguros e nas doses adequadas de forma individualizada.
Medidas caseiras para ajudar no enjoo
Além das medidas medicamentosas, é possível lançar mão de estratégias simples que ajudam a minimizar os enjoos. De acordo com Ajeje, a alimentação e a forma de consumir os alimentos podem colaborar1.
"Segundo o protocolo da Febrasgo, são recomendadas refeições frequentes (a cada uma ou duas horas) e em pequenas quantidades. Deve-se evitar alimentos picantes ou gordurosos e comer alimentos secos ou suaves, bem como lanches ricos em proteínas. Biscoitos pela manhã, antes de se levantar, também são indicados", detalha o especialista1.
"Se a gestante vai fazer uma ingestão de líquidos, é importante que não seja realizada com o estômago vazio, pois pode aumentar a chance de vomitar", recomenda o especialista.
Referências
1 - Duarte G, Cabral ACV, Vaz JO et al. Êmese da gravidez. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - Febrasgo. Disponível em: Acesso em 26 de março de 2021.
2 - Agencia Española de Medicamentos y Productos Sanitarios - AEMPS. Ondansetrón: riesgo de defectos de cierre orofaciales (labio leporino, paladar hendido) tras su uso durante el primer trimestre del embarazo. Disponível em: Acesso em 26 de março de 2021.
3 - Kaplan YC, Luke J, Ksin-Arslan E et al. Use of ondansetron during pregnancy and the risk of major congenital malformations: A systematic review and meta-analysis. Reproductive Toxicology. Disponível em: Acesso em 26 de março de 2021.
4 - FEBRASGO. Náuseas e vômitos na gravidez. Protocolos FEBRASGO. N.32, 2021.