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Utilizar de castigos físicos como forma de impor respeito e corrigir é um método que, embora condenado por especialistas infantis há muito tempo, ainda é, muitas vezes, adotado por pais que acreditam que essa seja uma maneira eficiente de educar os filhos. No entanto, qualquer medida corretiva física pode implicar em prejuízos à criança, segundo estudo.
Uma meta-análise, publicada na revista científica The Lancet e baseada em 69 estudos, revelou que crianças que sofrem punições físicas têm maior predisposição de desenvolverem comportamentos problemáticos ao longo da vida.
Segundo a autora da revisão, Elizabeth Gershoff, "os pais batem nos filhos porque acham que isso melhorará seu comportamento. Infelizmente para os pais que batem, a nossa pesquisa encontrou evidências claras e convincentes de que o castigo físico não melhora o comportamento das crianças e, em vez disso, o torna pior".
Impacto dos castigos físicos
Como forma de medir o impacto de surras e outros castigos físicos empregados pelos pais para disciplinar os filhos, a revisão excluiu tipos verbais e mais severos de punições físicas, que seriam caracterizadas como abuso infantil ? dessa forma, mantendo somente os castigos considerados mais "leves", como palmadas. Atos como bater com um objeto, chutar, esmurrar e sufocar foram excluídos da pesquisa.
Ao final da revisão, a maioria dos estudos comprovou um impacto negativo significativo dos castigos físicos aplicados. De acordo com Gershoff, o resultado com "a evidência mais consistente", em 13 dos 19 estudos, foi que palmadas, surras e outras formas de punição infantil criam comportamentos mais agressivos ao longo do tempo. Os resultados se baseiam na atuação de crianças independentemente de sexo, raça ou etnia.
Alguns dos estudos também revelaram que o castigo físico aumentou os problemas de conduta, de modo que as crianças apresentaram sinais de transtorno desafiador opositivo, caracterizado por acessos de raiva, rancor, vingança e comportamento argumentativo e desafiador.
Ademais, um estudo realizado na Colômbia, na América do Sul, registrou que crianças pequenas que foram castigadas fisicamente adquiriram "menos habilidades cognitivas", quando comparadas aquelas que não foram castigadas.
"Em outras palavras, à medida que o castigo físico aumentava em frequência, também aumentava a probabilidade de prever resultados piores com o tempo", elucida Gershoff.
Lei contra o castigo físico
Ainda que métodos como os registrados no estudo sejam utilizados até hoje, vigora desde 2014 no Brasil a apelidada "Lei da Palmada" (nº 13.010/2014), que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e determinou a proibição do uso de castigos físicos ou tratamentos cruéis e degradantes contra crianças e adolescentes no país.
"A criança não deve ser punida fisicamente. Deve ser educada. Se ela cresce sendo repreendida com violência, vai ser violenta também. Educação é antes de tudo, repetição", explica a terapeuta de casal e família Marina Vasconcellos, em entrevista prévia ao Minha Vida.