Redatora focada na produção de conteúdos sobre alimentação, beleza e família.
O que é doula?
Doula é uma palavra de origem grega que significa "mulher que serve". Historicamente, elas participam do processo de nascimento de um bebê com o objetivo de transmitir conforto e segurança para a gestante, especialmente no trabalho de parto. Atualmente, as doulas são profissionais que oferecem apoio físico, emocional e informativo para a mulher antes, durante e após um parto.
Em geral, quem acompanha a mulher no parto também recebe informações e apoio emocional da doula. E é importante reforçar que essa profissional pode estar presente tanto em um parto normal (ou humanizado) quanto no parto cesárea - participando de todas as etapas até a chegada do bebê.
O que a doula não faz?
Para entender o papel das doulas em um nascimento, é necessário considerar que elas não são parteiras e não realizam procedimentos obstétricos no parto, como administrar medicamentos ou auxiliar em etapas cirúrgicas (no caso da cesariana).
Seja no hospital ou em casa, a equipe do parto tem profissionais especializados nos cuidados com o bebê, no acompanhamento do trabalho de parto e no suporte técnico para a gestante. Entretanto, nenhum deles é dedicado ao bem-estar e conforto da mãe. É com esse intuito que trabalham as doulas.
Importância da doula na gravidez
Segundo Tatiana Fávaro, que atua como doula desde 2016, a missão dessa profissional junto à mulher começa ainda na gravidez, levando recursos e informações para embasar as tomadas de decisão conscientes e compartilhadas com os profissionais que a acompanham no pré-natal.
"Esse apoio é construído ao longo da gestação, inclusive no processo de empoderar a mulher gestante sobre todas as coisas que irão ocorrer no parto e todos os procedimentos que podem ser realizados. Trabalhamos toda a parte psicológica e informativa para que ela se sinta segura sem a nossa presença também", explica a doula Livia Branco.
O ato de parir envolve muitas questões físicas, emocionais e psicológicas da mulher, podendo também vir acompanhado da ansiedade pré-parto. Dessa forma, o diálogo com a doula é essencial para que a mulher se sinta preparada para o nascimento de seu bebê.
Saiba mais: Ansiedade pré-parto: como lidar?
Livia Branco lembra que muitas gestantes sentem medo do parto por não saberem exatamente o que vai acontecer. "Por isso, trabalhamos todas as possibilidades, explicando como tudo funciona. Também colocamos a parturiente em contato com outras mulheres que pariram recentemente. Então, muitas vezes, o que era um medo gigantesco, acaba se diluindo com as informações", afirma.
A profissional acrescenta ainda que o processo informativo promovido pelas doulas também tem o objetivo de fazer com que a gestante se sinta potente o suficiente para não precisar de ninguém na hora do parto. "Porém, ela deve se lembrar que pode contar com o apoio de todo mundo que vai estar junto dela no nascimento", pontua Livia.
Papel da doula durante e após o parto
No momento do trabalho de parto, seja no caso de um parto normal ou de uma cesárea, a figura médica irá cuidar dos procedimentos técnicos junto com o time de enfermagem. Muitas vezes, há também a presença de um(a) pediatra neonatologista, que fará o acompanhamento do bebê ainda na barriga e logo após o nascimento.
A doula entra em cena, neste contexto, prestando todo tipo de apoio e conforto à parturiente. Ela ajuda a mulher, por exemplo, a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto e para o parto em si, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos quentes, massagens e até o uso de bolas de exercício.
"Duas palavras que representam bem uma doula: presença e ponte. Ela nunca poderá fazer as escolhas ou a travessia por aquela mulher, mas estará ali para dar a mão para ela e mostrar caminhos", afirma Tatiana Fávaro, doula na Theia, Clínica de Saúde Centrada na Mulher Gestante. A profissional reforça que a doula não é uma psicóloga, mas oferece escuta e acolhimento emocional para a mãe no trabalho de parto.
Já no período pós-parto, a doula faz visitas à família, oferecendo apoio especialmente em relação à amamentação e aos cuidados com o recém-nascido. "No puerpério, acompanhamos o início do aleitamento, fornecendo orientação e ajudando com todo tipo de dificuldade, além de assistir os pais nas primeiras atividades com o bebê", salienta Livia Branco.
Apoio para a pessoa acompanhante
O diálogo e todo o suporte promovido pela doula envolvem também a pessoa acompanhante - ou seja, quem estará com a mulher antes e durante o parto. De acordo com Tatiana Fávaro, doula na Theia, Clínica de Saúde Centrada na Mulher Gestante, o principal foco do trabalho da profissional é a gestante, porém, inclui trazer o/a acompanhante para participar ativamente dessa busca por informações.
"Cuidar do ambiente do parto e ter a sensibilidade de perceber as demandas de quem acompanha esse processo é também função da doula. Às vezes, esse parceiro ou essa parceira vai fazer toda a diferença num momento específico da gestação, do parto ou do pós-parto. E, como algumas vezes, ele ou ela não sabem como fazer isso, a doula ajuda nessa conexão com a mulher, como ponte", explica Tatiana.
Qual é a formação de uma doula?
No Brasil, ainda há entraves burocráticos referentes ao trabalho das doulas. Isso ocorre porque não existe nenhuma associação ou conselho que represente oficialmente a categoria. "A doulagem ainda não é considerada uma profissão, mas está no Cadastro Brasileiro de Ocupações (CBO)", pontua a doula Bárbara Berdine.
Por conta desta questão, a formação das doulas é realizada em cursos preparatórios que explicam sobre os procedimentos do parto e sobre como deve ser o trabalho dessas profissionais. Bárbara é professora de um curso de doulas e explica como eles funcionam no Brasil.
"Há diversos cursos no país, variando a carga horária entre instituições. A recomendação é de, no mínimo, 120 horas de estudo, de acordo com a Convenção Nacional de Doulas, de 2021. A doula não precisa de nenhum curso anterior, entretanto, a maior parte dessas formações exigem que a pessoa seja maior de 18 anos e tenha o Ensino Médio completo", explica Bárbara.
A professora informa ainda que o treinamento também ensina terapias alternativas que as doulas podem praticar no momento do parto. "Além dos procedimentos de parto, o curso aborda aromaterapia, hipnose, massagem e a legislação relacionada a gestantes. Aprendemos também aspectos da segurança no trabalho e uso de equipamentos de proteção", esclarece.
Mesmo com a possibilidade de realizar um treinamento profissional, ainda há relatos de doulas que exercem a profissão através da prática informal, aprendida por transmissão de conhecimento oral. Por exemplo: uma mãe é doula, então sua filha se torna doula e assim consecutivamente.
Isso acontece porque, nas civilizações pré-colombianas (ou seja, indígenas de toda a América Latina), era comum a existência de uma doula no momento do parto. Em regiões mais remotas do Brasil, por exemplo, onde ainda predomina o parto natural e a atuação de parteiras, é frequente a presença de doulas de formação informal.
Doulas no SUS
Mesmo sem um registro oficial das doulas no país, segundo as diretrizes do Ministério da Saúde, a prática da doulagem é considerada como um trabalho voluntário dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, as mulheres que atuam nesta função no serviço público são selecionadas pelos hospitais para prestarem apoio a toda parturiente que solicitar este atendimento.
Desta forma, toda mulher tem o direito de ter uma doula como acompanhante durante seu parto no SUS. Isso vale até mesmo para aquelas gestantes que optarem por doulas contratadas (ou seja, que estão sendo pagas por esse serviço), conforme uma decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), de 2018.
A exemplo da cidade de São Paulo, a permissão da presença de doulas durante todo o período de trabalho de parto, do parto propriamente dito e do pós-parto, bem como nas consultas e exames de pré-natal nas maternidades, hospitais e demais equipamentos de saúde da rede municipal, é garantida pela lei nº 16.602, de 23 de dezembro de 2016.
O acesso das doulas aos hospitais da rede pública é uma forma de proporcionar uma assistência de qualidade e um atendimento mais humanizado a todas as gestantes. Assim, a experiência de parto tende a ser mais positiva para as mulheres e também para seus bebês, respeitando os desejos e as necessidades de cada família.